Amélia Janny

 
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Amélia Janny




Cláudio Lima



Amélia Janny nasceu em Coimbra a 25 de fevereiro de 1842, de uma relação do limiano  António Correia Caldeira, sobrinho do Cardeal Saraiva e coordenador da edição das suas obras (1+10 volumes, 1855 - 1878), então estudante de Direito na Lusa Atenas - "de uns seus romanticos amores da mocidade" (Pedro Eurico, aliás Pinto Osório, Figuras do Passado, pg 45) - com a jovem  estudante Maria Herculana da Silva e Veiga. Teve como padrasto o "médico muito distinto" Raimundo Francisco da Gama, que considerava "um verdadeiro pai" (Virgínia Faria Gersão, Amélia Janny, Coimbra, 1950, pg 20).

Desde muito nova se apaixonou pela poesia, escrevendo-a e divulgando-a nos círculos intelectuais e artísticos de Coimbra e Lisboa do seu tempo, gozando fama de boa recitadora. À sua volta, qual réplica da Marquesa de Alorna, voejavam os mais consagrados bardos, tais como Castilho, Teófilo Braga, Tomás Ribeiro, Antero de Quental e João de Deus. Este dedicou-lhe, mesmo, uma elegia no Campo de Flores (I vol. pg 241 da ed. de Teófilo Braga): "Oh Janny, teus ais me exaltam; / Partem d'alma e n'alma eccôam".

A convite do Conselheiro Pinto Osório, em 1910 visitou Ponte de Lima, terra de seu Pai. As belezas do Lima tocaram as delicadas cordas da sua sensibilidade, de que resultou o poema de que reproduzimos algumas quadras. "Estremosa amiga de Ponte de Lima" a considerou Reys Lemos, nos Anais Municipais de Ponte de Lima. "Nova Safo", "Rouxinol do Mondego" e "Cisne do Mondego", foram alguns epítetos com que a brindaram os seus admiradores. Deixou vasta obra, mas dispersa. Consta da obra Figuras Limianas (2008), com texto de José Cândido de Oliveira Martins. Faleceu a 19 de março de 1914,há precisamente cem anos.

A evocar a efeméride, em boa hora a Biblioteca Pública de Ponte de Lima promove uma exposição da sua vida e obra, patente ao público de 19 de março a 11 de maio.


 

Ponte de Lima

 

Não, não posso esquecer o mago encanto

D’essa terra graciosa e sonhadora,

Onde as horas e o tempo correm tanto,

Onde tudo nos prende e a vida inflora;

 

Dos montes que se elevam como altares

Onde, perto do céu, Deus nos escuta

A narração dos prantos e pesares

Da vida; na tremenda e eterna luta!

 

Do Lima preguiçoso e disfarçado,

Mudando de caminho, a cada instante,

Nas curvas serpentinas resguardado

Por margens lindas, d’arvoredo ondeante;

 

Dos Palácios as páginas gloriosas

Da sua, tão autêntica, nobreza,

Mantida, sempre, nas acções briosas,

Dos seus filhos no porte e na firmeza.

 

Bem gravada no íntimo do peito,

Bem presa na memória do meu ser

Tenho a data em que a vi! Com que respeito

Invoco d’essa tarde o esmorecer!...

 

Ponte romana, enegrecida e linda,

Banhada de luar e de poesia,

Quando te atravessei, lembro-me ainda

Como, nervoso, o coração batia!

 

Passavam auras perfumadas, leves,

E, na paz d’essa noite constelada,

Parecia-me ouvir as notas breves,

Os maviosos sons d’uma Balada!

 

Foi, talvez, devaneio, essa harmonia,

Efémero prazer diluído em pranto,

Um eco do passado... a fantasia

Bordando um sonho que eu amara tanto!...


Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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