Apresentação do livro “Que é que eu tenho, Maria Arnalda? e outros contos pícaros” – Agradecimento comovido de Couto Viana

 

Apresentação do livro “Que é que eu tenho, Maria Arnalda? e outros contos pícaros” – Agradecimento comovido de Couto Viana

 

Apresentação promovida em Lisboa pela Casa do Concelho de Ponte de Lima (CCPL), pela revista Limiana e pela Editora Opera Omnia, em 12 de Setembro de 2009, no Auditório do CITEFORMA – Centro de Formação Profissional dos Trabalhadores de Escritório, Comércio, Serviços e Novas Tecnologias, com a participação do Grupo de Cavaquinhos da CCPL.

 



António Manuel Couto Viana



 

Senhores de Ponte de Lima,
Minhas Senhoras,
Meus Senhores,
Meus Amigos:

Ouvi a meu pai, muita vez, esta irónica sentença da nossa Ribeira-Lima:

«Os fidalgos dos Arcos pedem aos seus parentes da Barca que digam aos Senhores de Ponte de Lima que ordenem aos pescadores de Viana para mandarem peixe cá para cima.»

Senhores de Ponte de Lima, Senhores de Dom heráldico, mas, também, um Dom de grandeza da Cultura de Portugal, reconhecido através dos seus altos eclesiásticos, magistrados e cabos-de-guerra, políticos de nomeada, escritores de génio, como é fácil descobrir nas páginas admiráveis de um volume de espanto que é Figuras Limianas.

Das águas fecundas do mar vianês, a banhar de encanto a minha «Cidadezinha», carinhosamente retratada por mim em recentes textos pícaros do livro de contos Que é que eu tenho, Maria Arnalda, obediente ao mando, aqui vos trago, gente de Ponte, labutando na Capital, com o talento da vossa coragem, prosseguindo, todavia, fiel ao seu berço, mantenedora dos seus costumes ancestrais e singulares, de fé e alegria das nossas procissões e romarias, danças e descantes, trilos de cavaquinhos, e o amor àquela paisagem que afoga os olhos e o coração em beleza (o rio cristalino, muros de um passado heróico, solares armoriados, igrejas de cal e oiro, alturas de montes e lisuras de veigas, vinhedos e milheirais, lirismos de verde pinho); aqui vos trago o meu pescado, palpitante e fresco, de sangue nas guelras, na forma de uma ficção salgada das ondas atrevidas que lhes dão sabor e graça.

Aqui venho, pois, na humildade do mister de «vender o meu peixe» a quem me tem e mo tem recebido com a nobreza de um coração generoso.

Quantos motivos de orgulho, o memorar eventos honrosos como este, em solo ou ambiente limianos!

Orgulho-me de, já este ano, ser galardoado pelas mãos do Senhor Presidente da Câmara de Ponte de Lima, o Engenheiro Daniel Campelo, com a medalha de Mérito Cultural, que não me constelou somente o peito, mas, sobretudo, a alma.

Orgulho-me de, na qualidade de sócio da Casa do Concelho de Ponte de Lima, haver debitado algumas palestras e intervenções sobre vultos limianos como o Conde d’Aurora e António Ferreira, em celebrações centenárias; como o poeta e romancista João Marcos, no lançamento de uma nova obra sua; como Pedro Homem de Mello, em ocasião consagradora da sua actividade folclórica.

Todas as vezes, passando, entre ovações, por alas gentis dos componentes do seu Rancho regional, trajando a rigor.

Orgulho-me de ter, hoje, a meu lado, o senhor João Gonçalves, ilustre Presidente da Casa do Concelho de Ponte de Lima, um dos promotores do valor deste encontro, como prova segura da consideração sua e da Casa que representa pelos meus trabalhos de escritor alto-minhoto.

Orgulho-me de ser publicado pela mão segura e ilustrada do Dr. José Manuel Costa, na sua Opera Omnia, sedeada em Guimarães, de onde são naturais dois mestres de Portugalidade: o poeta Guilherme de Faria e o historiador e político Alfredo Pimenta.

Orgulho-me de escutar, de novo, aquele grupo de cavaquinhos (o único instrumento que soube tocar), que haviam festejado, com fina harmonia, o meu último aniversário, o abuso dos 86 anos, num constante apelo ao balancear do pé (que não tenho), num milagre, para um vira castiço, e agora sublinha e sublima esta sessão, onde se exalta a pátria-pequena.

Orgulho-me de colaborar, com o entusiasmo da minha caneta, nas revistas O Anunciador das Feiras Novas e a Limiana, esta última sob a direcção do Senhor Dr. José Pereira Fernandes, Homem de Cultura e Homem de Acção, a quem devo a ideia destes momentos incomparáveis de afecto e sabedoria, a quem devo já uma amizade que me desvanece.

Orgulho-me das palavras eruditas e benévolas do escritor vianês Ricardo de Saavedra, inteligência rara, sensibilidade subtil, espírito fraterno, que aqui proferiu sobre os meus livros de contos, concebidos no meu ocaso, fazendo despontar a surpresa de uma manhã soalheira e vivificadora.

Orgulho-me da presença de vós, acompanhantes de uma longa vida entregue às Artes e às Letras, com a estima intelectual pelo autor e simpatia pelo homem.

Orgulho-me de me orgulhar com esta homenagem que desejei singela, como o peixe que vos exponho, pequeno e de reduzidas propriedades alimentares, pescado à linha na solidão e silêncio de um cais, fora do espavento das redes e da ruidosa traineira, mas que resultou esplendorosa.

Como agradecê-la condignamente?

Com que palavras adequadas?

Conheço apenas uma, nascida de um coração comovido, sentida e exacta, e que mais prezo:

Obrigado!

Publicado na LIMIANA - Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 14, de Outubro de 2009

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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