O poeta no seu percurso de vida
António Feijó (António Joaquim de Castro Feijó), nome que ocupa um lugar preponderante na História da Literatura Portuguesa, nasce a 1 de Junho de 1859, em Ponte de Lima, recebendo uma distinta educação para a época. Depois dos estudos preparatórios em Braga (1877), matricula-se em Direito na Universidade de Coimbra, formação concluída em 1883. Ainda estudante, publica os seus primeiros textos poéticos, revelando manifesta vocação para a escrita literária.
Em 1886, é nomeado cônsul, partindo para o Brasil, mas sendo mais tarde (1891) colocado em Estocolmo. Durante a longa permanência na Suécia, regressa a Portugal amiudadas vezes, em aprazíveis viagens de férias. Em 1900, casa com a bela jovem sueca Cármen Mercedes Joana Lewin, não deixando de a trazer à sua amada terra natal.
Morre em Estocolmo, a 20 de Junho de 1917, com 58 anos de idade, cerca de dois anos depois da morte prematura da esposa. Dez anos depois, em Novembro de 1927, os restos mortais do casal, por vontade expressa do poeta, foram solenemente transladados para o cemitério de Ponte de Lima.
Em reconhecimento, Ponte de Lima sempre soube prestar homenagem digna e sentida ao poeta que, em terras distantes, evocou os encantos da sua paisagem natal. Por isso, não surpreende a inauguração, em Junho de 1938, de um belo monumento em honra do poeta, no centro de Ponte de Lima, no início da Avenida António Feijó.
Em 1959, no I Centenário do Nascimento do poeta, e cerca de 20 anos depois da edição das Poesias Completas do autor – iniciativa de amigos e admiradores –, realiza-se uma grande exposição, acompanhada de outras realizações públicas de homenagem. Desta celebração nos dá conta o interessantíssimo catálogo Comemorações do 1º Centenário do Nascimento do Poeta António Feijó e Catálogo da Exposição Biblio-Iconográfica.
António Feijó e a sua obra poética
Feijó publica em vida diversas obras poéticas, a partir do início da década de 1880 até praticamente às vésperas da sua morte. Depois de outras publicações dispersas, edita o seu primeiro livro, Transfigurações (1882). Aí integra também o longo poema Sacerdos Magnus. Seguem-se mais dois importantes títulos: Líricas e Bucólicas (1884); e, logo depois, a breve composição de À Janela do Ocidente (1885).
Depois, sobrevém o exotismo oriental e a perfeição artesanal de um singular trabalho de tradução e de reescrita poética, com a publicação do seu Cancioneiro Chinês, em 1890. Já nos finais do século, reafirma-se o lirismo amoroso e nostálgico da Ilha dos Amores (1897). A derradeira obra publicada em vida é Bailatas (1907), num manifesto registo de humorismo e de paródia.
Já postumamente, são publicados mais dois títulos, que o poeta deixou prontos para edição, como nos confirma o seu fraterno amigo Luís de Magalhães. Em 1922, Sol de Inverno, Últimos Versos (1915), uma verdadeira obra-prima, síntese de um lirismo magoado e nostálgico, profundamente outonal e crepuscular. Finalmente, também de edição póstuma, sai a lume a sua derradeira obra, Novas Bailatas (1926), retomando os registos lírico e sobretudo jocoso e parodístico.
À margem da poesia, Feijó legou-nos também abundantes textos poéticos dispersamente publicados em inúmeras publicações, periódicas e outras, em Portugal e no Brasil – como as revistas Museu Ilustrado, Revista de Coimbra, O Instituto, Pêro Galego, A Geração Nova ou a Ilustração Portuguesa; e os jornais A Borboleta (Braga), Correspondência de Coimbra, Folha Nova (Porto), Novidades (Lisboa), A Evolução (Coimbra), A Província (Porto), A Aurora do Lima, O Comércio do Lima, entre outros títulos –, para além ter deixado um número indeterminado de inéditos. Anote-se que nem sempre assinou com o seu nome, recorrendo esporadicamente a vários pseudónimos. Como também não devem ser esquecidos os seus apreciáveis trabalhos de tradução, entre outros escritos: de August Strindberg, A Viagem de Pedro Afortunado: saga em 5 actos; de Carl Israel Ruders, Viagem em Portugal (1798-1802).
A poesia deste autor reveste-se uma considerável importância no espaço literário da transição entre os dois séculos. A comprovar isso, tem-se escrito bastante sobre a obra de Feijó, mais do que à primeira vista poderíamos imaginar. De facto, são muito diversos os trabalhos estético-críticos, visando aspectos muito variados do percurso biográfico, da criação poética, da publicação de dispersos, da relação com outros escritores e da vasta epistolografia.
Excepcionalmente, a obra poética de Feijó tem beneficiado quer de raras visões de síntese, quer ainda de perspicazes juízos de outros autores, que além de críticos, têm a luminosidade própria dos criadores. Antero de Quental, em registo epistolar, louva-lhe “uma mestria de forma verdadeiramente rara”; António Nobre refere-se a Feijó como “impecável artista”; Alberto de Oliveira distingue-o como “poeta lírico no mais alto sentido”; Delfim Guimarães considera-o “artista primoroso”; e Eugénio de Castro celebra o poeta limiano no soneto “Amor e Glória”, tal como Teófilo Carneiro no soneto “O Regresso do Rouxinol”. Mais recentemente, Urbano Tavares Rodrigues, considera António Feijó “o mais autêntico poeta da geração parnasiana de 80”; António Manuel Couto Viana cataloga-o como “grande poeta português”; e David Mourão-Ferreira aprecia-o como um poeta de vasta paleta estética e de difícil filiação.
A mais expressiva e adequada homenagem que podemos dedicar a um poeta da estatura de António Feijó é, por um lado, colocar a sua obra literária ao alcance dos leitores actuais, reeditando as suas Poesias Completas, bem como as Poesias Dispersas e Inéditas. Por outro, desenvolver iniciativas variadas (realização de um colóquio académico, publicação de estudos críticos, edição de uma fotobiografia, etc.), que promovam o conhecimento da obra apreciável deste poeta limiano, mas de inegável projecção nacional.
Ponte de Lima, 20 de Junho de 2017
Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 49, de Abr/Jun de 2017
Monumento a António Feijó, em Ponte de Lima
Bibliografia
Poesias Completas de António Feijó
Obra reeditada em 2004, com prefácio e fixação do texto de J. Cândido Martins e com o patrocínio do Município de Ponte de Lima, que apresenta a evolução estética da obra poética de António Feijó, que enquadra o lugar deste poeta limiano na História da Literatura Portuguesa e que sistematiza, no quadro da recepção crítica da sua poesia, uma actualizada bibliografia passiva.
Poesias Dispersas e Inéditas de António Feijó
Obra editada em 2005, com prefácio, fixação do texto e notas de J. Cândido Martins e com o patrocínio do Município de Ponte de Lima, que complementa a obra “Poesias Completas de António Feijó”, reunindo um número muito alargado de poemas do autor limiano, nunca antes reunidos em livro.
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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