Publicista, principal fundador, editor e director do jornal limiano Cardeal Saraiva, que completou 100 anos de publicação regular e ininterrupta, em 15 de Fevereiro de 2010
Avelino Pereira Guimarães nasceu no lugar do Cabo, em Labrujó, Ponte de Lima, em Outubro de 1879, filho de Manuel António Pereira e de sua mulher Felicidade Rosa, lavradores daquela freguesia (1).
Um grande ser humano, um grande jornalista da imprensa regional do seu tempo. Poucos se deram conta, mas defendeu com entusiasmo os valores do nosso património cultural, os monumentos e as paisagens, as festas e os costumes, os ideais humanitários e a justiça social. Em muitos dos seus escritos está o homem culto, dotado de consciência, de um humor suave e de um bairrismo palpitante, “não um bairrismo verbose, literário, tonitruante, que se perdia no ar como o estrondo do obus depois de rebentar” (2).
Convivia com grandes vultos da sociedade limiana e partilhava com o povo as tradições populares na alegria dos sons, da cor, do movimento, das luzes, dos aromas. “Vi-o na Senhora da Boa Morte”, lembra o poeta João Marcos quando se abeirou dele para publicar o seu primeiro soneto, na Correlhã, acompanhado do saudoso Pai-Paulino e outros companheiros” (3).
O Avelino Guimarães “não era um homem vulgar, não era um homem qualquer. Era, enfim, uma figura que, na pura nudez da sua incomparável simplicidade, não poderá jamais ser substituída e nem, até, verdadeiramente imitada. Mas era um homem, notoriamente um homem na dignidade e no amor ao próximo (4). Chegou a ser Administrador do Concelho entre “vários cargos administrativos, neles afirmando a sua indiscutível integridade moral e o seu vivo amor à nossa terra” (5). Nunca deixou de ser um homem simples e generoso, tinha sempre uma moeda para dar aos pobres ou uma lousa e uma pena para as crianças da escola. A sua visão do mundo era ampla e fraternal. Sonhou com a promoção do homem, com a difusão da cultura para todos.
Como empresário destemido, foi principalmente a labareda espiritual, não a material, que o animou quando introduziu entre nós a “arte do silêncio” no cinema Olympia, instalado no Teatro Diogo Bernardes, na segunda década do século XX. Também ao seu genuíno encantamento pela arte dramática se devem momentos inesquecíveis das nossas gentes em contacto com grandes actores da época, como Chaby Pinheiro e Adelina Abranches. Esteve ao leme do seu jornal, o semanário Cardeal Saraiva, durante várias décadas, até Dezembro de 1959. “Não foram as diversas intervenções da censura oficial (…) que fizeram vacilar a sua vontade férrea de prosseguir no quotidiano com mais força e mais vivo o seu querer ser livre no prosseguimento da vida jornalística”.
Faleceu na vila de Ponte de Lima, em 30 de Dezembro de 1959, sendo já viúvo de Alfredina Dantas Soares, com geração.
Notas
1 – Curiosamente, o assento de baptismo de Avelino Guimarães não regista o dia do seu nascimento, indicando apenas o mês e o ano.
2 – CORREIA, José – in Jornal Cardeal Saraiva, de 7 de Janeiro de 1960.
3 – MARCOS, João – in Jornal Cardeal Saraiva, de 9 de Janeiro de 1976.
4 – Braga, David – in Jornal Cardeal Saraiva, de 7 de Janeiro de 1960.
5 – LEMOS, Júlio de - in Jornal Cardeal Saraiva, de 7 de Janeiro de 1960.
Publicado no Jornal Cardeal Saraiva n.º 4324, de 19 de Fevereiro de 2010
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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