João Gomes de Abreu de Lima, um dos maiores Vultos da vida política e social de Ponte de Lima

 

João Gomes de Abreu de Lima, um dos maiores Vultos da vida política e social de Ponte de Lima



Daniel Campelo



Pediram-me para escrever um depoimento sobre o Dr. João Gomes d’Abreu de Lima com enfoque nas vivências partilhadas enquanto Presidente de Câmara e Amigo pessoal desde há pelo menos 35 anos. É algo que faço com muita honra e agradeço a oportunidade deste testemunho profundamente sentido, louvando a iniciativa da Revista "LIMIANA" em fazer essa homenagem justa e muito merecida de um dos maiores Vultos da vida política e social de Ponte de Lima dos últimos tempos.

Começaria por escrever aquilo que tive oportunidade de por várias ocasiões afirmar ao longo da minha actividade política enquanto Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima - de entre os vivos e da memória da minha geração, o Dr. João d’Abreu de Lima é o cidadão Limiano a quem o concelho de Ponte de Lima mais deve. É essa dívida de reconhecimento e de gratidão do colectivo do concelho que passarei a explicar em curtas palavras.

Com a explosão social e política associada ao 25 de Abril de 1974 deu-se um fenómeno, certamente esperado, de busca de crescimento económico e de aumento enorme das novas construções em todas as vilas e cidades portuguesas e mesmo numa boa parte das aldeias rurais. Ora, esse fenómeno levou a situações muito diversificadas do ponto de vista do planeamento urbano dos núcleos populacionais e mesmo do espaço rural de muito baixa densidade populacional. Foi o desencadear de um processo que haveria de trazer esperança e felicidade a muita gente e ao mesmo tempo o caos e a destruição de identidade cultural a muitas vilas e cidades portuguesas. Terras pitorescas e com enorme potencial para valorização do seu rico Património perderam tudo ou quase tudo numa década de construções desordenadas e de muito má qualidade que ainda hoje se podem ver, infelizmente, por todo o país.

Foi o mau planeamento, ou a falta deste na sua totalidade, que levou à perda irreversível de valores cada vez mais raros e cada vez mais procurados por públicos que buscam a diferença e os valores inscritos na herança cultural e arquitectónica das cidades, vilas e aldeias ou nas gentes que as habitam, independentemente do país ou do sistema político que o governa. Se esse ponto de viragem significou libertação social e política, a falta de preparação da potencial classe dirigente significou morte e destruição irreversível de muito do que era a riqueza e a identidade de um país ou das diferentes civilizações que o compunham.

A sorte não foi igual para todos e Ponte de Lima teve muito mais sorte por ter encontrado dirigentes com uma visão atenta e avisada daquilo que poderiam ser trunfos do desenvolvimento e a preservação de valores que a curto prazo haveriam de fazer toda a diferença. Essa preocupação já era patente no Presidente da Comissão Administrativa do pós 25 de Abril, o Dr. João Pimenta, e foi assim de forma determinada quando nas primeiras eleições livres o povo elegeu para Presidente da Câmara o Dr. João d’Abreu de Lima.

Como Presidente da Câmara, o Dr. João d’Abreu de Lima haveria de iniciar um percurso de protecção e de valorização do nosso Património que se desenvolveu globalmente no espírito e na acção mobilizadora da comunidade e de muitas outras individualidades e técnicos do exterior do concelho, ainda que muitas vezes incompreendidos e contestados por expressões, normais, de falta de informação ou de visões curtas que sempre caminharam ao lado do crescimento económico das cidades e dos povos.

A campanha "Ponte de Lima uma Vila a proteger e a reabilitar", lançada nos anos setenta e oitenta pelo então Presidente da Câmara, com o apoio de várias entidades externas, seria o fermento de uma forma segura de encarar o desenvolvimento e o futuro harmonioso e feliz de um concelho que soube preservar a herança cultural recebida dos seus antepassados. Essa acção daria fruto e haveria de fazer escola entre a população residente que dessa forma se organizava para que esse caminho fosse irreversível, mesmo que os futuros dirigentes não tivessem o mesmo grau de sensibilidade para esses aspectos marcantes do desenvolvimento e da qualidade de vida das cidades. Aqueles que antes criticavam a opção começaram a ser dos seus maiores defensores e hoje todos são "mestres" e "especialistas" em defesa do Património, da Cultura e do meio ambiente...

Aliás, essa forma de ver o futuro teve continuidade e consolidou-se na presidência da Câmara que sucedeu ao Dr. João d’Abreu de Lima, por intermédio de seu irmão o Dr. Francisco Maia d’Abreu de Lima. Basta lembrar a polémica decisão de fechar a Ponte Romana e Medieval ao trânsito automóvel nos anos oitenta e perguntar hoje à população se gostaria de voltar a abrir a mesma aos automóveis, de forma permanente!...

Assim se traçou um destino que haveria de colocar Ponte de Lima num plano de notoriedade nacional e internacional e à custa disso abrir um caminho de sustentabilidade e de sobrevivência dos valores que hoje fazem a maior riqueza do concelho, económica, social e cultural.

A atenção que o Dr. João d’Abreu de Lima dedicou a essa estratégia de desenvolvimento e a disponibilidade permanente para ajudar mesmo fora da Presidência da Câmara, são razões mais que suficientes para suportar a minha afirmação inicial de que, de entre os vivos, é a Ele que Ponte de Lima mais deve.

Quando em 1993 fui incumbido de preparar uma lista para candidatura aos órgãos autárquicos fui convidar para cabeça de lista à Câmara Municipal o Dr. João d’Abreu de Lima, dada a sua experiência e cotação entre a população do concelho, por tudo quanto havia feito no passado recente. O Dr. João não aceitou, justificando com a sua idade e com a necessidade de proceder a uma renovação dos dirigentes, disponibilizando-se para ir em qualquer outro lugar que eu quisesse, caso eu próprio decidisse encabeçar a dita lista. Dada a minha notória falta de seneoridade aceitou assim ser o número dois da minha lista e com isso garantir a transmissão de muito saber e de muita experiência que me permitiram realizar as minhas funções com o sucesso que foi possível. Esta atitude diz tudo do seu carácter, do espírito de colaboração e do amor que sempre manifestou à causa pública e ao Concelho de Ponte de Lima.

A acção e a visão iniciadas na era democrática pelo Dr. João deverão hoje, e cada vez mais, inspirar os actuais e novos dirigentes a prosseguir no mesmo rumo, quiçá com mais arrojo e cuidado, resistindo às tentações do belo inútil ou ao populismo das tendências de cariz meramente estético, geradas pela dificuldade de conseguir ver mais longe.

Obrigado ao cidadão, ao Amigo, ao político e ao visionário por ter visto e ajudado a ver mais longe.

 

Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 35, de Dezembro de 2013

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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