BEM-VINDO A PONTE DE LIMA
Entres por onde entrares
espera-te o sorriso
de uma flor, o tímido aceno
de hidrângeas e agapantos,
a odorosa geometria
dos jardins.
E depois, seguramente,
vais encontrar outros sorrisos
outros delicados acenos
e outros inebriantes aromas
no rosto em flor
das nossas raparigas.
Cada artéria que tomes
como as que guiam o sangue
levar-te-á aonde as ágapes
do mais plural e límpido convívio.
A rescendência a pão fresco
e vinho verde
chamar-te-á a uma mesa
de toalha branca e branca infusa.
Perguntarás porquê
mas só por mínimos gestos
ou ínfimas palavras saberás
o tamanho do nosso coração.
In: O Anunciador das Feiras Novas, 2006
RIO LIMA
(à memória de António Feijó, que me ensinou a música do nosso rio)
este rio some-se na gente
é uma instilação um êxtase
um assombro de calma
a levitar-nos
(houve centúrias que quebraram lanças
rasgaram horácio e dormiram
maritalmente com pastoras
aqui)
disseram: este rio
deitados sobre a areia
sandálias e clâmides dispersas
a águia murcha os olhos presos
ao aceno mavioso dos salgueiros
aqui disseram lethes, o esquecimento
num espelho liso e rumoroso
o céu a moldura o eco o sopro
amplo e navegável da beleza
e então veio a ponte:
pedra e alvoroço no fluir dos arcos
gramática do pulso
a redigir na pedra
a chama repentina do enlevo
foram todos aedos por contágio
encheram a praça de secretas liras
e dormem confortados nos seus ângulos
In:
- Arte de Amar Ponte de Lima
- Cancioneiro do Rio Lima, com organização e prefácio de António Manuel Couto Viana, Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2001
ÉS VILA, NÃO ÉS CIDADE
se o teu rosto revela
a graça que te ilumina,
és a gaiata mais bela
- ponte de lima menina.
tens beleza e tens vaidade,
tão gentil e sedutora;
és vila, não és cidade
- ponte de lima senhora.
tens um porte que parece
de musa, deusa ou rainha;
o tempo não te envelhece
- ponte de lima avozinha.
avó, senhora, menina,
– oh minha terra sem par! –
avó que embala e ensina
senhora que nos fascina
menina… pra conquistar…
In:
O Anunciador das Feiras Novas, 1999
Arte de Amar Ponte de Lima
NOITES DO LIMA
O rio dorme… não o acordeis,
barcos que passais sobre o seu leito.
Deixai-o sonhar assim, entre vergéis,
o sonho de seu grande amor-perfeito.
Deixai que sobre ele, à luz da lua,
a linda amada espelhe o seu amor;
um amor que é profundo mas flutua,
como flutua dos astros o fulgor.
Barcos que passais, quedai um pouco
para ver um amor sublime e louco
sobre um areal macio, de veludo…
Um rio que suspende o caminhar
porque a sua princesa o quer beijar,
com a lua, malandra, a mirar tudo…
In:
O Anunciador das Feiras Novas, 1991
Arte de Amar Ponte de Lima
NAS MARGENS DO RIO LIMA
Lava teu rosto doente
na cristalina corrente
deste rio feiticeiro…
Bebe o sabor da magia
à sombra verde e esguia
de um salgueiro…
Eterniza este momento
no rio do esquecimento
de tudo que é passageiro…
Não sonhes, que é verdade
a paz que aqui te invade
a alma de caminheiro…
E não peças mais nada a Deus
porque se há outros céus
este é o mais verdadeiro…
In:
Cancioneiro do Rio Lima, com organização e prefácio de António Manuel Couto Viana, Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2001
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Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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