Diogo Bernardes

Diogo Bernardes


 

 

SONETO CXXXIII

 

Águas do claro Lima, que corria

Pera mim, noutro tempo, claro e puro,

Que correr vejo agora turvo, escuro,

Quem afogou em vós minha alegria?

 

Cuidei que, com vos ver, descansaria

Do mal do cativeiro triste e duro,

Mas mais sem gosto aqui, menos seguro,

Me vejo do que vi em Berberia (1).

 

Mudança vejo aqui em arvoredos;

Creceram muitos, muitos acabaram;

Fez seu ofício, em tudo, a natureza.

 

Duas cousas, porém, não se mudaram:

Lugar e duro ser destes penedos,

De vossos naturais teima e dureza.

 

(1) A Berberia corresponde, na actualidade, a Marrocos. Designava-se assim por ser habitada pelos povos Berberes.

 

In: Rimas Várias, Flores do Lima, Edições Caixotim, 2009

 

 

 

FLORA – ÉCLOGA II

Limiano

 

Num solitário vale, fresco e verde,

Onde com veia doce e vagarosa

O Vez, no Lima entrando, o nome perde,

 

Numa tarde rosada, graciosa,

Quando no mar seus raios resfriava

O sol deixando a terra saudosa,

 

Ouvi a voz triste que soava

Tão brandamente ali, que parecia

Um rio que com outro murmurava.

 

O gado, que do campo recolhia

Deixando nele, por entre a espessura

Me fui chegando à triste voz que ouvia.

 

Vi Tirse e Melibeu que, na verdura,

Antre vastos salgueiros escondidos,

Choravam duras mágoas com brandura.

 

Nesta nossa ribeira ambos nacidos,

Mas como pouco nela conversaram,

Eram mais na do Tejo conhecidos.

 

Em moços foram lá, lá se criaram

Com outros de mor nome, mor estima;

De tanger, de cantar, fama cobraram,

 

Não das nossas cantigas cá de cima,

Doutras de tão bom som, qu’inda pastor

Té’gora as não cantou junto do Lima.

 

Ditosos foram eles, se na flor

De sua mocidade, os tenros peitos

Puderam defender do cego Amor.

 

Vieram de tal modo a ser sujeitos

Do brando parecer de duas belas

Ninfas, que sem olhar outros respeitos,

 

Determinado tinham já naquelas

Partes que o Tejo banha, guardar gado

Negando a sua pátria pola delas.

(....)

 

In: O Lima, Edições Caixotim, 2009

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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