Acerca de uma meritória decisão do Dr. João d’Abreu de Lima quando presidente da CM de Ponte de Lima
Convidou-me o prezado conterrâneo e amigo Dr. José Pereira Fernandes, na qualidade de diretor da Limiana, a colaborar na homenagem que nesta revista se propõe prestar ao Dr. João de Abreu de Lima. Agradeço o convite e a oportunidade que, desta forma, me é oferecida de contribuir com um depoimento de tributo a uma personalidade que muito admiro e estimo, e digna de figurar na lista dos notáveis ponte-limenses que a Limiana, louvavelmente, tem vindo a relevar nas suas páginas. Não irei traçar uma resenha dos principais acontecimentos ligados aos dois mandatos que cumpriu (1977-1985) à frente da CM de Ponte de Lima, tarefa que, certamente, nesta publicação será tratada por outros colaboradores. Quero apenas manifestar a singular importância que sempre atribuí a uma decisão do Dr. João de Abreu de Lima aquando do seu primeiro mandato como presidente da edilidade. Descrever, comentar e recordar essa sua deliberação aos leitores desta revista será, pois, a minha homenagem como ponte-limense a este ilustre cidadão.
Trata-se da deliberação que permitiu salvar o arquivo municipal que, havia décadas, estava abandonado no sótão do antigo edifício onde estavam instaladas a Câmara Municipal e a Repartição de Finanças concelhias, correndo graves riscos de deterioração, extravio, furto e incêndio.
Havia séculos que se delira da memória dos edis a deliberação das Cortes de Lisboa de 1498 para acautelar o extravio de documentos municipais, determinando que “se fizesse, em cada Câmara do reino, arca forte e boa, de que tivesse a chave o escrivão da Câmara e outra um dos vereadores”, além de outras medidas, uma delas impondo a pena de excomunhão aos infratores das ordens régias sobre este assunto.
O conhecimento dos riscos que corria o arquivo no sótão da CM de Ponte de Lima impunha medidas eficazes para os suprimir; lembrava situação semelhante àquela encontrada pelo Marquês de Pombal na Torre do Tombo depois do Terramoto de 1755, quando decidiu encarregar o guarda-mor, Engenheiro Manuel da Maia, de salvar esse tesouro nacional, tarefa que realizou com mestria. Atitude semelhante tomou o Dr. João de Abreu de Lima quando, numa acertada decisão, convidou para o lugar de guarda-mor do arquivo municipal o historiógrafo e arqueólogo José Rosa de Araújo. Com a ajuda deste colaborador, procedeu-se então à trasladação daquele conjunto de documentos amontoado das águas-furtadas do edifício camarário para a Torre da Cadeia Velha. Depois de adaptações adequadas nesta torre manuelina, aí procedeu José Rosa de Araújo à inventariação do arquivo municipal, tarefa paciente e laboriosa, mas frutuosa, pois, pouco tempo depois, esse precioso acervo começou a ser procurado por investigadores historiográficos de centros culturais portugueses e estrangeiros. Ouvi a narrativa dos acontecimentos relacionados com a empresa de pôr a salvamento o arquivo municipal a José Rosa de Araújo, nas conversas ocasionais que tivemos à “mesa do canto” da Maria Preta, o seu paradouro na pensão local onde estava hospedado. Aí, além do desfrutar da afamada cozinha durante alguns almoços que compartilhei com o guarda-mor do arquivo municipal ponte-limense, também me foi possível, nos diálogos entretanto surgidos, avaliar o brilhantismo da sua mente erudita, sobretudo em temas de limianismo.
Resta-me assinalar uma outra realização conjunta do Dr. João de Abreu de Lima e de José Rosa de Araújo: o Arquivo de Ponte de Lima, publicação quadrimestral, nascida em 1980 e lamentavelmente extinta em 1993, onde surgiram textos e iconografias de assinalável valor histórico e cultural. Depois de um interregno de já longos anos, aguarda-se que a atual edilidade considere o reinício da edição dessa revista de cultura e promotora de estudos históricos na nossa região, prestando assim oportuna homenagem aos seus fundadores.
Publicado na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 35, de Dezembro de 2013
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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