João Marcos

João Marcos


 

 

VILA FEITICEIRA

 

Este é o Lima de cristal

que se vem afadigando

para entrar em Portugal.

Desce o Lindoso, lá em cima,

e aqui chega, doce e brando,

aqui, a Ponte de Lima,

a vila que está beijando.

E por aqui vai passando

na vila que tanto mima,

sem pressa de ir mais adiante.

 

Este é o Lima enfeitiçado

pela vila feiticeira

que remoça a cada instante

e baila de feira em feira

para o rio enamorado.

 

Aqui é Ponte de Lima,

onde o Lima se esqueceu

de levar as suas pratas

à princesa lá de baixo,

e à princesa cá de cima

com muito mais gosto as deu.

Viana, tu não lhe batas,

tu não lhe batas, que eu acho

que o mar a ti te compensa.

 

Deixa a vila feiticeira,

se dela és irmã ou mãe,

que, por mais que ele não queira,

este rio é teu também.

 

Este rio enamorado,

esta vila feiticeira!

Aqui deixei o meu fado

nela preso a vida inteira!

 

E quem se não prende aqui?

Diz tu, emigrante, diz

se algum ano em que não vens

longe te sentes feliz!

(Não digas, eu vejo em ti,

vejo na cara que tens!).

Diz tu, que casaste fora,

se não te apressas, risonho,

a trazer aos pais a nora!

 

Diz tu, se não é um sonho

voltar à terra natal

depois de uma ausência de anos!

Se por azar, por teu mal

não pudeste vir agora,

se não renovas os planos

de cá vir a qualquer hora!

 

E tu, e tu, mais aquele,

e mais outro, e não tem conta

aqueles que a vida impele

para aqui, a vida monta

nesta terra feiticeira!

E aqui tem sonho e tem pão,

aqui tem casa e lareira!

 

Sonha em ficar, o de fora.

Sonham voltar, os que vão…

Se o corpo se vai embora,

aqui deixa o coração!...

 

 

 

UMA TARDE NA AVENIDA

 

Dos plátanos à sombra doce e mansa,

Mansamente descendo no horizonte,

Me quedo a ver o sol que, ali defronte,

Nas águas se retrata e se balança.

 

E enquanto, lentamente, a sombra avança

Além, da crista azul daquele monte,

– Curvo-me, respeitoso, inclino a fronte,

Adorando tão bela, eterna herança!

 

Como, outrora, os romanos se esqueceram,

Nas margens deste rio, onde beberam,

Da pátria que deixaram, tão querida,

 

Na límpida frescura destas águas

Eu vejo o sol fundir as minhas mágoas,

Esquecendo misérias desta vida…

 

 

 

A D. TERESA

 

Mulher, tu foste mãe, foste rainha.

Aqui, por estas veigas, este rio

andaste com teus condes, o teu brio,

cuidando deste povo que a ti vinha.

 

Solícita, ao clamor correndo azinha,

buscaste sempre encher peito vazio,

sentiste com teu povo o fogo e o frio,

de Ponte a bem dizer mãe e madrinha.

 

Aos límios deste carta de alforria,

nobreza, distinção e fidalguia

– primícias de uma obra começada

 

com alma de nação em crescimento…

Enfim, o merecido documento,

sinete de uma terra libertada.

 

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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