Ponte de Lima em meados do século XIX

 

Ponte de Lima em meados do século XIX

 

José Norton

 Passado o vendaval das guerras liberais e a revolta da Maria da Fonte, Ponte de Lima era, em meados do século XIX, uma terra tranquila.

Até poucos anos antes, o Minho tinha sido palco dos diversos episódios violentos que se seguiram à primeira invasão francesa e só terminaram nos anos 50 com a Regeneração.

A vila e região de Ponte de Lima, naqueles conturbados tempos, não fora poupada a perseguições e lutas sangrentas, alçadas miguelistas e prisões arbitrárias, vinganças, saques e incêndios de propriedades perpetrados pelas diversas facções políticas que se sucediam. Mas agora era a Regeneração com um longo período, senão de prosperidade, pelo menos de paz.

A antiquíssima vila era, por tradição, senhora dos seus pergaminhos e ciosa da sua independência – o foral outorgado por D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, em 1125, estipulava «nunca servirem seus moradores por mar nem por terra em nenhuma cousa, salvo com seu Rei e senhor».

Eixo comercial da maior importância, tinha a feira mais concorrida da região e era entreposto obrigatório para os produtos que através de Viana entravam e saíam da vasta região do Alto Minho.

O rio Lima, que agora nos seduz pela paisagem, a tranquilidade das suas águas e a beleza das margens, era animado na altura por permanente movimento de barcos à vela. Os barqueiros, figuras típicas e populares, tinham alcunhas curiosas, como o famosa Manuel Caramujo, e viviam de levar carradas de milho e centeio a Viana e voltar, subindo a custo a corrente, com barcadas de sal, carne seca e bacalhau para alimentar os ricos e os pobres das férteis aldeias ribeirinhas e os rudes habitantes dos contrafortes das serras da Peneda, do Soajo e até do Gerês.

Assim informava o Inquérito do Arcebispado de 1845 «barcas com peso, sendo Inverno, de 12 pipas de vinho, e não Inverno podem navegar carabelas sem perigo algum por o seu remanso ser muy quieto».

A feira, concorridíssima, animava a vila cada 15 dias. Enchia-se o areal, com grande ajuntamento de povo. A montante, a feira de gado. Os homens de chapéus de aba larga na cabeça, apoiados ao varapau, mostravam os animais bem limpinhos e enfeitados para dia de festa. Para baixo vendiam-se os barros e as camponesas alinhavam-se em duas filas paralelas vendendo toda a qualidade de produtos da terra, variando o preço, do princípio para o fim do corredor humano em que os clientes circulavam num sentido só.

No meio daquele formigueiro, gargantas refrescadas pelo vinho verde, havia de tudo: festa e alegria, ajustes de contas, varapaus a zunir, cabeças partidas e até motins e revoltas tinham já nascido em dias assim. Depois voltava tudo a uma aparente letargia, pois em Ponte de Lima nunca parava o trabalho do pequeno artesanato e a vida dos diversos comércios.

Ao longe, o imenso contorno adormecido da serra de Arga. Mais perto, a forma cónica do monte Santo Ovídio, com a sua capela branca a marcar o lugar de culto dos antigos habitantes pré-romanos. Além do rio, o casario do arrabalde e a Igreja de Santo António, arrancando daí a ponte medieval direita à vila, na margem de cá.

 Excerto do Capítulo 1 do livro Norton de Matos – Biografia.




José Norton



Passado o vendaval das guerras liberais e a revolta da Maria da Fonte, Ponte de Lima era, em meados do século XIX, uma terra tranquila.

Até poucos anos antes, o Minho tinha sido palco dos diversos episódios violentos que se seguiram à primeira invasão francesa e só terminaram nos anos 50 com a Regeneração.

A vila e região de Ponte de Lima, naqueles conturbados tempos, não fora poupada a perseguições e lutas sangrentas, alçadas miguelistas e prisões arbitrárias, vinganças, saques e incêndios de propriedades perpetrados pelas diversas facções políticas que se sucediam. Mas agora era a Regeneração com um longo período, senão de prosperidade, pelo menos de paz.

A antiquíssima vila era, por tradição, senhora dos seus pergaminhos e ciosa da sua independência – o foral outorgado por D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, em 1125, estipulava «nunca servirem seus moradores por mar nem por terra em nenhuma cousa, salvo com seu Rei e senhor».

Eixo comercial da maior importância, tinha a feira mais concorrida da região e era entreposto obrigatório para os produtos que através de Viana entravam e saíam da vasta região do Alto Minho.

O rio Lima, que agora nos seduz pela paisagem, a tranquilidade das suas águas e a beleza das margens, era animado na altura por permanente movimento de barcos à vela. Os barqueiros, figuras típicas e populares, tinham alcunhas curiosas, como o famosa Manuel Caramujo, e viviam de levar carradas de milho e centeio a Viana e voltar, subindo a custo a corrente, com barcadas de sal, carne seca e bacalhau para alimentar os ricos e os pobres das férteis aldeias ribeirinhas e os rudes habitantes dos contrafortes das serras da Peneda, do Soajo e até do Gerês.

Assim informava o Inquérito do Arcebispado de 1845 «barcas com peso, sendo Inverno, de 12 pipas de vinho, e não Inverno podem navegar carabelas sem perigo algum por o seu remanso ser muy quieto».

A feira, concorridíssima, animava a vila cada 15 dias. Enchia-se o areal, com grande ajuntamento de povo. A montante, a feira de gado. Os homens de chapéus de aba larga na cabeça, apoiados ao varapau, mostravam os animais bem limpinhos e enfeitados para dia de festa. Para baixo vendiam-se os barros e as camponesas alinhavam-se em duas filas paralelas vendendo toda a qualidade de produtos da terra, variando o preço, do princípio para o fim do corredor humano em que os clientes circulavam num sentido só.

No meio daquele formigueiro, gargantas refrescadas pelo vinho verde, havia de tudo: festa e alegria, ajustes de contas, varapaus a zunir, cabeças partidas e até motins e revoltas tinham já nascido em dias assim. Depois voltava tudo a uma aparente letargia, pois em Ponte de Lima nunca parava o trabalho do pequeno artesanato e a vida dos diversos comércios.

Ao longe, o imenso contorno adormecido da serra de Arga. Mais perto, a forma cónica do monte Santo Ovídio, com a sua capela branca a marcar o lugar de culto dos antigos habitantes pré-romanos. Além do rio, o casario do arrabalde e a Igreja de Santo António, arrancando daí a ponte medieval direita à vila, na margem de cá.

Excerto do Capítulo 1 do livro Norton de Matos – Biografia

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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