INVERNO (quadras finais)

Nasci à beira do Rio Lima,

Rio saudoso, todo cristal;

Daí a angústia que me vitima,

Daí deriva todo o meu mal.

É que nas terras que tenho visto,

Por toda a parte por onde andei,

Nunca achei nada mais imprevisto,

Terra mais linda nunca encontrei.

São águas claras sempre cantando,

Verdes colinas, alvor de areia,

Brancas ermidas, fontes chorando

Na tremulina da lua cheia…

É funda a mágoa que me exaspera,

Negra a saudade que me devora…

Anos inteiros sem primavera,

Manhãs escuras sem luz de aurora!

Ó meus amigos, quando eu morrer

Levai meu corpo despedaçado,

Para que eu possa, já sem sofrer,

Dormir na morte mais descansado.

Olhos d’Aquela que eu estremeço,

Se de tão longe pudésseis ver-me!

Olhos divinos que eu nunca esqueço,

Morro de frio, vinde aquecer-me…

In: Poesias Completas – António Feijó, Edições Caixotim, 2004, pág. 256

Para saber mais sobre António Feijó clique  AQUI

Nota:

Sobre estes versos do consagrado poeta António Feijó foi composto o Hino a Ponte de Lima pelo tenente-coronel Amílcar Morais, gravado em CD em 2007.

Nesta execução associaram-se o Orfeão Limiano, de Ponte de Lima, e a Banda Sinfónica da P.S.P. O Hino foi editado sob a orientação de José Pereira Fernandes, pela Casa do Concelho de Ponte de Lima em Lisboa. Pela minha parte, sinto-me feliz por ter sido responsável pela escolha dos versos de António Feijó, para servirem de letra do hino, e pelo arranjo que foi necessário fazer para ajustar a métrica de alguns desses versos. A fotografia que acompanha esta música é de Amândio Vieira

António Matos Reis