Poesia do filme “Ponte de Lima”

Transcrição e pesquisa: José Pereira Fernandes

 

 

 

Vem, ó luz, vem, clareia o horizonte,

a ermida branca ao pé do firmamento!

e mostra ao coração e ao pensamento

a sublime paisagem de além-monte…

 

Ao fundo o prado verde, a meiga fonte,

folhagem de arvoredo a dar-se ao vento…

Ao longe, a vila em pinha, e muito lento

o Lima a caminhar beijando a ponte.

 

Alcides Martins Pereira

 

 

 

Pastor de ovelhas me sonhei um dia

Nos montes da ribeira limiana,

- Rebanho tão formoso não havia

Em qualquer outra serra lusitana.

 

Ovelhinhas guardando e sempre vendo

Lá do alto da serra o vale em flor,

Eu era quase santo, não o sendo!

 

Tinha zagala e cão, mundo de amor...

- Mas agora (ai de mim!) não compreendo

Porque Deus me não fez também pastor!...

 

Teófilo Carneiro

 

 

 

Das lágrimas que escorrem pelos montes

com pena de um Inverno tão tristonho;

das mil canções das milenárias fontes

de moças encantadas por um sonho;

do eco dos perdidos horizontes

do paraíso é que se fez o rio

a que a dor, a esperança, o amor confio.

 

António Vieira Lisboa

 

 

 

Nasci à beira do Rio Lima,

Rio saudoso, todo cristal;

Daí a angústia que me vitima,

Daí deriva todo o meu mal.

 

É que nas terras que tenho visto,

Por toda a parte por onde andei,

Nunca achei nada mais imprevisto,

Terra mais linda nunca encontrei.

 

António Feijó

 

 

 

Pinha de flores, que a frescura anima,

Ponte de Lima, que ideal tu és!

Finges o cisne a retratar a face

Na água que nasce e te corre aos pés.

 

Sebastião Pereira da Cunha

 

 

 

Na ribeira do Lethes. Clima doce,

Paisagem deslumbrante. Pelos anos

Ante-cristãos, presume-se que fosse

O Fórum Limicorum dos romanos.

 

Bons privilégios. Carta de foral

E assento em Cortes. Diz a tradição

Que jamais houve terra em Portugal

Que ilustrasse melhor o seu brasão.

 

António Ferreira

 

 

 

Ó terra onde eu nasci, terra de encanto,

Cheia de graça, ó cheia de beleza,

Deixa afirmar, nas vozes do meu canto,

Que és a mais linda terra portuguesa!

 

Rainha da Beleza, eu te saúdo,

Eu te venero, ó deusa, em teu altar...

E rezo-te em silêncio, rezo mudo,

Cerrando os lábios p’ra melhor rezar!

 

Ó terra abençoada, onde escutei

Tanto segredo em tanta boca amada,

Conta-me os teus também, que os guardarei,

Como se fosses minha namorada!

 

Agora volta a face, olha p’r’àquelas

Que vão encher à fonte os cantarinhos…

Diz-me se pode haver caras mais belas,

Calcando o pedregulho dos caminhos!

 

Ponte de Lima, ó terra minha amada,

Com lendas a boiar no azul do espaço,

Deixa encostar-me a fronte fatigada

Na curva sensual do teu regaço!

 

Teófilo Carneiro

 

 

 

De castro velho a praça medieval,

Já com seu pelourinho, andava então

A vila nobilíssima e leal

Sempre livre na C’rôa da Nação.

 

Vila heróica! Leal aos juramentos,

Zelaste sempre o nome do país,

Defendeste na era de Trezentos

O Caro Dom João, Mestre de Avis!

 

António Ferreira

 

 

 

Feiticeira do Lima, ó terra santa,

Com casinhas caiadas de luar,

Tens o gentil donaire duma infanta

Num trono verde-luz a palpitar!

 

Teófilo Carneiro

 

 

 

Um monumento! Uma das mais formosas

Canções de pedra que há em Portugal,

O granito das eras gloriosas…

 

Trinta arcos… alguns de volta plena

Duma ponte romana primitiva

Que o seu passado mais remoto encena,

Sendo todos os outros em ogiva.

 

Ao meio dela, as águas vêm dizendo,

Ergue-se num mainel a cruz tranquila,

No seu tronco divino suspendendo

O brasão simbolístico da Vila.

 

E quase ao fim, no templo luzidio

Da Torre Velha, o santo taumaturgo

Benze o noivado dela com o rio

Que o nome dá ao limiano burgo.

 

António Ferreira

 

 

 

Moças da minha terra, ó companheiras,

Das minhas descuidadas alegrias!

Recordai-vos de mim, doces trigueiras,

Nas esfolhadas e nas romarias…

 

Cantai, cantai as límpidas cantigas,

Ao pôr do sol, nas tardes outonais;

Mas lembrai-vos de mim, doces amigas,

De mim, perdido para nunca mais!

 

António Feijó

 

 

 

Lá estão no rio, lá estão

os meus lençóis a corar.

Levam o gosto do rio,

levam o sabor da areia,

o aroma seco do estio

E a cor do ar que os branqueia.

 

António Vieira Lisboa

 

 

 

«Os fidalgos da Barca aos de Ponte de Lima

Pedem que digam aos peixeiros de Viana

Que mandem peixe p’ra riba.»

E os barcos acima no rio

não vêem

a ajuda da vela romana

que têm…

Mas à força de vara arrastados,

puxados por esses barqueiros de giba

tão possantes

como eram dantes

só os gigantes

e que dão santos como o São Cristóvão.

 

António Vieira Lisboa

 

 

 

Jardim de encantamento, obra de preço,

Fulgor e riso em fontes de cristal,

És a mais linda terra que conheço

Em todo o meu soberbo Portugal!

 

Teófilo Carneiro

 

 

 

Monte da Madalena,

Ermidinha em bucólica devesa

Onde o povo desfruta à vista plena

O fluvial trajecto

Na vastidão da sua correnteza!

Com a capela a branquejar, cimeira,

– Logradouro comum de velha estima

De todos nós retiro predilecto –

És na florida cerca da ribeira

O mirante do Lima.

 

António Ferreira

 

 

 

Velhos solares da Ribeira-Lima

Tão faustosos outrora e tão brilhantes!

Bragais enchendo as arcas até cima…

Jóias de apreço: pérolas de estima…

Finos brocados… vestes roçagantes…

 

Festas luzidas… Guizos de liteiras…

Buliçoso tropel de cavalgadas…

Seges de luxo em arraiais de feiras…

Trombetas convocando, alvissareiras,

Ao halali radiante das caçadas…

 

Vinha do Oriente, em naus e caravelas,

A porcelana azul das vossas mesas,

E ao clarão das miríades de velas,

As damas, de ombros nus e frontes belas,

Tinham um ar patrício de princesas.

 

Velhos solares! Quanto vos lamento,

Chorando o tempo em que vos conheci!

Como vós, também eu era opulento

Nobre guerreiro de pendão ao vento –

Naquela idade em que morei aqui.

 

No meu solar, que a fantasia erguera,

Qual ninho de águia, em prodigiosa altura,

Reinava permanente primavera

E uma alegria esplêndida, sincera,

Feita de fé, de ideal e de ventura…

 

Ah! Que saudades de esse tempo antigo!

Vêde quanto caí, amigos meus!

Fui um barão feudal: sou um mendigo

Que parou um instante ao vosso abrigo,

P´ra vos saudar e vos dizer adeus!

 

Campos Monteiro

 

 

 

Carro de bois chia, chia

Caminhos aldeia fora

Conta-me toda a alegria

Que dentro da aldeia mora.

 

António Pereira Cardoso

 

 

 

A minha aldeia é tão linda,

mas à tardinha, ao sol-pôr,

tem mais encantos ainda,

é como um sonho de amor.

 

Poentes de maravilha,

de lindas cores irisados,

porém a cor que mais brilha,

é a cor dos verdes prados.

 

Dlim, dlim, dlão, Avé Maria,

diz o som nesta toada

com branda melancolia,

em piedosa balada!

 

E na hora vespertina

das mudas contemplações,

lá do céu, a mão divina

abençoa os corações.

 

Geraldo Dantas

 

 

 

Aquele banco velhinho,

Metido ali num cantinho,

A ver passar a corrente

Do rio murmurador,

Guarda em si, avaramente,

Muito segredo de amor.

 

Teófilo Carneiro

 

 

 

Lima, sozinho aqui

À hora do poente vim sentar-me.

Para sonhar, sonhar ao pé de ti

E ver como na água adormecida

O sol compõe o dolorido carme

Da sua despedida.

 

António Ferreira