A dinâmica e as perspectivas do turismo religioso merecem, mais que nunca, reflexão e prática de iniciativas, no respeito por tradições e hábitos e pela imaginação criadora desta área cultural.
As múltiplas expressões do turismo respeitam o sentido humanizador da fruição do lazer, em cujo âmbito se inscreve o exercício desta sua modalidade concreta. De forma habitual, a “experiência deambulatória” reporta-se a deslocações geográficas a sítios privilegiados onde catedrais, basílicas, santuários e mosteiros, capelas em alto monte ou no vale rasante, museus diocesanos… são fisionomias de um património único. As construções por motivo da crença religiosa tornaram-se também fontes pedagógicas da mesma fé. O “tesouro dos pobres” é um “livro aberto”, ao tornar compreensível pela escultura, pintura ou arquitectura, o que se manifesta ora insondável ora pertença de um escol. A arte cria comunidade e estabelece condições iguais do soletrar. O conhecer, contemplar e reflectir face a momentos sacros e seu património de toda a ordem é motivo de aprendizagem de conteúdos catequéticos, os quais se testemunham em ambiências históricas de mais largo recorte, sempre a considerar.
Monumentos como os da catedral de Braga, da igreja matriz de Ponte de Lima, do mosteiro de Tibães ou de Rates concitam-nos a perscrutar o sentido artístico de uma mundividência cristã.
Uma visita à Catedral de Burgos ou à Igreja da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima, aconselham e reclamam a compreensão dos seus motivos culturais enquanto espaços e traduções duma convicção.
Mas, cumprido este ditame, mercê de uma pedagogia simples e próxima, outros elementos históricos nos afrontam. O âmbito e o contexto geográfico, em que situam as manifestações das produções artísticas de cariz religioso, compõem-se de outras mais razões do saber, a serem, de igual modo, decifradas. A linhagem histórica é uma escritura do tempo, onde se entrechocam canções populares e lendas, dialectos ou simples linguagem(s) de todos ou de alguns dias, narrativas e histórias, todas estas linguagens portadoras de modos de pensar e sentir, simultaneamente fonte e ancoradouro de condições sociais, sendo o seu todo um dos sempre e consagrados capítulos de uma “história das mentalidades”. Esta circularidade de saberes é o caminho mais certeiro das nossas demandas e viagem. Talvez, pelo cerzir de pano tão complexo, é um pouco árduo os peregrinos dele se reclamarem. Por via disso, o turismo religioso exige razões de saber interdisciplinar, um olhar convergente sobre os variados estratos do terreno e uma transmissão própria que ajude “o ver” e o lobrigar de horizontes escondidos. O fascínio decorre desta visão, nunca dos pés cansados ou de noites apressadamente dormidas.
Parece-me, pois, que neste capítulo versado, á semelhança de outros, deveríamos abrir a outras e parentescas dimensões a nossa “peregrinação interior” e exterior, cuidando de saber como vivem as comunidades humanas, nas suas privações e expectativas, nas suas aprendizagens normais, na recusa ou aceitação de superstições e preconceitos, no culto de fatalismos e de demais meandros invisíveis, no exercício de iniciativas inovadoras, na sensibilidade à cultura antropológica, zelosa pelo humano e pelo humanizador, no repúdio de desumanidades e de afrontas, enquanto restos de barbáries já sepultadas. Esta educação global do “olhar” transforma o turista num convivente e num inconformista transformador da civilização.
Uma visão artística, inspirada numa cultura de fé cristã ou de outras concepções religiosas ou simplesmente humanas, nunca poderá exilar-se de situações históricas, onde despertam criações artísticas de maior ou menor relevo. Passear não é distrair-se… do mais fundamental.
Plantar uma árvore, cuidar de um jardim, abrir uma escola, acompanhar idosos, defender crianças, institucionalizar o debate são e crítico… são vários “discursos” de uma só língua; sem nunca esquecer (não por uma questão de moda) o ambiente e a sua defesa e qualificação.
Darmo-nos conta deste pluralismo é praticar a fruição do “espectáculo” dum agregado humano, onde desembarcámos por motivo de aprendermos com Rembrandt ou algum pintor lusitano do século de ouro.
Desde o diálogo de culturas até ao encontro de pessoas, de todo este húmus se alimenta o turismo religioso. Neste, e noutros quadrantes, sempre me repugnou o assomar do dinheiro ao janelo da beleza de lugares e saberes. Agora que o metal desse quilate vai perdendo o vigor, com o consequente receio em dispender em mau pano o que nos fará falta para nos cobrirmos, mais um motivo se soergue em ordem a não perdermos as razões de pensar e de viver.
Nunca poderá enfraquecer “a capacidade de tornar acessível todo um mundo de saberes e experiências (culturais, espirituais, sociais, económicas, etc.) em que se cruzam o património artístico e histórico e o património natural (…). Arte, arquitectura, música e espiritualidade andam (…) a par da conservação da biodiversidade, do incremento da “massa crítica”, da integração e da inovação”. (J. António Falcão. Notícias de Beja, 20.X.2011, p. 6).
Ponte de Lima, nas suas virtualidades únicas, sempre foi exemplo para quem se quiser dedicar a ser andarilho de tais questões!
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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