Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, de 1994 a 2009
Solicita-me a direcção do Portal Ponte de Lima Cultural, na qualidade de Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, algumas palavras sobre o meu Amigo Eng.º Daniel Campelo, exercício que se torna bastante difícil, sobretudo, tendo em conta o trabalho de dedicação a Ponte de Lima que realizou ao longo de muitos anos.
Recorro a umas palavras que escrevi em 2009, aquando de uma homenagem que um grupo de cidadãs e de cidadãos lhe prestou e que são, ainda hoje, de toda a actualidade e pertinência.
Conheci o Eng.º Daniel Campelo na década de 80 no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, enquanto estudantes (às vezes) de agronomia.
Já aí, o Daniel Campelo sobressaía e notava-se que era uma personalidade fora do comum, com uma grande dinâmica, com projectos e ideias inovadoras, rebelde, com garra e fortemente reivindicativo, não para si, mas para a academia.
Foi essa notoriedade que o levou a ser eleito facilmente Presidente da Associação de Estudantes de Agronomia, implementando um conjunto de iniciativas que até aí estavam completamente esquecidas, como é o caso da Semana Académica de Lisboa, com particular destaque para a Garraiada, ideia dele, que enchia completamente a Praça de Touros do Campo Pequeno, onde actuava um grande mestre da tauromaquia da actualidade. Refiro-me ao Grande El Planeta, nome pelo qual era conhecido na altura esse grande vulgo da tauromaquia nacional que, por motivos alheios à sua vontade, teve que abandonar a actividade mais cedo, passando a ser conhecido de novo apenas por Daniel Campelo.
Foi com ele também que a equipa de râguebi de Agronomia começou a ter condições de treino e de jogo para se tornar uma das melhores equipas de râguebi nacionais, vindo, inclusivamente, a alcançar mais tarde o título de campeã nacional.
Daniel Campelo começava já aí a fazer a diferença e a ser reconhecido quer por colegas, quer pelos próprios Professores que o admiravam e, mais do que isso, o respeitavam.
Sei que antes, também no decurso do seu percurso de estudante, tinha já deixada bem marcada a sua passagem, de que muitos se recordam, no Liceu de Viana do Castelo, numa época em que as lutas e discussões ideológicas se travavam empenhadamente e de forma dedicada.
Muitos o encontraram no auge da sua juventude envolvido em campanhas eleitorais, em atitudes de franca e sã convivência democrática, num apego total às suas convicções, acções que muito contribuiriam, mais tarde, para a afirmação pessoal e para alicerçar o político que nessa altura já se adivinhava.
Voltemos, contudo, aos agrónomos.
Ironia do destino, havíamos de nos reencontrar em Ponte de Lima, ambos recém-licenciados em Agronomia, ele regressando à Terra que sempre gostou e eu vindo para uma Terra que apenas conhecia das férias de Verão.
Começava aí a sua carreira de Eng.º Agrónomo, ingressando como Docente na Escola Superior Agrária de Ponte de Lima, indo para Inglaterra, Universidade de Reading, para aí fazer o seu mestrado na área da silvo-pastorícia, vendo outras realidades que, por certo, foram determinantes na sua curta carreira de docente bem como na sua carreira de autarca ao longo dos últimos 20 anos.
Em 1989 é eleito Vereador e em 1993 Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima com apenas 33 anos, sendo empossado do cargo em Janeiro do ano seguinte.
A partir daí é todo um percurso que todos conhecemos, não apenas a nível local, mas também a nível regional e nacional. Convém, contudo, recordar, um ou outro ponto digno de registo, certas actividades que ficarão na memória de todos e principalmente na História de Ponte de Lima. E, sem dúvidas, na História Nacional, principalmente na que diz respeito ao Parlamentarismo Português.
Daniel Campelo, nos finais dos anos 80 do século XX, é um jovem preocupado com os destinos do seu Concelho e sente que pode dar um grande contributo para o elevar e colocar num local de destaque em termos nacionais. Aparece, então, envolvido num projecto político a que iria estar ligado durante duas décadas e cujas marcas dificilmente Ponte de Lima poderá esquecer. Daniel Campelo, um Autarca Jovem, de e para a juventude.
Logo em 1990, aquando da tomada de posse como Vereador, Daniel Campelo inicia um profundo trabalho, que hoje tem os seus frutos à vista de todos, na área da Educação, promovendo contactos com os Docentes, principalmente ao nível do ensino básico, no sentido de procurar estreitar as relações Escolas – Autarquia para uma melhoria das condições do ensino às nossas crianças de então, mulheres e homens dos dias de hoje. Era o Professor Autarca ou o Autarca Professor, pois as influências pedagógicas foram sempre um marco em toda a sua actividade política.
É nesse mandato que assume a Presidência da Comissão de Festas das Feiras Novas e muitas inovações surgem, fruto, estou convicto, de vivências externas e experiências colhidas em locais que visitou. Sem descaracterizar as festas, definiu-lhes um cunho marcadamente local e acima de tudo rural. Permitam-me brincar de novos com as palavras, pois temos aqui o Agrónomo Autarca ou o Autarca Agrónomo
É em 1990 que me lança um desafio para as Feiras Novas. Reactivar, dentro do programa das festividades, o Concurso Pecuário que, anos antes, era uma característica ímpar das festas e que atraía centenas de entusiastas e curiosos. Mão à obra, com o seu imprescindível apoio e, mais ainda, com autênticas injecções de dinâmica e de incentivo, em conjunto, lançámos o Concurso que hoje é uma realidade obrigatória nas Feiras Novas.
Lança, também neste período, os espectáculos de fados e de tunas na Capela das Pereiras, embrião daquilo que hoje é um ex-libris das festas – a animação nocturna que envolve milhares de jovens na zona do Centro Histórico durante as Feiras Novas.
Era o Daniel Campelo entusiasta das festas do seu Concelho, ele que tinha sido figurante a cavalo em Cortejos Históricos de anos anteriores. Certamente, que muitos se lembrarão das figuras históricas que ele encarnou, tal como mais tarde fez aquando da representação da Lenda do Rio Lethes – o Rio do Esquecimento, atravessando o Rio Lima a representar um alto dignitário romano. O Daniel Campelo orgulhoso das suas raízes e que tudo faz por Ponte de Lima.
Também como Vereador inicia um trabalho pioneiro em políticas desportivas, de juventude e de animação cultural, entre muitas outras. Não esqueçamos que foi ele que implementou as agendas culturais de Ponte de Lima – as desse tempo são já alvo de colecção e fazem parte das buscas dos bibliófilos ponte-limenses.
Em 1994 tomou posse do cargo de Presidente da Câmara Municipal e não posso iniciar aqui a lista de obras que implementou, pois, certamente, amanhã por esta hora, todos os que me lêem estariam, exaustos, a apreender o interminável elenco de acções, projectos e infra-estruturas que Ponte de Lima viu nascer ao longo dos quatro trabalhosos e dedicados mandatos que exerceu.
Há, no entanto, algumas, marcantes, que não devemos esquecer.
O ambientalista Daniel Campelo acredita nas potencialidades das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos; vê ali reunidas as condições de um autêntico paraíso da natureza que tinha que ser preservado e tornado acessível a todos, para dele se colheram lições de política ambiental e de protecção da natureza. Vai à luta, reúne apoios, consegue financiamentos, obtém reconhecimentos e as classificações oficiais para as Lagoas – surge a Área de Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos.
Não se sente satisfeito e prossegue a obra. Sente que o mundo rural precisa de cartões-de-visita do mais alto nível e locais onde o contacto com esse mesmo mundo contribuam para a formação dos cidadãos e, principalmente, dos mais novos. Quem não reconhece hoje a mais-valia de uma estrutura como a Quinta Pedagógica de Pentieiros? Era vê-lo a dirigir as hortas, as actividades nos estábulos, a conduzir arranjos estruturais e a definir a melhor forma de organizar o Parque de Campismo. Um Autarca Agricultor ou um Agricultor Autarca, mas acima de tudo um empreendedor arrojado e corajoso.
Esse ambientalista que imprime uma autêntica revolução ao nível dos espaços verdes um pouco por todo o Concelho, de que são exemplos os Jardins Temáticos do Arnado e o audacioso Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, conhecido, depois de onze edições, em todos os cantos do Mundo, envolvendo concorrentes de dezenas da nacionalidades distintas e milhares de visitantes.
Um parque educativo moderno e do mais alto nível, estruturas desportivas descentralizadas por toda a área concelhia, estruturas viárias que servem toda a população, lares de idosos, creches, jardins-de-infância… Criou as imprescindíveis infra-estruturas das redes de saneamento e de água domiciliária. Implementou políticas de animação cultural, de juventude, de lazer e de tempos livres. Bibliotecas escolares, espaços internet, edições de livros e publicações promocionais, exposições, conferências, encontros literários, apresentações de livros… O grande projecto Ponte de Lima Terra Rica Humanidade. A recuperação do património histórico, cultural e ambiental.
Em termos de promoção de Ponte de Lima o seu trabalho é notável – a Expolima e implementação da Feira do Cavalo, bem como outros eventos congéneres que fazem de Ponte de Lima uma Terra diferente e de que todos nos orgulhamos.
Sou mesmo obrigado a parar por aqui, pois, como disse, é uma lista infindável.
Não posso finalizar sem recordar o Homem de crenças e dois grandes momentos que marcaram a sua acção e que figurarão na História do Parlamentarismo Português. Daniel Campelo, na célebre guerra do Queijo Limiano, vai mostrar-se um homem de convicções firmes e de ideais – faz uma greve de fome num autêntico alerta para a injustiça de todo o processo e mais tarde, naquele que ficou conhecido pelo Orçamento do Queijo, defende o distrito que o elegeu, contra todas as pressões político-partidárias, pondo em risco a sua própria segurança e a da sua família, obtendo contrapartidas a troco do seu voto favorável.
Mostrou que também o parlamentarismo em Portugal necessita de mudar de atitudes e os Deputados, mais do que defender a política dos respectivos partidos, devem levar à discussão dos reais problemas dos seus eleitores.
Travou batalhas a favor da tão ansiada regionalização, contra um poder central excessivo e açambarcador de decisões que deveriam estar mais próximas dos cidadãos, através de um poder mais regional e, sempre, com mais competências a nível local – aqui onde realmente se auscultam as reais preocupações das pessoas.
Mais do que um Autarca, Daniel Campelo é um Homem e será sempre o exemplo de um Grande Limiano – leia-se em Daniel Campelo o Autarca Limiano.
Depois de uma passagem pelo Governo, como Secretário de Estado, Daniel Campelo dedica-se hoje ao empreendedorismo e à administração empresarial.
Continua e continuará a ser um Homem marcante para o seu tempo e para todos os seus concidadãos.
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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