Púlpito

 

Púlpito

Igreja Paroquial de Santa Cruz do Lima - Século XVIII

 



José Velho Dantas



Lugar por excelência da pregação, o púlpito e o sermão a si associado foram dos instrumentos mais eficazes na disseminação da doutrina católica. Erguidos em pontos mais elevados na nave da igreja, permitiam uma atenção focalizada na figura e gestos do pregador, que fazia reverberar por todo o templo a força e a eloquência da sua palavra, que se pretendia também divina, assentando dogmas, esconjurando heresias, exortando à virtude cristã pelo exemplo bebido nas páginas da Sagrada Escritura e das hagiografias.

Não admira que fosse, sobretudo após o Concílio de Trento, um dos elementos do mobiliário litúrgico em que se concentravam maiores preocupações decorativas e ornamentais, reflexo também do reconhecimento da dignidade deste tipo de peças. A arte barroca, que se manifestou igualmente de forma sublime na oratória, fez multiplicar os púlpitos pelos espaços sagrados. Em Ponte de Lima sobrevivem ainda alguns bons exemplares do século XVIII, caso dos existentes na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, na Capela da Senhora da Guia, ou nos Santuários de Nossa Senhora da Boa Morte (Correlhã) e do Nosso Senhor do Socorro (Labruja). Os mais imponentes são o da Igreja da Misericórdia e, acima de todos, os da antiga igreja dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, em Refóios do Lima.

O púlpito aqui documentado, que podemos apreciar em Santa Cruz do Lima, constitui, porventura, a despeito de intervenções recentes lastimáveis a nível da policromia, o mais impressionante de todos os existentes em igrejas paroquiais do atual Arciprestado de Ponte de Lima, sobressaindo no seu aparato barroco face a um templo de reduzidas dimensões. É um dos mais valorosos elementos do programa decorativo gizado na primeira metade do século XVIII, que ainda hoje, adossado a uma das paredes da nave, preenche o templo principal daquela freguesia, acompanhando outras peças de destaque, como o retábulo da capela-mor, em que ainda persiste a figura do patrono Santo André, os retábulos colaterais junto ao arco cruzeiro, que outrora apresentavam como padroeiros a Senhora do Rosário (lado do Evangelho) e Santo António (lado da Epístola), sem esquecer o par de anjos tocheiros, tão típicos da época, infelizmente também muito repintados.

A bacia e o parapeito deste púlpito recebem um tratamento de destaque, se bem que ainda algo distante da sumptuosidade que foi apanágio de muitos púlpitos localizados sobretudo em igrejas monásticas. A representação da pomba do Espírito Santo, que aqui aparece na face inferior do dossel, ao centro de uma cartela dourada, foi vulgarizada neste tipo de peças durante a primeira metade de Setecentos. Simboliza a inspiração, a graça divina infundida sobre o pregador, veículo da palavra de Deus. O púlpito era entendido como a cátedra do Espírito Santo. Sobre a cúpula, corporizando uma ideia bem próxima, São Miguel Arcanjo, com indumentária e aparato militar, brande a espada com o demónio a seus pés. Também ele surge como garante da doutrina, símbolo da autoridade da Igreja.

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

Sugestões