Tanto nas reuniões da Câmara Municipal como numa reunião da Assembleia Municipal referi a pobreza de Ponte de Lima no que concerne a elementos escultóricos que – para além do seu aspecto cultural – dão beleza aos locais onde são colocados.
Há recantos que muito ganhariam em serem enriquecidos com aqueles elementos decorativos.
Então, na nossa vila, apenas havia o busto de António Feijó e o do General Norton de Matos e a estátua do Conde de Aurora. Era pouco para uma terra que teve filhos que bem merecem ser recordados.
A Câmara Municipal tomou consciência daquela necessidade e colocou a estátua do Cardeal Saraiva e dois conjuntos relativos à vida ligados ao campo e costumes.
Há, portanto, que elogiar a Câmara Municipal. Espero que não seja esquecido o Beato Francisco Pacheco e um monumento de categoria ao General Norton de Matos.
Lamento que não se tenha levantado – numa das rotundas perto do Palácio da Justiça – uma estátua a D. Manuel I por ocasião da passagem do 5.º centenário do Foral de Ponte de Lima outorgado por aquele monarca.
Mas, no meu entender, quem merece ser recordado com um monumento condigno são os Artistas de Ponte de Lima. É certo que não foram esquecidos dando o seu nome a uma rua estreita, íngreme, pobre. Eles merecem muito mais. Poucas terras se podem ufanar de ter um conjunto de pedreiros, marceneiros, entalhadores, pintores, serralheiros como a nossa terra.
E foi com a intenção de perpetuar a memória de quem deu o Foral a Ponte de Lima, a 4 de Março de 1125, que levou três limianos a lançarem-se no projecto de erigir uma estátua à Rainha D. Teresa, mãe de Afonso Henriques.
A ideia surgiu de uma conversa com Amândio de Sousa Vieira, que não mais sossegou para alcançar aquele objectivo.
Resolvemos falar com o Embaixador Sá Coutinho – Conde de Aurora – que imediatamente deu o seu assentimento a acompanhar-nos naquela missão. Estava “auto-formada” a comissão “ad-hoc” para levantar uma estátua condigna a D. Teresa.
A parte mais fácil da missão foi falar com o Presidente da Câmara, Eng.º Daniel Campelo, pedindo a sua colaboração, com a promessa de que o projecto seria pago à custa de subscrição pública, desonerando a Câmara de qualquer comparticipação. O Eng.º Daniel Campelo foi rápido a apadrinhar a nossa ideia e nunca faltou com o apoio da autarquia em trabalho de dactilografia e despesas do correio. Outras despesas, de pequeno montante, não deixaram de merecer resposta da Câmara Municipal.
Escolhido o escultor, foi-lhe comunicado o nosso desejo e exigida resposta rápida e trabalho devidamente documentado. Não faltou ao que lhe foi imposto.
O trabalho foi constantemente acompanhado pela comissão, que teve o cuidado de pedir parecer sobre o local ideal para colocação do monumento.
Apresentadas duas maquetes, foi escolhida a que parecia mais adequada ao local e que melhor traduzia a figura da Rainha D. Teresa. Também foi imposto ao escultor que artistas de Ponte de Lima tivessem expressão no trabalho. Assim foi e o artista Armada executou a coroa e outro elemento.
Foi necessário ir a Madrid ver o modelo, em tamanho definitivo, antes da fundição. Também aqui a Câmara Municipal deu o seu apoio e foi o então vereador Dr. Abel Baptista que – num só dia – me levou a Madrid. Foi uma viagem relâmpago.
Acertados os últimos detalhes chegou a estátua, que foi colocada, de imediato, no local onde hoje se encontra.
Estava cumprida a nossa missão e a subscrição pública – com resposta de muitas pessoas e instituições – quase pagou o custo final.
O Amândio de Sousa Vieira ficou num estado de satisfação que ainda mantém e não é exagero se disser que, sem a sua ajuda e interesse constante, o projecto não teria sido concretizado.
Ponte de Lima ficou mais rica e o interesse dos limianos pela obra expressa-se em inúmeras ocasiões e, sobretudo, a 4 de Março, que é proclamado – e muito bem – como “Dia de Ponte de Lima” e que bem justo seria se fosse considerado como “feriado municipal”.
Pessoalmente sinto-me realizado por ter contribuído para que Ponte de Lima pagasse uma dívida muito antiga: realçar a figura da Rainha D. Teresa. Tem ainda o monumento uma finalidade pedagógica que se traduz em manifestações de alunos no local e a realização de trabalhos sobre D. Teresa.
Não resisto a uma curta história sobre a subscrição pública. Um limiano, Dr. Acácio Matias, há muitos anos radicados na Madeira, teve conhecimento do “peditório” e logo enviou o seu donativo. Não ficou por aqui pois levou muitos amigos – uns que conheciam Ponte de Lima e outros que nunca cá estiveram – a darem o seu apoio monetário. Não foi sem surpresa que chegaram, daquela ilha, donativos de pessoas desconhecidas. Mais um limiano que não esqueceu a sua terra natal.
Ponte de Lima pagou finalmente – sem juros e sem correcção monetária – uma dívida muito antiga. Parabéns limianos.
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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