A devoção à Virgem do Pilar, de génese espanhola, anda associada à lenda de São Tiago. Foi durante a viagem de predicação do apóstolo à Península Ibérica, quando já convencido do seu fracasso e decidido a regressar à Terra Santa, que foi assaltado em Saragoça, junto às margens do rio Ebro, pela visão de Nossa Senhora em cima de uma coluna, exortando-o a edificar um templo debaixo da sua invocação.
Este acontecimento lendário parece ser mencionado pela primeira vez num códice do século XIII, que já utiliza o título de “Pilar” relativo à Virgem. Das terras de Aragão este culto mariano irradiou por todo o mundo de influência ibérica, facto demonstrado também no elevado número de painéis oriundos sobretudo da arte colonial espanhola, inspirados em gravuras dos séculos XVII e XVIII, representando a Senhora sobre a coluna, envolta em atmosfera celestial, com o apóstolo Tiago aos pés e a cidade de Saragoça em pano de fundo, destacando-se, em registo anacrónico, a imponente Basílica de Nossa Senhora do Pilar. No interior deste célebre monumento religioso da capital de Aragão está exposto o arquétipo que serviu de referência a representações posteriores, uma imagem tardo-medieval (século XV) em madeira dourada, com a Virgem sobre uma coluna (de jaspe) e segurando o Menino no braço esquerdo.
A imagem documentada nesta página tem sido venerada num dos altares colaterais da Capela do Espírito Santo, possivelmente desde os últimos decénios do século XVII, época em que este templo foi enriquecido com três retábulos maneiristas, o principal dedicado ao Divino Espírito Santo e os dois restantes, de linhas simétricas, tendo como titulares a Senhora do Pilar e Santo Ovídio.
A Senhora, de pose algo majestática e hierática, assenta sobre a proverbial coluna, com a tradicional cruz a meio do fuste. Os dois elementos, Senhora e coluna, formam um só corpo. O menino, como de costume, aparece do lado esquerdo da Virgem, sem o braço esquerdo, pelo que nunca saberemos se o Divino Infante, como também era típico destas representações, segurava ou não um pássaro.
Em Refóios do Lima, na Capela de Nossa Senhora do Pilar, existe uma escultura da padroeira, ligeiramente mais tardia, que obedece, apesar dos traços mais humanos, a um esquema compositivo semelhante, quer no que concerne ao desenho da cruz gravada no fuste da coluna quer no que respeita à posição do Menino, que, íntegro, ainda segura o pássaro.
