Nunca te pedi nada de especial, tu bem sabes. Mas este ano lembrei-me de recorrer a ti para te pedir o melhor presente do mundo. Para mim, seria o mais caro. Tem paciência, dá as tuas voltas, move as tuas divinas influências, vai ao Paraíso do teu pai. Ouve este pedido, ainda que parta de quem já de ti recebeu tantas benesses e condescendências conciliadoras. Eu sei o valor que sempre tem uma simples palavra das tuas sábias intercepções. Já há muitos anos que não te tenho procurado e ocupado. Parece que por um lado é uma forma de não te vir incomodar. Mas também adivinho o teu natural juízo: “Devias vir a mim mais vezes. E não apenas (e raramente!) nas horas difíceis dos dias mais sombrios em que a neblina esfria o próprio sol”. Este sol da alma que ainda e sempre desponta em nós pela manhã renovada dos dias. Venho pois pedir-te uma prenda.

Queria pedir-te a melhor das prendas: as melhoras, neste santo Natal que se avizinha, para a minha mãe. Que ela recuperasse, por inteiro, a sua fala. Quem me dera poder conversar como dantes com ela e seria para a minha mãe uma alegria imensa poder sem custo fazer-se entender por todos os que lhe são queridos.

Eu sei que me basta o seu olhar e sentir os seus sinais de reconhecimento e de resposta: a minha mão puxada para as suas, por exemplo. Mas as suas palavras iluminadas pelo sol dos seus olhos ganhariam uma outra claridade e uma inigualável força que muito me ajudariam a percorrer estes caminhos terrestres de modo mais seguro. Antes do ano que vem, se puderes dá-me algum dos teus miraculosos sinais – aquele mínimo de que eu seja digno. Em breve estarei, creio, de volta para te voltar a escrever a fim de agradecer a generosidade de que sempre deste provas inequívocas estes dois mil anos ininterruptos.

Publicada na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 25, de Dezembro de 2011