Breve autobiografia escrita em 2006, publicada na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 40, de Dezembro de 2014
Nasci em Ponte de Lima, mais precisamente em Arcozelo, em 27 de Maio de 1930.
Vim ao Mundo pelo processo então em uso: em casa de meus pais e com parteira. Naquele tempo nascia-se em ambiente menos séptico, mas mais familiar e com mais amor.
Tive uma infância muito feliz. Convivi com todos os rapazes da minha idade e sem restrições familiares. Com aquela “malta” joguei futebol no Arnado, tomei banho – banho de horas – no Rio Lima (era um “bacalhau”, que assim eram chamados os rapazes que passavam horas no rio), corria festas e romarias. Frequentei a escola da Vila até à 3.ª classe (antiga) e percorri muitos montes em animadas caçadas com os caçadores de Além da Ponte.
Desses felizes tempos, retenho com muita nitidez os primeiros dias da II Grande Guerra que meu pai acompanhava e relatava em família.
Por imperativos escolares – sobretudo de meu irmão mais velho –, toda a família foi para Coimbra e aí completei a Instrução Primária, o Curso do Liceu e o Curso de Direito na mais velha Universidade do país.
Considero que a minha vida escolar, liceal e universitária – esta com alguma irregularidade – correu sem acontecimentos dignos de nota. A não ser os fortes laços de amizade que criei e que hoje, ao tentar reatá-los, só encontro o vazio que a morte causa. Digno de referência, na minha vida escolar, foi apenas o envolvimento consistente na política – não necessariamente na académica –, não só por ter desde muito jovem – 13 anos – optado por uma ideologia que consistentemente mantenho, como por ter defendido valores que aceitei – e ainda aceito – como os melhores. Não hesito em confessá-lo.
Antes de terminar o curso de Direito resolvi ir para Lisboa onde consegui um modesto emprego na função pública, cujo desempenho – com muita luta – consegui conciliar com a conclusão do meu curso.
Em Lisboa mais me envolvi em actividades políticas convivendo com vultos de elevada posição política e cultural. Eram as noites infindáveis do Café Avis!
Terminado o curso – e casado – iniciei uma trabalhosa mas aliciante carreira na função pública, à qual me dediquei com alma e coração. Com um curto período em que desempenhei funções de director numa empresa estrangeira, trabalhei esforçadamente na área social.
Outras actividades acessórias ia, entretanto, desempenhando, com o que aumentava os meus recursos financeiros e diminuía o meu descanso e convívio familiar. Foram anos de louco trabalho que recordo com orgulho e saudade. Anos que me proporcionaram relações com pessoas que muito me ensinaram.
Entretanto, fui “aliciado” para me candidatar à Câmara Municipal de Ponte de Lima. Confesso que resisti bastante ao convite, pois desfrutava então – já recuperado dos efeitos revolucionários – de uma confortável situação económica. Porém, o amor à terra falou mais alto, em detrimento de tudo isso e da necessária presença junto da família.
Foram quatro anos de trabalho arrasador, mas que foram igualmente quatro anos em que me senti realizado, nunca pensando que trabalhar pala nossa terra fosse tão aliciante.
E foi no desempenho dessas funções que me vi perante um convite feito por alguns amigos – Senhores João Caçador, David Rodrigues e Dias de Carvalho – para se criar a Casa do Concelho de Ponte de Lima.
De imediato e com entusiasmo abracei a ideia, tendo sido um dos subscritores do pacto constitutivo.
Era minha ideia para a CCPL – a “nossa casa”, como passei a chamar-lhe – que fosse uma espécie de “Embaixada” do concelho de Ponte de Lima em Lisboa.
A “Casa”, conforme pensava, deveria esforçar-se por congregar todos os Limianos residentes em Lisboa e estender mesmo a sua acção a eventuais “amigos” da nossa terra. Deveria promover convívios entre sócios e simpatizantes para assim se criar uma força motivadora da expansão e do desenvolvimento de Ponte de Lima. Teria, necessariamente, uma sede e a ela deveriam convergir os Limianos para conviverem, confraternizarem, pensar em projectos para o nosso concelho, promoverem um ambiente de acolhimento a todos que se vissem privados de apoio ou necessitassem de ajuda para alcançarem melhor bem-estar – desenvolver, em suma, uma adequada função social. Deveria organizar colóquios com vista a dar a conhecer a nossa cultura e organizar um acervo documental de que todos pudessem usufruir. Ser como que um “agente imobiliário” para facilitar a compra e venda de imóveis sempre que os limianos necessitassem desse apoio. Comemorar as datas mais significativas da nossa terra. Ser isto tudo e muito mais.
Infelizmente, por razões que ignoro, a “nossa Casa” ficou muito aquém do que havia idealizado. Reconheço, contudo, que bastante tem sido feito mas espero, com ansiedade, que vá mais além. Aguardo que apareçam dirigentes jovens com imaginação, dinamismo e espírito de iniciativa para que a CCPL possa, de facto, ser a casa de todos nós. É preciso encher de vinho novo os velhos tonéis.
Sem pretender fazer um exame de consciência, que guardo para melhor oportunidade, considero que fiz muito ao longo da minha vida, mas reconheço também que mais deveria ter feito.
Procurei aproximar-se o mais possível de quem necessitava – esquecido de (algumas) ingratidões, vencidas muitas dificuldades, ultrapassados momentos difíceis e, por vezes de angústia, continuo a não negar a minha mão a quem dela necessita. E neste propósito me mantenho, agora no remanso de minha casa, no aconchego da família, no desfrutar da magnífica e querida terra de Ponte de Lima.
Francisco Abreu Lima
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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