Maria Adelina Penha da Rocha Barros – Testemunho de Amândio de Sousa Vieira

 

Maria Adelina Penha da Rocha Barros – Testemunho de Amândio de Sousa Vieira

 

Intervenção de Amândio de Sousa Vieira na homenagem promovida pelo Rotary Clube de Ponte de Lima a Maria Adelina Penha da Rocha Barros, em 27 de Outubro de 2014.

 



Amândio de Sousa Vieira



Começo por saudar e dar os mais sinceros parabéns à D. Lininha por esta tão merecida e simpática homenagem, agradecer à sua família pela confiança em mim depositada, mostrar a minha gratidão ao Rotary Clube de Ponte de Lima pela inteligente iniciativa e, naturalmente, à Presidente deste clube, Eng.ª Estela Almeida, que continua a dar o seu melhor a esta vila.

Tenho hoje aqui uma tarefa difícil. Não tenho vocação para usar muito bem as palavras – como todos sabem, sou um homem da imagem e só me sinto bem com uma máquina fotográfica à minha frente –, apesar disso, aceitei com gosto este convite. Não poderia de forma nenhuma recusar, pois tenho pela D. Lininha uma grande estima e admiração.

Sei que não sou merecedor desta honra, pois quem tão justamente este Clube homenageia merecia que estivesse aqui a falar no meu lugar a pessoa mais importante de Ponte de Lima. Mas a vida tem destas coisas, e só pela alta consideração que tenho por esta senhora e pela sua família, a quem me ligam laços de grande amizade, é que ganhei coragem para estar aqui. Quero deixar uma palavra muito grata à D. Lininha pela bonita amizade que sempre me dedicou, ao seu filho Abílio, à sua esposa Maria do Céu e à Joaninha, que com tanto agrado vi crescer, pois sempre me foram muito próximos, isto sem o mínimo desmerecimento por todos os outros familiares por quem tenho verdadeiro apreço e são a menina dos olhos da D. Lininha. Mãe e Avó dedicada, por eles construiu uma vida, que é um património!

Não ficaria bem fazer aqui um longo discurso, nem eu seria capaz, nem por certo seria oportuno. Estamos num ambiente familiar, ao lado de uma grande Senhora de Ponte de Lima e o que importa realmente é demonstrar-lhe o nosso reconhecimento.

Consequência deste gosto tão compensador por Ponte de Lima, desde cedo aprendi que a verdadeira importância está nas pessoas. Olhei sempre para o lado e procurei ver a grandeza desta terra nos seus filhos. Continuo a achar que não mereço estar aqui, especialmente por estarmos a falar de uma pessoa tão especial, mas já que aqui estou, vou deixar fugir o que dita a razão e deixar falar o coração. Só assim conseguirei dizer algumas palavras, que nunca serão suficientes nem próximas das que realmente seriam justas.

Todos temos os nossos heróis – nunca sabemos bem porque os escolhemos, isso pertence aos sentimentos. Não sendo eu mais do que a voz que vem do povo ao qual pertenço, julgo poder exprimir o que pensa a nossa gente, a que tem a felicidade de conhecer a D. Lininha, Senhora que sempre coloquei na galeria dos maiores da minha terra. Aqui, na presença desta dupla família, a sua e a do Rotary Clube, procuro transmitir o grande apreço que a comunidade limiana sente, e associar-me com alegria a esta bonita homenagem, que este Clube em boa hora decidiu promover.

Tentarei corresponder ao que todos sentimos, porque, na verdade, por mais palavras que procure, por muitas que encontre, nenhuma será capaz de fazer justiça à grandeza, à bondade e verdadeiro exemplo de honradez, trabalho e humanidade da D. Lininha. É uma vida que todos desejamos longa, e que sempre tem estado ao serviço de muitos.

Nasceu no seio de família bem limiana, a famosa Clara Penha, e cresceu a ver desenvolver-se uma das riquezas desta vila. Naturalmente que não se apercebia disso e nem podia imaginar que seria, anos mais tarde, uma das principais protagonistas dessa saga tão importante para a afirmação económica desta terra.

Não caminhou sozinha. Tinha dezassete anos quando casou com um rapaz que estava verdadeiramente apaixonado por ela. A Lininha era e continua a ser muito bonita, tinha invulgares qualidades, naturalmente o encanto foi recíproco. Desse casamento nasceu uma excelente família e um contributo decisivo para o desenvolvimento de Ponte de Lima.

A partir daí, com o seu António Emílio, também ligado à restauração por tradição de família, desenvolveram um dos mais promissores negócios desta vila, inicialmente, Pensão Encanada, mais tarde Restaurante de renome, emblema da nossa mais genuína gastronomia. Foram exemplo do que hoje chamaríamos jovens empreendedores. Na época, chamava-se inteligência e muito, muito trabalho, e não existiam subsídios!

Recordo um pequeno episódio, mas bem significativo: sendo eu ainda um rapaz, necessitei de uma consulta no hospital de S. João, no Porto. O médico perguntou-me de onde eu era, Ponte de Lima. – Mas que bela terra, tem lá o Restaurante Encanada! Que bom sarrabulho que lá se come. Fiquei orgulhoso.

A grande paixão deste casal era a família, que foi crescendo a par com as responsabilidades comerciais. Demonstrando grande carinho pelos filhos, deram-lhes o máximo de formação possível, por eles trabalharam e felizes viram como se iam afirmando na vida.

Podemos dizer, sem qualquer sombra de dúvida, que a D. Lininha e o seu marido foram dos principais responsáveis na mudança decisiva que transformou as pequenas casas que nesta vila serviam comidas, em modernos restaurantes. Com o rodar do tempo, transformaram-se numa das mais importantes valias desta terra; noutros tempos dizia-se: quem beber água da fonte da vila nunca mais deixa esta terra; agora, como já não podem beber dessa fonte, não ficam cá, mas voltam sempre, depois de um bom sarrabulho!

A sua casa era uma perfeita escola de cozinha regional, e não só. As suas sobremesas eram e continuam a ser divinas! Quem nunca comeu pudim de laranja saído das suas abençoadas mãos, não conhece o que é um pedacinho do Céu na terra!

Transmitiu os seus conhecimentos, generosamente. Basta ler o livro Sarrabulho de Ponte de Lima para se constatar dos altos dotes humanos desta estimada senhora. As raparigas que passaram pela sua “escola” tornaram-se excelentes cozinheiras, espalhando o gosto e a sabedoria da sua mestra. Fizeram sucesso e nunca esqueceram a humanidade que a D. Lininha colocava na forma como lidava com elas, ficaram-lhe gratas para sempre.

Mais que uma vez, em ocasiões de muito trabalho, os serões prolongavam-se e, quando achava que o cansaço ia vencendo o pessoal, mandava tudo descansar, incluindo o seu marido. Quando todos adormeciam, voltava silenciosamente para a cozinha e lá ficava toda a noite a organizar o serviço, pela responsabilidade e para poupar os que com ela trabalhavam.

É do conhecimento de muitos limianos a atenção dada pela D. Lininha às situações de verdadeira carência, ajudando imensa gente. A minha mãe é desse tempo e sempre me contou dessa e de outras atitudes, que diferenciam os que são realmente bons. Também por isso, e já seria muito, merece a nossa gratidão e apreço.

Continua a ser, como um dia escrevi em revista local, num breve mas sentido texto que lhe dediquei, uma elegante senhora, pois apesar de uma vida intensa de trabalho, sempre manteve essa postura. A par disso, ganhou um estatuto na sociedade limiana, que levou o Município desta vila a conceder-lhe em 2004, com enorme justiça, a Medalha de Mérito Cultural.

Justíssima atitude, que muito dignificou o executivo que tão sabiamente reconheceu a importância de uma das pessoas que efectivamente trabalhou arduamente para o desenvolvimento comercial e humano deste concelho. Não é só a vila que colhe benefícios do desenvolvimento que tivemos na área da gastronomia; sem pessoas como a D. Lininha, e naturalmente o seu companheiro de toda a vida, o panorama neste sector poderia ser bem diferente.

Muito mais deveria ser dito e com toda a certeza muito de positivo continuará a dizer-se. Vamos continuar a acompanhar uma vida tão importante, das que justifica à perfeição o título que vamos ostentando, de terra rica da humanidade.

Termino, lembrando um pormenor, que pode parecer muito pequeno, mas que, apesar da sua singeleza, encerra uma carga emocional que demonstra o que uma comunidade sente pelos seus melhores: sempre foi tratada por Lininha, prova de muito carinho por uma querida senhora que continua, como sempre, bonita, por dentro e por fora.

Muito obrigado. Um grande beijo.

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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