Casa das Torres

Casa das Torres

 

Surgindo repentinamente no desenhar de uma curva, ergue-se magnífica, em altivo porte, a Casa das Torres, na freguesia da Facha, concelho de Ponte de Lima. Exemplo da arquitectura nobre do tempo de D. João V, contempla uma paisagem soberba. O trabalho barroco das janelas abre para a quinta de pomares, convidando-o a contactar com a natureza.

De acordo com o Padre António José Baptista, pároco da freguesia da Facha, a Casa das Torres foi construída pelo "brasileiro" André Pereira da Silva em meados do séc. XVIII. Este era filho do capitão Miguel da Silva Pereira e D. Antónia de Melo e Sampaio, da Quinta de Arribão na freguesia da Facha.

Embora não saibamos quando André Pereira da Silva emigrou para o Brasil, sabe-se que em finais de 1750 estava de volta à Facha, realizando, a partir daí, inúmeras compras de terrenos, dando assim a impressão de ser homem de dinheiro.

Um ano depois, a 18 de Dezembro de 1751, faz uma escritura de contrato e obrigação com o mestre pedreiro Pedro Gonçalves de Carvalho, do lugar de Pedregal, freguesia de Poiares, para a construção da Casa das Torres, na sua quinta do Lugar de Arribão, pela quantia de um conto e quatrocentos e cinquenta mil reis, no prazo de dois anos. A 16 de Julho de 1754, faz nova escritura de contrato com o mesmo mestre pedreiro para acrescentar mais uma cozinha, uma sala, loja, varanda, escada e pôr água, tudo por quinhentos e cinquenta mil reis (perfazendo um total de dois contos).

Em 15 de Janeiro de 1753, André P. da Silva casa com D. Josefa Quitéria Barbosa de Miranda, filha do capitão Miguel Barbosa Pedra, já falecido, e D. António Teresa de Miranda, da Casa da Portela desta freguesia, vindo a esposa a falecer, em 19 de Dezembro desse mesmo ano, triste desenlace que, sem dúvida, terá representado para ele grande revés na sua vida. A partir de aí, a sua sogra, como legítima herdeira da filha que falecera sem descendência (e, quem sabe, talvez de parto, como então acontecia com frequência), vai habilitar-se a metade dos bens.

Em finais de 1755, André P. Silva aparece-nos de novo no Brasil a declarar grandes dívidas contraídas: vinte mil cruzados a Luis da Câmara Malafaia, residente na comarca de Goases, Brasil, seis mil e quinhentos cruzados que havia tomado a juros no Porto para continuar as obras da casa e dá ordens aos seus procuradores para venderem os seus prédios rústicos, deixando para o final a casa. Custa-nos a crer que ele se tivesse abalançado a tão grandiosa empresa apenas com dinheiro emprestado. Não terá havido aqui um truque para se furtar à partilha de seus bens com a sogra? Não o sabemos. Mas o que é certo é que os bens que havia comprado, e eram muitos, a partir daí, começam a ser vendidos e, apesar da recomendação por ele feita de que a casa ficasse para último, certamente na esperança de salvar o que terá sido o seu maior sonho e glória, o tão lindo palacete, não o conseguiu, pois este, juntamente com a quinta, foi à praça no dia 6 de Fevereiro de 1770. Comprou-o em hasta pública, Duarte Rite de Figueiroa casado com a sobrinha neta.

Maria Teresa de Melo Barreto, neta do irmão Mateus Rite, barbaramente assassinado, na Quinta do Sobreiro, em 1709, por dois cunhados.

Estes Rites, grandes comerciantes de Bacalhau em Viana, eram vários irmãos e descendiam de António Rite, seu avô, que da Inglaterra viera no séc. XVII. Seu pai, António Rite Júnior, construiu e vinculou a capela da Senhora do Rosário na referida Quinta do Sobreiro.

Do casamento de Duarte Rite com a sobrinha houve vários filhos, mas apenas um teve descendência: Pedro José Rite que foi casado com D. Teresa Angélica Leite, filha do capitão António Bernardino Leite e D. Maria Josefa de Abreu, de Durrães. Com este casamento estabeleceu a ligação da Casa das Torres à família Abreu Leite. Herdaram a casa e quinta os dois filhos, D. Maria Joaquina de Melo Barreto e Francisco Joaquim de Melo Barreto. Ela foi casada com Manuel José Viana que faleceu nove anos depois do casamento deixando 5 filhos. Destes, 3 emigraram para o Brasil e os outros morreram solteiros.

Francisco de Melo Barreto, depois da morte da irmã, ficou senhor de toda a Casa das Torres que deixou a uma filha natural, D. Júlia Clementina Pereira de Melo Barreto que casou com 40 anos, em 1790, com António Zeferino de Abreu Couto Amorim Novais, da Casa de S. Bento, em Balugães. Estes não tiveram descendência, passando o solar das Torres para a sobrinha e afilhada, D. Júlia Clementina Leite Gomes de Abreu Novais, filha do Dr. João de Abreu Couto Amorim Novais e D. Rosa Bárbara de Amorim Novais Leite, ele irmão de referido António Zeferino e ela de Durrães, que veio a casar com o Dr. Eduardo Augusto Correia Malheiro Pereira Peixoto, da Casa de Barreiros, Correlhã, já falecidos e pais do actual dono da Casa das Torres, Eng.º Manuel Novais Correia Malheiro, casado com Dra. D. Margarida Maria Palhares Ribeiro Bacelar, que abriram as suas portas ao Turismo de Habitação há mais de trinta anos.

Sócia fundadora da TURIHAB, a Casa das Torres, integra a rede Solares de Portugal, na Categoria das Casas Antigas, disponibilizando para hóspedes 7 quartos.

 Texto e fotografias: TURIHAB – Associação do Turismo de Habitação
In: LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 4, de Julho/Outubro de 2007

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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