Classificada como Monumento Nacional pelo Decreto de 16 de Junho de 1910, publicado no Diário do Governo n.º 136, de 23 de Junho de 1910
Descrição
Ponte lançada sobre rio, formada por 2 troços distintos, um romano e outro medieval. O troço medieval, com tabuleiro rampante muito suave, assenta sobre 15 arcos quebrados à vista (um deles ainda com soleira), com talha-mares de forma prismática a montante encimados por olhais também de arco quebrado. Parapeito com alvéolos marcados e, sensivelmente a meio, na guarda a montante, cruzeiro de coluna facetada, cruz latina de braços em flor-de-lis e escudo no capitel. Pavimento lajeado e com ralos de escoamento para as gárgulas, de canhão, que se dispõem irregularmente. A N. subsiste base de uma das torres que a fortificava, de planta quadrangular, e com base avançando para jusante. Tem erguida "alminha", de planta rectangular, de frontespício revestido a azulejos, ladeado por aletas e encimado por frontão curvo com cobertura de telha coroada por pináculos e cruz. À torre liga-se o troço romano, muito simples, de tabuleiro rampante assente sobre 7 arcos a pleno centro e quebrado, dispostos irregularmente e de diferente vão. Um deles está encoberto a montante pelo maciço onde assenta a igreja de Santo António e um outro, a jusante, está entaipado. Parapeito marcado por alvéolos.
A ponte sobre o rio Lima é o elemento estruturante da vila, e o que lhe conferiu a sua própria denominação. "Espinha dorsal da rede viária do Entre-Douro-e-Minho" (ANDRADE, 1990, p.14), durante largos séculos foi a única passagem pedestre sobre o Lima, fazendo com que, inevitavelmente, os homens e os caminhos aqui confluíssem.
A sua origem é romana, embora desse período pouco mais reste que dois arcos, muito transfigurados, junto à margem direita. Nessa altura, instituiu-se como ponto fundamental numa ampla rede viária que se alargava a todo o Noroeste peninsular, cuja importância, na Idade Média, foi decisiva, ligando Braga a Compostela, passando por Tui e prolongando-se, no sentido oposto, até ao Porto. O que se conserva da obra romana revela uma estrutura de grande qualidade, assente sobre arcos de volta perfeita compostos por silhares de talhe regular (alguns almofadados), e pavimento horizontal de seis metros de largura protegido por guardas. Uma parte significativa desta parcela encontra-se soterrada na margem direita, sendo esta uma zona onde melhor se podem compreender as sucessivas reconstruções realizadas ao longo dos séculos, que lhe conferem uma feição muito pouco homogénea.
Diferente é a parcela actualmente sobre o leito do Lima, caracterizada por uma racional homogeneidade e uma sucessão sistemática de elementos construtivos. Na segunda metade do século XIV, realizou-se uma obra praticamente de raiz. A causa imediata desta opção parece estar nas transformações ocorridas no leito do Lima, em consequência dos arroteamentos: "frente a Ponte de Lima, o rio desviara-se um pouco para sul e a velha ponte romana, certamente destruída em grande parte, deixara de transpor o rio" (ALMEIDA, 1987, p.100).
Não se sabe ainda, ao certo, qual a cronologia exacta da obra. Vários autores relacionaram-na com a inscrição de 1359, que alude ao início da construção da cerca, patrocinada por D. Pedro. No entanto, não está provado que a ponte fizesse parte dessa empreitada (BARROCA, 2000, p.1731) e o facto de a inscrição ter sido colocada na Torre Velha (a torre que defendia a ponte) faz crer que, quer esta estrutura militar, quer a própria ponte, sejam anteriores.
A nova estrutura representou um salto qualitativo na actividade pontística do país e a sua monumentalidade não tem paralelo no Portugal medieval até então. Compõe-se de dezoito arcos apontados - os três primeiros do lado Sul estão soterrados sob a actual Praça Camões, recentemente intervencionada arqueologicamente (ALMEIDA, 2000) -, e possui pegões reforçados por talhamares, sobre os quais se abrem olhais de perfil quebrado, fundamentais para conferir menor peso à estrutura e permitir um melhor escoamento em altura de cheias. Superiormente, o tabuleiro manteve a horizontalidade inicial, aqui com uma ligeira zona rampante a Norte.
Os estudos mais recentes têm sido unânimes em considerar este um modelo de importação, já ensaiado em outras zonas da Península Ibérica e, muito particularmente, ao longo do Caminho de Santiago. Com efeito, são notórias semelhanças com as pontes de Puente la Reina e de Zamora (ALMEIDA, 1987, p.101), significando a adopção de um modelo de sucesso que viria a triunfar, também, no nosso país, a ponto de ser posteriormente aplicado às pontes de Ponte da Barca e de Vilar de Mouros.
A edificação da ponte aconteceu num momento em que Ponte de Lima se cercava de muralhas. Elas foram levantadas a partir de 1359 e estariam concluídas por 1370. Neste contexto, ela foi um elemento mais do sistema defensivo, nela se construindo duas torres, localizadas nos extremos do circuito. No lado Sul, a Torre da Ponte ligava à restante cerca; no lado Norte, existia a Torre Velha, estrutura maciça quadrangular, fotografada ainda em 1858, e de que restam os alicerces. No reinado de D. Manuel, a importância militar da ponte mantinha-se e o monarca ordenou a colocação de ameias ao longo das guardas, facto que reforçou a sua feição fortificada.
PAF
Texto: Direcção-Geral do Património Cultural
In: http://www.patrimoniocultural.pt
Bibliografia:
"Pontes Antigas Classificadas", Lisboa, 1998, autor: RIBEIRO, Aníbal Soares;
"O Minho Pittoresco", Lisboa, 1887, autor: VIEIRA, José Augusto;
"Pontes romanas de Portugal", Lisboa, 1999, autor: PINTO, Paulo Mendes;
"História da Arte em Portugal - o Gótico", Lisboa, 2002, autores: ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, BARROCA, Mário Jorge;
"Roteiro da Ribeira Lima", Porto, 1959, autor: AURORA, Conde de;
"Itinerários de Ponte de Lima", Ponte de Lima, 1973, autor: REIS, António Matos;
"Ponte de Lima na Alta Idade Média, Arquivo do Alto Minho, vol. 9", Viana do Castelo, 1960, autor: FERNANDES, A. de Almeida;
"Inventário Artístico da Região Norte - III (Concelho de Ponte de Lima)", Porto, 1974;
"Um espaço urbano medieval: Ponte de Lima", Lisboa, 1990, autora: ANDRADE, Amélia Aguiar;
“A romanização do concelho de Ponte de Lima", Ponte de Lima, 1978, autor: REIS, António Matos;
"A ponte romana de Ponte de Lima, Studium Generale, nº9", Porto, 1962, autor: MACHADO, Alberto de Sousa;
"Monografia do concelho de Ponte de Lima", Porto, 1946, autor: AURORA, Conde de;
"Arqueologia no Largo Camões, Boletim Municipal de Ponte de Lima, ano IV, nº11", Ponte de Lima, 2000, autor: ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado de;
"O património cultural do Alto Minho (civil e eclesiástico). Sua defesa e protecção, Caminiana, ano IX, nº14, pp.9-80", Caminha, 1987, autor: ALVES, Lourenço;
"Caminhos velhos e Pontes de Viana e Ponte de Lima", Viana do Castelo, 1962, autor: ARAÚJO, José Rosa de;
"Alto Minho", Lisboa, 1987, autor: ALMEIDA, Ca
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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