Classificada como Monumento Nacional pelo Decreto n.º 95/78, de 12 de Setembro, publicado no Diário da República, I Série, n.º 210, de 12 de Setembro de 1978
Localização: Campo do Arnado, na margem direita do rio Lima, junto à ponte medieval
Como foi comum na Baixa Idade Média, a mobilidade dos homens e a consequente travessia de pontes impôs devoções populares de grande impacto junto a essas estruturas. Rezava-se à partida, na perspectiva de um boa viagem, e em agradecimento pela chegada sã e salva. Não espanta, por isso, que numerosas capelas e ermidas devocionais tenham pontuado a paisagem ribeirinha da nossa Idade Média, junto dos principais pontos de travessia dos rios.
A pequena capela do Anjo da Guarda não escapa a estas condicionantes e, apesar de não se conhecer exactamente a sua origem (nem a época específica em que foi levantada), não restam dúvidas sobre a relação com a antiga ponte romana, e depois medieval, de Ponte de Lima. Ela era o primeiro ponto de passagem para quem se dirigia a Norte e o último para quem regressava. Pela dinâmica da vila na época medieval, é provável que tenha também participado do "trânsito fluvial, servindo para abrigo circunstancial para pessoas e bens" (ALMEIDA, 1987, p.103).
Variam muito as opiniões acerca da cronologia da obra. Em 1926, Manuel de Aguiar Barreiros propôs tratar-se de uma construção a rondar o último quartel do século XIII, se não mesmo uma época mais recente (BARREIROS, 1926, p.33; ALVES, 1982, p.113). Carlos Alberto Ferreira de Almeida, por seu lado, sugeriu uma datação já em pleno século XIV, "talvez algo anterior à ponte medieval" (ALMEIDA, 1987, p.103), esta última executada, presumivelmente, pelos meados da centúria.
As características estilísticas do monumento inviabilizam uma aproximação cronológica mais rigorosa. De facto, estamos perante uma obra modesta e de recursos artísticos limitados, por muitos considerada tardo-românica, numa altura em que o Gótico já se havia afirmado nos mais dinâmicos centros do país. De planta quadrangular, é uma estrutura de tramo único assente sobre colunas e coberta por abóbada de cruzaria de ogivas. Três faces são abertas ao exterior, por arcadas de arco apontado, sendo a quarta, a virada a Sul, fechada e servindo de parede fundeira (certamente já não a parede original), onde se adossa, pelo lado interior e ao centro, um altar sobre duas mísulas. A decoração escultórica original resume-se aos capitéis, ornados com motivos vegetalistas sumariamente tratados, sem volume nem individualização das folhagens, a lembrar realizações anteriores igualmente modestas.
A proximidade do rio determinou que, ao longo dos tempos, muitas tivessem sido as cheias que afectaram a capela. Uma das mais importantes ocorreu já no século XVIII, altura em que se pensa que o templo foi parcialmente destruído e reconstruído (ALVES, 1982, p.114). Datará de finais dessa centúria, ou já do século XIX, o sistema de reforço estrutural actualmente visível. Junto aos ângulos exteriores, adossaram-se pilares quadrangulares, encimados uniformemente por volumosos pináculos que, contudo, não contrariam a sensação de horizontalidade do edifício. E sobre a pedra de fecho da abóbada cravou-se um coruchéu.
Datará igualmente desta época a imagem de São Miguel. Inserida numa moldura delimitada inferiormente por volutas, é uma escultura pouco relevada e fruste de dinamismo, representando o arcanjo no acto de luta contra Satanás, com a espada e a balança nas mãos (IDEM, p.114).
Construção de cariz popular e notoriamente arcaizante, a pequena capela do Anjo da Guarda é, ainda assim, uma das poucas construções religiosas góticas do Alto Minho, o que prova como esta região, nos séculos finais da Idade Média, era um território periférico. Se exceptuarmos as igrejas matrizes de Ponte de Lima, Viana do Castelo e de Caminha (a primeira, a capital regional medieval e, as segundas, em grande desenvolvimento urbanístico e populacional ao longo do século XV), o panorama gótico da província é restrito e até desolador. O Anjo da Guarda é, para todos os efeitos, uma das marcas mais genuínas dos caminhos da arte do Alto Minho nessa altura.
PAF
Texto: Direcção-Geral do Património Cultural
In: http://www.patrimoniocultural.pt
Fontes:
• ALMEIDA, José António Ferreira de. Tesouros Artísticos de Portugal. Porto, 1988;
• AURORA, Conde d´. Roteiro da Ribeira Lima. Porto, 1959;
• BARREIROS, Manuel de Aguiar (Pe.). Egrejas e Capelas Românicas da Ribeira Lima. Porto, 1926;
• LEMOS, Miguel Roque dos Reys. Anais Municipais de Ponte de Lima. Ponte de Lima, 1977;
• s.a.. "Vinhetas Vianenses". In O Comércio do Porto, Porto, 30 de outubro 1966.
Fotografias: José Pereira Fernandes
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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