Maria Fernanda de Barros Costa

 

Maria Fernanda de Barros Costa



José Pereira Fernandes



Fernanda Costa – Maria Fernanda de Barros Costa – é uma incontornável Figura Limiana da Gastronomia radicada na pequena localidade de Valhelhas, do concelho da Guarda, onde iniciou a sua actividade de empresária da restauração há cerca de 30 anos.

Fernanda Costa nasceu na freguesia de Cabaços, concelho de Ponte de Lima, a 17 de Fevereiro de 1957, sendo filha de Rosa Lopes de Barros, natural da mesma freguesia, e de Manuel Pereira da Costa, natural da freguesia de Calvelo.

Concluídos os primeiros estudos em Cabaços e Fojo Lobal, emigrou para França aos 12 anos de idade, fixando-se em Paris, onde já se encontrava seu pai e onde prosseguiu os estudos, na Alliance Française.

Dotada de apurado gosto pela culinária, incutido por sua mãe e pelo avô materno, Manuel Faria de Barros, Fernanda Costa encontrou em Paris o espaço e as oportunidades ideais para desenvolver a sua arte, que a viria a conduzir ao estatuto de figura de referência no competitivo mundo da gastronomia portuguesa.

Tendo regressado a Portugal aos 31 anos, fixou-se na improvável freguesia de Valhelhas, depois de um convite de uma amiga da família para visitar a sua terra natal, localizada na margem esquerda do rio Zêzere, em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, onde começou por abrir um bar, que explorou durante dez anos.

No entanto, o percurso ascendente de Fernanda Costa no mundo da gastronomia viria a ter grande impulso no ano de 2000, com a arrojada abertura do Restaurante Vallecula, instalado num recuperado edifício do século XVII localizado no largo principal de Valhelhas, povoação anterior ao período da ocupação romana, que nesta época tinha o nome de Vallecula. Tendo conhecido grande prestígio ao longo dos séculos desde que recebeu Foral de D. Sancho I, em 1188, Valhelhas foi vila e sede de concelho entre 1187 e 1885, conservando o seu Pelourinho quinhentista, símbolo do poder local municipal, que se levanta no mesmo largo, diante dos antigos Paços do Concelho, actual sede da Junta de Freguesia, e a escassos metros do edifício do restaurante.

Fruto da experiência e da mestria de Fernanda Costa, o Restaurante Vallecula atingiu um elevado padrão de qualidade, sendo frequentado por clientes provenientes de vários pontos do país e do estrangeiro, atraídos por uma cozinha criativa e requintada, que o coloca, merecidamente, no mapa da gastronomia nacional, como o comprovam as diversas distinções com que tem sido galardoado ao longo dos anos.

Entre essas distinções destacam-se três Garfos de Ouro e dois Garfos de Prata, atribuídos consecutivamente pelo Guia Boa Cama Boa Mesa nos anos de 2015 a 2019, sendo significativa a apreciação feita a Fernanda Costa na edição do ano de 2019 deste conceituado Guia do Expresso:

«Este é o restaurante que todas as regiões do país gostariam de ter. Simples mas, ao mesmo tempo, elegante e requintado, é um espaço que elogia a região, o cartão-de-visita da localidade que preserva o nome dado pelos romanos e um verdadeiro tempo de bom comer. A responsável por tudo isto é Fernanda Costa, uma cozinheira generosa que tem o gosto de partilhar com os clientes o seu saber, o seu dedo apurado para o tempero e a capacidade de olhar para um produto e, de imediato, o imaginar numa ou em várias confecções. Mas é também responsável pelo sucesso desta casa o anfitrião Luís Carlos, um verdadeiro cavalheiro, como já há poucos, exímio na arte de bem receber e conhecedor sábio dos vinhos que guarda na garrafeira e que, com prazer, sugere de acordo com as propostas da cozinha. Por esta altura convém fazer a ressalva de que é imperativo ir com fome a este pequeno restaurante. Antes que se aperceba, a mesa está cheia de entradas caseiras, como um irrepreensível patê de galo, que se derrete nas finas fatias de pão caseiro, ou um escabeche de perdiz, desfiada com jeito e de tempero acertado. Depois, nos pratos principais, serve-se cozinha de tacho, genuína, com sabores fortes e intensos, como o javali, o cabrito ou o galo, digno de figurar num qualquer compêndio culinário. Com naturalidade, as sobremesas caseiras são igualmente a não perder, em especial as compotas feitas de fruta fresca com o carinho de Fernanda Costa como ingrediente, e que pode, no final da refeição, levar para casa.»

No ano de 2020, o Restaurante Vallecula foi destacado, também pelo Guia Boa Cama Boa Mesa, com a distinção “Mesa com Mérito” – galardão criado neste ano para homenagear um conjunto de 20 restaurantes, a partir de critérios de longevidade, consistência de oferta, importância para a região onde se inserem, a forma como promovem e divulgam os produtos endógenos e a cultura gastronómica local – sendo igualmente significativos os fundamentos que conduziram à atribuição desta distinção, num universo de cerca de mil restaurantes de todo o país:

Será, literalmente, impossível atribuir apenas um mérito a este restaurante e à dupla Fernanda e Luís Castro, os criadores do restaurante e, respectivamente, o chefe de sala e a cozinheira deste templo de bem comer. Se há que reconhecer o mérito de ter colocado a povoação de Valhelhas no mapa, é obrigatório falar também da genialidade criativa da cozinha, que, usando apenas e só produtos locais, soube inovar na tradição, arriscando propostas atrevidas, sempre com resultados saborosos e surpreendentes. Luís Castro assume-se como um cavalheiro sempre disponível para uma sugestão de harmonização ou para ler nos clientes qual o rumo que o palato quer seguir. Mas é pela comida que se reconhece o mérito desta casa, das entradas que enchem os olhos e fazem querer provar tudo, como os patês e a perdiz finamente desfiada, os queijos de pasta soberba ou o pão acabado de fazer. Depois há os pratos principais, adaptando-se ao correr das estações e que podem incluir o javali, o galo ou o cabrito temperados e cozinhados com mão certeira. Memoráveis doces caseiros.”

Ainda antes da atribuição destes galardões pelo Guia Boa Cama Boa Mesa, já a prestigiada Revista de Vinhos havia distinguido o Vallecula com o “Prémio Restaurante do Ano (Cozinha Tradicional) 2012”, reconhecendo que “a sua cozinha mantém a velha qualidade”, com destaque para as entradas, “especialmente os enchidos, a mousse de grão-de-bico e o patê de abóbora”, e para “várias especialidades beirãs da região da Serra da Estrela, como o ensopado de cabrito, as carnes de vaca grelhada com alho e outras carnes”.

Do palmarés do Vallecula, sem paralelo na região beirã, destaca-se também o “Prémio de Excelência”, atribuído em 6 de Junho de 2015 pelo Comité Gastronómico do Centro, como reconhecimento pelo seu “contributo para o engrandecimento e preservação da cozinha tradicional portuguesa”.

É igualmente digno de realce o “Grande Prémio Cozinha Tradicional Portuguesa Maria de Lourdes Modesto”, criado pela Academia Portuguesa de Gastronomia para distinguir o melhor trabalho na divulgação e preservação do nosso património gastronómico, galardão atribuído ao Restaurante Vallecula em 2016, nomeadamente pela sua “consistência de qualidade” e “cuidado extremo com a genuinidade dos produtos”.

Ainda em 2016, no dia seguinte à divulgação da lista dos 14 restaurantes portugueses premiados nesse ano com estrelas Michellin, o Expresso considerava ser o Restaurante Vallecula igualmente merecedor deste prestigiado galardão, afirmando que, “mais do que um restaurante, este é uma espécie de museu onde as exposições são efémeras e circunscritas a uma refeição, todas preparadas no pequeno ateliê que é a cozinha. E que obras de arte de lá vão saindo!”.

Obreira de todo este sucesso, Fernanda Costa ocupa, com todo o mérito, um lugar de destaque entre as Figuras Limianas da Gastronomia, prestigiando não só a Beira Alta, mas também Ponte de Lima, a terra que a viu nascer e que nunca esqueceu.

Embora o Restaurante Vallecula justifique só por si uma visita a Valhelhas, existem nesta freguesia outros pólos de atracção turística, com destaque para o referido Pelourinho, classificado como Imóvel de Interesse Público em 1933; a Igreja de Santa Maria Maior (Matriz de Valhelhas), de origem medieval; o Solar do Dr. Emídio Pereira dos Santos, casa nobre datada do século XVIII; a ponte romana (também designada por ponte filipina), situada sobre o rio Zêzere, que terá origem numa estrutura anterior romana reconstruída em 1631; as capelas do Divino Corpo Santo e de Santo Antão ou São Sebastião; e sepulturas antropomórficas.

Valhelhas dispõe ainda de uma excelente praia fluvial envolvida por uma área de grande beleza paisagística, considerada um pequeno paraíso escondido nos recantos da Serra da Estrela.

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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