O Centro de Interpretação do Território (CIT), aberto ao público desde o dia 4 de março de 2017, foi criado para dar resposta à necessidade premente de inventariação do património imaterial existente no concelho de Ponte de Lima. Falamos de uma região ainda com um forte cariz rural e onde se podem encontrar práticas ancestrais que correm o risco de desaparecer, num futuro próximo, se não forem devidamente estudadas e preservadas.
Por património cultural imaterial entende-se todas “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e competências – bem como os instrumentos, objetos, artefactos e espaços culturais a si associados – que as comunidades, grupos e, eventualmente, indivíduos reconhecem como fazendo parte do seu património cultural” (Convenção da Unesco, 2003). Para a salvaguarda desse mesmo património, devem ser definidas medidas como a identificação, a documentação, a investigação, a preservação, a proteção, a promoção, a valorização, a transmissão – essencialmente por meio da educação formal e não formal – e a revitalização de práticas antigas e conhecimentos ancestrais que fazem parte da identidade cultural da comunidade ponte-limense. E é exatamente essa a principal missão do CIT – proceder a um levantamento exaustivo e rigoroso de todas as lendas e tradições, usos e costumes, atividades agrícolas, jogos tradicionais, ditos e meteorologia populares, festas, feiras e romarias, associações e coletividades, artesanato e artesãos no ativo, etc.; dedicar-se à produção de conteúdos, nomeadamente monografias, brochuras, guias e roteiros; e, acima de tudo, promover e transmitir esse mesmo legado cultural às gerações vindouras. Desta forma, o CIT pretende funcionar como o ponto de partida para a descoberta e exploração do território ponte-limense, convidando os seus visitantes a percorrer as 39 freguesias que compõem o concelho de Ponte de Lima e a tomar conhecimento in loco da sua riqueza patrimonial imaterial, assim como do património material (móvel e imóvel) e natural que lhe está associado.
No CIT são abordadas diferentes temáticas, nomeadamente o trabalho da terra, a produção do linho e a sua importância na vida da comunidade, a produção do pão e do vinho, o trabalho com os animais na agricultura, os sistemas de atrelagem e a relação animal/homem, o pastoreio e a vida nas montanhas, o folclore, as festividades, a fé e a devoção. Ao longo de um ano foram recolhidas em vídeo e áudio tradições e práticas ancestrais que ainda hoje fazem parte do quotidiano da comunidade ponte-limense. Destacam-se, a título de exemplo, a lavrada à moda antiga com recurso a juntas de bois e arado, a espadelada do linho com os cortiços e as espadelas, a lavagem da roupa no rio, o amassar do pão em masseiras e o fazer a cruz sobre a massa antes de levedar, entre outros costumes e atividades.
O Centro de Interpretação do Território, além da investigação, da promoção e da produção de conteúdos, pretende desenvolver diversas iniciativas relacionadas, quer com o calendário festivo, quer com o calendário agrícola de Ponte de Lima, através da organização de exposições, preferencialmente itinerantes, por meio da realização de recriações de desfolhadas, de malhadas, das vindimas, de jogos tradicionais, entre outras, e através do planeamento de oficinas criativas de tecelagem manual, de bordadura, de cestaria, de tamancaria, da cozedura tradicional do pão, assim como de palestras e outros eventos de comprovada relevância.
Na receção do CIT pode-se observar algumas entrevistas realizadas a pessoas do concelho que se disponibilizaram para falar sobre as suas atividades, assim como de alguns episódios marcantes das suas vidas. É possível apreciar também uma tela com vários postais antigos, do início do século XX, que ilustram diferentes práticas do dia-a-dia dos nossos antepassados, e seis figuras em granito, dispostas sobre o chão, que representam a nossa tradicional “Vaca das Cordas” que antecede o feriado do Corpo de Deus.
Na primeira sala – além da exposição de objetos relacionados com a produção do vinho – encontra-se uma adega do século XIX com um lagar composto por fuso e vara de pressão em madeira e peso em pedra. Este tipo de depósito era utilizado para fazer a pisa artesanal, esmagando-se as uvas com os pés.
Na sala superior, o CIT disponibiliza uma exposição permanente com sete peças alusivas às diferentes temáticas abordadas: o linho está representado pelo tear de pedal – equipamento de tecelagem –, o pastoreio pela croça – peça de vestuário usada pelos pastores para proteção da chuva, do frio e do vento –, a lavoura pelo arado – instrumento de mobilização da terra –, as festas e romarias pelo bombo – instrumento musical típico da região –, a fé e devoção pelas alminhas – monumento representativo da religiosidade popular e do culto às almas do purgatório –, o pão pela peneira – instrumento de limpeza de cereais –, e os animais pelo jugo de tábua – instrumento de atrelagem. No mesmo espaço, os visitantes podem igualmente assistir à exibição de dois vídeos que retratam, em cerca de 30 minutos, as principais características culturais e identitárias do nosso território.
Venha descobrir o património imaterial do concelho de Ponte de Lima! Visite-nos no Parque Temático do Arnado em Arcozelo – Ponte de Lima.
