O Centro de Interpretação da História Militar de Ponte de Lima procura ilustrar a relevância militar da vila e do território envolvente, abordando, numa perspetiva diacrónica, desde o período da Antiguidade até ao dealbar do século XIX, uma série de episódios bélicos que tiveram este território como cenário, mostrando igualmente a ação de limianos que se destacaram em diferentes cenários de guerra.
É impossível, contudo, fazer essa história sem alargar os horizontes, fato que justifica, apesar da incidência especial no caráter local, várias incursões pela mais genérica história militar do país e do mundo. Assim, os diversos figurinos, representando ao longo do percurso expositivo tipos de indumentária e de uniformes de diferentes épocas, e também os artefactos, originais ou réplicas, fazendo notar a evolução de diversos tipos de armas, como as espadas, as armas brancas de haste longa, as proteções metálicas para a cabeça, ou ainda as armas de fogo, ajudam a contextualizar os diferentes períodos históricos, complementando os diversos painéis informativos.
A nossa viagem começa pelo fundo do edifício e pelo fundo dos tempos, com o vale do Lima e território contíguo, o seu povoamento, a abertura de vias militares, destacando-se a posição central de Ponte de Lima, verdadeira encruzilhada de caminhos… Um confronto simbólico entre um guerreiro límico e um legionário romano - que integrou a expedição de Décimo Júnio Bruto ao noroeste peninsular e atravessou o lendário rio Lethes em 137 a.C. - traduz o choque entre a civilização castreja, de povoados fortificados, e a civilização romana, que algum tempo depois já erguia sobre o Lima uma ponte, não por acaso tão ligada à génese da vila.
A Idade Média entra depois em cena, primeiro com o guerreiro suevo, reflexo das invasões bárbaras, seguido do cavaleiro vilão, que aponta já para os primórdios da Nação.
O piso térreo do edifício, há alguns anos objeto de trabalhos arqueológicos, prolonga a Idade Média até ao estertor final, do século XII ao século XV, aproximando o visitante ao espaço nuclear de Ponte de Lima, iluminando alguns episódios como a fundação da vila, os seus trabalhos de fortificação e a tomada da localidade por D. João I, Mestre de Avis, em maio de 1385, no contexto da crise política que acabou por resultar no advento da segunda dinastia portuguesa. A centúria seguinte é marcada pela afirmação de D. Leonel de Lima, personalidade distinta que, entre outras coisas, faz erguer e “inaugura” a alcaidaria, que é este mesmo monumento arquitetónico onde nos encontramos e que forma o Centro de Interpretação. Não era possível deixar este anfitrião ancestral, homem charneira entre a Idade Média e a Idade Moderna, fora da sequência narrativa.
No andar nobre do edifício, integralmente consagrado à Idade Moderna, percebemos que, mais do que em qualquer outra época da nossa história, foi preciso sair do conforto do lar para mostrar o valor e alcançar a glória. Foram inúmeros os naturais de Ponte de Lima que, entre os séculos XVI e XVIII, se notabilizaram, no domínio militar, em vários pontos do globo: no Mediterrâneo, no Norte de África, no Brasil, na Índia, no Extremo Oriente…
Foi um período de grandes revoluções na estratégia e na arte da guerra, marcado por importantes transformações ditadas por novas tecnologias, novas armas, com reflexos na organização militar. Surgem os uniformes propriamente ditos.
O fim do século XVIII e os inícios do seguinte, com o envolvimento português na Campanha do Rossilhão, seguido da Guerra das Laranjas, prenunciam já as Invasões Napoleónicas. O Centro debruça-se, na última sala, sobre a Segunda Invasão, de capital importância para a história local e talvez o episódio militar mais marcante para Ponte de Lima e seus habitantes, cujos ecos parecem ressoar ainda hoje. São focados os primeiros meses de 1809 e sobretudo o mês de abril, quando os franceses atravessaram este território, deixando um rasto de destruição e morte. Chama-se igualmente a atenção para a presença do Batalhão de Caçadores 12, instalado nos antigos Quartéis, edifício que fora erguido já no século XVII como Hospital Militar de S. João de Deus, para servir durante a Guerra da Restauração.
Terminado o percurso pela exposição, o visitante acede ao terraço, onde pode desfrutar de duas amplas panorâmicas, a norte e a sul. Compreende-se talvez melhor, ao contemplar o exterior, muito do que se falou no interior. O mais atento e curioso dispõe de um conjunto de cinco painéis que fazem a interpretação da paisagem, com referências a acidentes naturais, lugares e estruturas arquitetónicas, procurando enquadrar e situar tudo o que na vila e à sua volta merece relevo, pela sua associação à história militar de Ponte de Lima.
Ao descer para abandonar o edifício cruzamo-nos de novo com a figura de Norton de Matos, envergando farda cedida pela família do ilustre militar. O General situa-se já fora do horizonte temporal definido inicialmente para este Centro de Interpretação, mas bem dentro de uma ideia que sempre guiou este projeto: a da possibilidade de, no futuro, continuar a ser contada a história militar de Ponte de Lima, desta feita a relativa a um tempo já bem mais próximo de nós.
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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