Colégio de Meninas do Arrabalde

 

Colégio de Meninas do Arrabalde




Mário Leitão



No dobrar do século dezanove para o século vinte, o velho burgo limarense revelava-se um lugar fértil para a assistência social dos idosos e para promoção educativa das crianças e jovens: o “Asylo de Inválidos – Camões” acolhia os idosos doentes e sem família; o “Real Asylo de Infância Desvalida de D. Maria Pia” amparava as crianças órfãs e desfavorecidas; a “Casa de Caridade de Nossa Senhora da Conceição” estruturava-se como uma virtuosa realidade assistencial aos idosos; e o “Colégio de Meninas” da Rua Vasco da Gama funcionava como internato de meninas de média e elevada posição social. Numa vilazinha que só há poucas décadas ultrapassara as suas velhas muralhas medievais, esse contexto socio-escolar da época parece ter sido caso único nos pequenos meios urbanos nortenhos.

A fotografia deste grupo de meninas, datada de 1915, é uma verdadeira preciosidade, não só pela excelente qualidade e estado de conservação da imagem mas também pela possibilidade de permitir identificar (cem anos depois!) muitas delas, que certamente serão reconhecidas pelos seus filhos que ainda forem vivos, ou pelos netos que conservarem memórias das suas avós. É o caso da jovem Maria Isabel de Magalhães, a quinta a contar da direita, em último plano, nascida no Brasil no dia 2 de Julho de 1901, que residiu e foi professora oficial na sua Casa de Santo António do Arejal, em Fojolobal, propriedade que herdou de seu pai, António Luís de Magalhães.

No seu legado da adolescência e juventude estão referidos cinquenta e dois nomes e datas de nascimento de meninas que, muito provavelmente, foram suas colegas no colégio, na maior com endereços nos municípios vizinhos. Algumas outras foram residentes no nosso concelho: Maria da Glória Lima, da Quinta da Glória, Fornelos; Ângela Albuquerque de Oliveira, de S. Julião de Freixo (provavelmente irmã ou prima de Virgínia Albuquerque de Oliveira, de Marrancos, Vila Verde); Maria Augusta Tinoco, Margarida Tinoco e Cândida Tinoco, da Quinta da Granja, Calheiros; Maria Júlia Maciel, da Rua Vasco da Gama; etc.

Nesse registo aparecem nomes de família muito conhecidos: Ana Vieira Lisboa; Gina Antas de Barros, de S. Vicente, Braga; Maria Alzira Pereira Dias de Oliveira Carvalho, de Fraião, Braga (e suas irmãs Maria Armanda e Helena Angelina); Augusta Olga Rebelo de Sousa, de Lisboa; Maria Amélia Jordão e Luísa Jordão, do Palacete Vila Flor, Guimarães; etc.

“Este estabelecimento de educação para o sexo feminino, acha-se instalado num bélo e amplo edifício, com magníficos terraços para recreios, quintal e soberbas vistas, obedecendo ás mais rigorosas prescrições higiénicas, fica situado num dos mais formosos locais da vila”, assim refere o panfleto publicitário que contém o programa e regulamento do colégio, que compreendia os “seguintes cursos: de primeiras letras; de Instrução Primária, 1.º e 2.º grau; de Instrução Secundária, compreendendo os estudos práticos das línguas – portuguesa, francesa e inglêsa – história sagrada e profana, geografia, física astronómica, aritmética, elementos de geometria, de história natural, de física e ginástica”. Paralelamente este colégio ensinava a ”cosêr, cortar, marcar, renda a bilros, frioleira, etc; bordar a branco, a matiz, a ouro, a escumilha, etc; trabalhos modernos de arte aplicada, metaloplastia; pyroescultura, choréoplastia e pyrogravura; flores artificiais em pano, sêda, veludo, cêra, etc; desenho artístico por modêlos e natural; pintura a aguarelas, gouaches, pastel e a óleo, por modêlo e do natural; música -  entoação, canto, piano, violino, bajolim, violão, etc”.

Curiosamente, ao contrário da mentalidade daquela época, as educandas não podiam ser sujeitas a qualquer medida disciplinar coerciva, porque “são banidos os castigos violentos”. Em caso de indisciplina, eram devolvidas aos pais.

Este colégio funcionou no edifício onde mais tarde estivera instalado o Hotel Universal e, posteriormente, a Assembleia Limarense e a Escola do Ciclo Preparatório, construído no ano de 1900, que foi propriedade de D. Beatriz Lima, benemérita de várias causas sociais e que residiu na Correlhã. Teria encerrado as suas portas durante o período da 1ª Grande Guerra, ou pouco tempo depois, provavelmente como consequência da convulsão originada pela trágica morte de uma educanda que caiu do 2.º andar do prédio.

Eis um importante documento inédito, capaz de abrir amplas janelas sobre o passado e sobre muita da gente que nos precedeu como habitantes desta Terra Limiana.

In: Cardeal Saraiva n.º 4486, de 12/07/2013

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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