Histórico Estabelecimento de Ensino de Ponte de Lima
O Asylo de Infância Desvalida D. Maria Pia, inaugurado no dia 10 de Julho de 1879 numa casa alugada na Rua da Abadia, foi criado no dia 1 de Dezembro de 1872, conforme consta no relatório da sua comissão instaladora datado do dia 7 de Setembro de 1884 e assinado pelo seu fundador, Dr. António Magalhães de Araújo Queirós. Depois de dois meses de funcionamento em instalações bastante precárias, foi transferido para outra casa alugada, situada no Arrabalde, no fim da Rua de S. João. Mais tarde, no dia 19 de Dezembro de 1880, o Asilo mudou-se definitivamente para o Largo da Regeneração, na sequência da compra que a sua direcção fez de um terreno situado entre a casa da escola do Conde Ferreira e o começo da estrada para Barcelos, e da arrematação de uma velha casa da Irmandade da Misericórdia, que posteriormente foi adaptada a salas de aula e dormitório.
Nos anais desta importantíssima instituição social limiana figuram os nomes das duas primeiras religiosas que nela desenvolveram notável voluntariado, falecidas no Asilo ao fim de alguns anos: Irmã Blandine, primeira superiora, que morreu no dia 31 de Agosto de 1882; e a Irmã Clara dos Anjos, a primeira professora responsável pela escola entretanto criada, falecida no dia 23 de Junho de 1884.
Em Setembro de 1884 o Asilo tinha nove meninas protegidas, das dezasseis que foram admitidas ao longo dos primeiros cinco anos de funcionamento. Além destas, algumas das quais pagavam uma mensalidade simbólica, havia um grande número de alunas externas que frequentavam o ensino primário, iniciado ainda na casa da Rua de S. João, quando o quadro social era de quatro religiosas. No citado relatório do fundador refere-se que a escola do Asilo ensina: a ler, escrever e contar; a coser, fazer meia, renda e crochet; a bordar a branco, a matiz, a lã, a missanga, a ouro e a marcar e fazer flores; língua inglesa e francesa; e a tocar piano (1).
O papel social e pedagógico que o Asylo D. Maria Pia desenvolvia na época era de tal forma importante que o furacão republicano nem sequer beliscou as Irmãs Franciscanas Hospitaleiras que ali desenvolviam a sua missão vocacional. E a instituição, apesar de diversas vicissitudes registadas em actas e jornais daquele tempo, enfrentou com superioridade a “concorrência” pedagógica que lhe foi movida pelo Colégio de S. José instalado no antigo Hotel Universal da Rua Vasco da Gama, que se transferira da cidade de Tuy.
Nessas décadas iniciais da República, o asilo também ministrava a instrução primária a meninas e meninos externos, o que muito contribuía para o seu frágil orçamento. Em 1932, perante as contínuas dificuldades financeiras para sustentar as 30 meninas asiladas, que passaram entretanto a ser definidas como FLORINHAS, a Irmã Superiora Maria Dilecta do Coração de Jesus solicitou autorização à direcção para criar um colégio anexo – Colégio D. Maria Pia –, cujos proventos ajudariam certamente o sector caritativo da instituição. As obras foram demoradas, mas em 1950 estavam concluídas, graças a um generoso donativo do Visconde de Cortegaça. Era superiora a Irmã Margarida Maria do Coração de Jesus, que sucedera à Irmã Maria Dilecta do Coração de Jesus. A elas se deve a abertura do colégio para 60 alunas, quota imposta pelo Ministério da Educação, que passou a ser dirigido pela Irmã Superiora Maria Clara do Menino Jesus em Novembro de 1950. Entretanto, já no ano lectivo de 1945/46 começara a diminuir progressivamente o número de alunos do sexo masculino. Em 1950/51 o Colégio D. Maria Pia passa a leccionar até ao 5.º ano do curso liceal, só para raparigas.
Neste breve apontamento tenho também de referir duas religiosas de grande importância para a educação juvenil limiana: a Irmã Superiora Maria da Puríssima Conceição, que chegou ao Asylo em 1932 como noviça, foi excelente professora de Francês e ali se manteve durante 42 anos (até 1974); e a Irmã Margarida Silvana da Silva Santos, que chegou em 1969 e assumiu o cargo de Superiora e Directora até ao encerramento do Colégio, em 1974, data a partir da qual desenvolveu intensa actividade pastoral e educacional na Paróquia, durante muitos anos.
Das fotografias do Asilo e Colégio D. Maria Pia que me chegaram às mãos, foi possível identificar a maior parte das alunas externas e as freiras nelas registadas. Para um grande memorial deste importantíssimo estabelecimento de ensino limiano será importante que todos colaborem, indicando outros nomes, datas e acontecimentos historicamente relevantes.
Isso aplica-se também às décadas de 30 e 40, período em que importa também completar a lista de meninos que nele estudaram. Entre esses meninos é possível referir: António Carlos Lima (advogado), Abel Carneiro (advogado), João Casimiro Ferreira, Amadeu de Araújo Pimenta de Castro, José Benvindo Martins, Emílio Dantas (advogado), César Esteves (professor), Sílvio Fiúza, Albino Mota, Fernando Sequeiros, João Carneiro, Mário Matias, Vasco Vilas Boas, João Ferreira (professor), José Correia (franciscano), Carlos Gomes, José Pinto Fontes e João Lopes.
Duas daquelas fotografias reportam-se a um dos passeios que anualmente o Colégio realizava, que funcionavam como visitas de estudo muito enriquecedoras para as alunas. Foi assim que muitas delas visitaram a primeira vez o Mosteiro da Batalha, o Palácio do Buçaco e o Santuário de Fátima, onde as freiras aproveitavam o momento para abordar contextos históricos e geográficos que faziam parte do ensino liceal. Numa delas consigo identificar minha irmã Júlia Leitão, Sameiro Portugal, Laura Mina, Isabel Lamas e sua irmã Teresa Lamas, Esperança Miranda, Mila Barros, Ana Paula Talina, Ana Alexandre e sua irmã Sérgia Alexandre, Céu Sá Lima, Lila Gandarela e a Irmã Puríssima, superiora de então. Na outra, além de várias atrás referidas, aparecem Conceição Martins, Amélia Matias, Teresa Guerra, Teresa Lamas, Nani Cunha do Vale, Graça Silva, Pura Lima Novo, Inês Galvão, Zéza Dias e sua Irmã Lili Dias, Virgínia, entre outras.
A fotografia obtida junto às escadas do Convento da Ordem Terceira, na Avenida dos Plátanos, faz-nos recuar 60 anos e leva-nos até ao início das férias de verão de 1957, quando as alunas internas já tinham abalado. Dessas seis dezenas de personagens, consegui identificar: Idalina Fernandes de Brito, Rosa Maria Sá Lima Lemos, Maria Adelina Barros Sá Lima, Maria Teresa Rodrigues Fiúza, Maria do Céu Mimoso, Ilda de Matos Lima Novo e sua irmã Maria Alice, Silvina Miranda de Sá, Raquel Costa Lima (Morais), Rosária Cerqueira, Elisabete Borges, Sameiro Portugal, Maria de Fátima Silva Melo e sua irmã Adelaide, Guilhermina Amorim, Pura Lima Novo, Zulmira Correia e sua irmã Celeste, Albina Leones, Mila Barros, Rosa Lourença, Zinha Vieira Lisboa, Glória Guerra, Celeste Marinho, Angelina Pimenta, Alcina Almeida, Maria José Freitas e Clara Gonçalves (esta última entre a Irmã Dilecta (superiora de então) e a Irmã Idalina, em primeiro plano. Com a mãozinha direita no colo da Irmã Puríssima, está a Maria José Dias (Zéza), a mais pequenina do grupo. Dele fazem parte duas refugiadas da Segunda Grande Guerra que foram acolhidas pela comunidade limiana: Rose Mari, alemã, e Hannelore, austríaca, que hão-de ser devidamente identificadas em obra futura. Por cima da Irmã Puríssima está a célebre Irmã Prazeres, indiana, a quem chamavam a “Teatcher”, por ser professora de Inglês. A freira da direita é a Irmã Zulmira, uma das minhas professoras de catequese no salão paroquial, na Igreja Matriz e na Igreja da Misericórdia.
Notas
(1) Estas considerações históricas estão referidas na CRÓNICA DO CENTENÁRIO, uma publicação da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras, da qual me chegaram à mão algumas folhas avulsas fotocopiadas. Essa obra, cuja totalidade desconheço, é certamente a mais valiosa e completa publicação histórica sobre o Colégio D. Maria Pia.
Texto editado a partir dos artigos publicados no jornal “Cardeal Saraiva” n.º 4608 e n.º 4609, de 7 e 14 de Abril de 2016, com o título “Memórias do Colégio D. Maria Pia”.
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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