Victor Leitão da Cunha

 
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Victor Leitão da Cunha




Mário Leitão



No verão longínquo ano de 1963, quando se deu a transferência do Externato Cardeal Saraiva do velho edifício do Pinheiro para o soberbo palacete da Vila Moraes, na Vacaria, aconteceu uma importante revolução cultural no meio estudantil da Vila, porque as férias grandes foram diferentes e memoráveis. Embora já houvesse alguma tradição de récitas juvenis promovidas pelas alunas do Colégio D. Maria Pia e pelos rapazes da Juventude Operária Católica, levadas à cena no Teatro Diogo Bernardes e no salão paroquial, foi nessas férias que a população assistiu a um autêntico espectáculo de variedades de índole académica, com a participação de dezenas de alunos do Externato e muitos artistas futricas, dando origem a uma saudável ocupação cultural dos tempos livres que perdurou por vários anos.

Foi nesse contexto da minha adolescência, prestes a ser finalista do curso geral dos liceus (antigo 5.º ano), que comecei a entrar no círculo de amigos do jovem músico Victor “Barros”, na época estudante do internato anexo ao Liceu Sá de Miranda, de Braga. Com a sua viola fazia orquestra com Celso Barbosa (contra-baixo), Jorge Quintela (acordeão), Carlos Borlido Pires Correia (trompete e acordeão), Alberto Óscar da Silva Barros (acordeão), Professor José Maria dos Santos (guitarra portuguesa), Rui Leitão Quintela (guitarra) e outros amantes da música. Depois, durante os dois anos seguintes, entrei definitivamente na amizade de Victor Manuel Leitão da Cunha, porque fomos alunos internos do Colégio D. Diogo de Sousa, na cidade de Braga, partilhando com ele, com o Aprígio Maia e com o João Távora a mesma mesa do refeitório.

Senti-me, pois, muito autorizado e superiormente honrado por ter falado acerca dele durante a apresentação do seu livro Poemas do Amor e do Cosmos, tentando caracterizar o que foi a sua juventude e o seu círculo estudantil de amigos, tanto nos bons velhos tempos da minha estadia na Cidade dos Arcebispos como durante os três anos em que aguardei, nesta santa terrinha, a minha vez de assentar praça nas fileiras militares. Durante esses quase cinco anos privei imenso com o Victor Leitão da Cunha, guardando inesquecíveis memórias de tertúlias, guitarradas e serenatas que abririam de espanto as bocas dos nossos filhos e netos.

A sessão cultural que a Dr.ª Ana Carneiro preparou na Biblioteca Municipal, à qual acorreram várias dezenas de amigos do Victor, contou com a participação de Franclim Castro e Sousa e de José Dantas Lima, que declamaram alguns poemas da obra apresentada, e com momentos musicais executados por alunos da Banda de Música de Ponte de Lima. Foi um emocionante reencontro do Autor com muitos amigos que já não via há 40 e 50 anos, bem documentado durante os agradecimentos finais.

Quanto à sua poesia, quero dizer que não me espantou a sua publicação, pois há vários anos que “tropeço” em sonetos e outros versos que Victor Cunha publicou no “Cardeal Saraiva”, no passado. Por outro lado, embora um tanto tardia, esta sua obra já há muito tempo que era por mim esperada, porque fui sempre um atento observador e apreciador da sua veia romântica, humanística e lírica, não tivesse sido ele um promotor de serenatas a algumas das mais esbeltas donzelas dos seus tempos académicos, em Ponte de Lima, Braga e Coimbra.

No poema Namoro, diz-nos que “O amor se é verdadeiro / Não tem dia nem momento, / Traduz-se num sentimento / Que se vive o ano inteiro!”. É um estilo premeditadamente enfático, facilmente compreensível por todos e muitas vezes com vocábulos da gíria popular, como afirma no prólogo. Mas o seu lirismo perpassa por toda a obra, desenhando gestos surpreendentemente carregados de simbolismos amorosos. Gostei particularmente dos versos em que define o acto de dar uma flor como um gesto de cruel desarmonia (por arrancar a flor à Natureza), salvaguardando, porém, que “se a dádiva é feita a uma mulher / com alma e coração que nos assombra / e faz nascer em nós amor e nostalgia / então dar flores é tornar mais certa uma certeza / é dar ao belo força e harmonia”. Concordo e compreendo o Autor, porque às vezes até uma florzinha de plástico, tecida nervosamente na aproximação da namorada, tem o condão de despertar o enlevo. Flor é flor! Flor é mulher e rima com amor!

No final do soneto Morrer de amor (Coimbra, 1968), tocou-me particularmente: “Este amor, esta visão ardente / Esta vida tão só e tão vazia / É mal que me destrói impunemente / É causa de louca nostalgia / Na alma de quem morre heroicamente / Na busca deste amor porque vivia”.

Aqui fica uma singela apresentação deste novo poeta limiano, antigo cadete do Curso de Oficiais Milicianos de Mafra, funcionário aposentado da Caixa Geral de Depósitos e finalista do Curso de Direito da Universidade de Coimbra, a quem a CHIADO Editora seleccionou para a ANTOLOGIA DE POESIA CONTEMPORÂNEA, Volume VII (2016), o que dá uma justa medida do valor literário deste nosso limiano.

 

Bibliografia 


Poemas do Amor e do Cosmos

Edição da CHIADO Editora (2016).

Esta obra marca a estreia literária do autor, que apresenta mais de 80 poemas, de sequência aleatória, destinados a permitir uma interpretação livre do tempo, espaço e conteúdo das composições poéticas coligidas.

Refletindo sobre o amor, o casamento, os conflitos familiares, a demagogia política, a corrupção, a morte e a fé - temas do quotidiano de interesse universal e intemporal - Victor Leitão da Cunha recorre a frases curtas, termos e expressões - algumas delas do âmbito popular - na convicção de que o entendimento pleno da palavra escrita deve ser apanágio de todos os leitores.


Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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