António da Silva Rodrigues Alves

 
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António da Silva Rodrigues Alves


Poeta Popular Correlhanense



Manuel da Fonte Rodrigues Alves



António da Silva Rodrigues Alves nasceu em 26 de Março de 1916 no lugar de Barrô, freguesia da Correlhã, Ponte de Lima, tendo falecido na mesma freguesia em 10 de Março de 1999.

Ficou órfão de mãe, ainda muito jovem, ao lado do seu pai, juntamente com mais três irmãs, que, trabalhando arduamente, em breve tempo conseguem pagar as dívidas contraídas com a prolongada doença da sua mãe.

Incorporado no serviço militar e cumprido o seu tempo, volta a ser chamado durante a Segunda Guerra Mundial, tendo sido destacado para os Açores.

Quando regressa, dedica-se intensamente à agricultura, como era destino da maior parte dos jovens do seu tempo.

Desde cedo sente inspiração pela poesia, nunca deixando de trazer consigo papel e lápis, registando muitas vezes, no campo, enquanto apascentava as vacas, os versos que iam surgindo, fruto das mais diversas vivências.

Com a chegada da democracia, sente que se torna mais fácil partilhar os seus versos, tendo publicado os seguintes livros:

- Em 1981, Discurso com Pontos de Reflexão - Para Todos;
- Em 1984, Discussão entre a Água e o Vinho;
- Em 1987, Tradições de Mil Novecentos e Quarenta;
- Em 1993, Pontos de Meditação;
- Em 1993, Bom Entendimento, em co-autoria com João Dias.

Mereceu artigos elogiosos em vários jornais, nomeadamente no “Cardeal Saraiva” e no “Povo do Lima”; na revista “O Anunciador das Feiras Novas” de 1993, Rui Quintela dedica-lhe o artigo intitulado "Um Homem de Rimas"; o seu nome integra ainda os livros Ensaio Monográfico da Correlhã 1995 e a Colectânea de Autores Limianos Contemporâneos, editada pela Câmara Municipal de Ponte de Lima em 1996.

Destaca-se ainda a inclusão de várias quadras deste poeta popular na tese de doutoramento de Alice Duarte Geraldes, Gente do Minifúndio - Produção e Reprodução Social em Mudança, na Freguesia da Correlhã, 1981.

Com queda para escrever quadras, considera-se desde cedo um poeta popular. As vicissitudes do tempo não permitiram que os seus estudos fossem além da instrução primária, não se deixando vencer por isso:

O homem ignorante
Fala verdade, não mente;
Não diz coisas d'importante
Mas diz aquilo que sente.

 Mas António pouco sabe
Traz isto da sua infância
Mas vai dizer a habilidade
Que existe na ignorância.

Estas singelas quadras mostram claramente o gosto de António da Silva Rodrigues Alves, sendo nessa linha de opinião inteligente, com alguma amargura e crítica atenta, que meu pai vai escrever até ao fim da sua vida.

 

 

Soneto dedicado ao poeta popular António da Silva Rodrigues Alves por Zeguiarense, em 28 de Julho de 1996, no Santuário de Nossa Senhora da Boa Morte

 

Oh! Exímia Senhora da Boa Morte!

Mui nobre e devoto poeta Salves,

Que Vos glorifica de Sul a Norte,

O António da Silva Rodrigues Alves.

 

Sabeis que do lugar do Souto ele é,

Desta Vossa freguesia da Correlhã;

Verdadeiro altruísta e de muita fé

Que Vos enaltece logo pela manhã.

 

É poeta popular, devoto e honrado,

Que fido vos louva incessantemente,

Neste Santuário e por todo o lado.

 

Cantando-vos com esmero ardente,

Com abnegado e são trabalho afincado

E de inaudito pensamento constante.

 

 

Bibliografia


1 – Discurso com Pontos de Reflexão - Para Todos

Edição do Autor – 1981.
Primeiro livro de António da Silva Rodrigues Alves, reeditado em 1991, com o subtítulo “Pode aqui esclarecer o que todos os Portugueses precisam de saber”.
No poema “Terceiro Ponto”, o Autor inclui a seguinte quadra:

Seis governos provisórios
E o oitavo está na vez
Todos a expor reportórios
Não sei qual deles menos fez.


2 – Discussão entre a Água e o Vinho

Edição do Autor – 1984.
Neste livro o Autor serve-se da água e do vinho para, “pondo-os a dialogar”, cada um expor as suas qualidades, iniciando:

Entre a água cristalina
E o sumo da videira,
Por coisas que Deus destina
Discutem desta maneira:
O vinho
A todos dou alegria,
Aos tristes faço cantar
É tanta a minha virtude
Que nem posso explicar.
A água
Ficai sabendo que a água
Deus lhe deu toda a valia,
Quer seja pura ou impura
Seja quente ou seja fria.


3 – Tradições de Mil Novecentos e Quarenta

Edição do Autor – 1987.
O Autor relata, em verso, as dificuldades que passou quando tinha vinte e poucos anos. Alerta a todos, e principalmente os mais novos (como na capa do livro), para saberem enfrentar, como ele, os obstáculos que a vida a cada um se apresenta.
Transcrevemos a primeira e última quadras:

Peço atenção a todos
que vou dar informações.
Explicar aos modernos
as antigas tradições.

Agora para terminar
eu vou esclarecer quem sou,
que em mil novecentos e quarenta
grande crise atravessou.


4 – Pontos de Meditação

Edição do Autor – 1993, reeditada em 1995.
No primeiro poema deste livro, o Autor começa por esclarecer:

Como o mundo se envolveu
Em tantas evoluções,
Eu queria explicar
As minhas opiniões.

Assim, peço atenção a todos
Para aquilo que vou dizer,
Porque vou dar um esclarecimento
Que todos precisam saber.


5 – Bom Entendimento

Livro editado em 1993, em co-autoria com João António Soares Vaz Dias.
Este curioso livro reúne oito cartas em verso trocadas com João Dias, poeta popular de Guimarães, que António da Silva Rodrigues Alves conheceu na festa da Senhora da Boa Morte, na Correlhã.
O título é retirado de uma das últimas quadras do livro, em jeito de conclusão:

Eu e o João Dias
Sem termos conhecimento
Tivemos este prazer
De ter bom entendimento.


6. António da Silva Rodrigues Alves – Antologia e Biografia

Obra publicada em Dezembro de 2021, com organização de Manuel da Fonte Rodrigues Alves e edição de Maria da Fonte Rodrigues Alves, filhos do Autor.

[Livro] "Criteriosamente organizado por Manuel da Fonte Rodrigues Alves, que nos habituou a interessantes publicações, sempre viradas para a sua e nossa terra, desta vez, com dedicação e carinho pela memória de seu pai, dá assim oportunidade aos mais novos de tomar contacto, através da poesia popular, com uma maneira de ver e sentir que o tempo vai transformando.
Ao ler esta obra, vamos percorrer vivências antigas, encontrar amigos, muita devoção, conselhos, reconhecimento pela liberdade, recomendações de prudência, alegrias e tristezas e um sem número de tradições que ainda dizem tanto à nossa gente.
Estamos gratos por esta mostra de um talentoso artista correlhanense.”
FÁTIMA OLIVEIRA
Presidente da Junta da Freguesia da Correlhã


Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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