João Alves dos Santos (Nocas)

 
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João Alves dos Santos (Nocas)




Mário Leitão



Pouca gente o conhecia por João Alves do Santos, seu nome de baptismo, mas se alguém perguntasse pelo NOCAS, era muito fácil referenciá-lo como “o do senhor Cónego” ou “o da Oficina”. Sendo um epíteto algo comum no género feminino, mas manifestamente raro no masculino, esse termo tornou o nosso Nocas numa referência inconfundível da nossa vila.

Contudo, pouco se sabe verdadeiramente da sua vida e é bastante difícil integrá-lo no contexto social e familiar em que nasceu, porque, jurídica e administrativamente falando, o Nocas não teve pais. No seu registo oficial, lavrado oito anos depois de ter vindo ao mundo, figura como filho de pais incógnitos nascido no lugar de Barral, freguesia de Correlhã, no dia 7 de Junho de 1939.

Tanto quanto se sabe, sua mãe teria sido uma senhora da família das “Cobraceiras” que também teve outra filha a quem o Nocas chamava “minha irmã”. Portanto, João Alves dos Santos teve uma infância absolutamente desfavorecida e foi sempre amparado pela caridade alheia até que o Cónego Manuel José Barbosa Correia o recolheu na sua Oficina de S. José pela mão de D. Palmeira Malheiro, senhora da Quinta da Agra, na Correlhã.

Desses tempos ficaram as memórias da professora com quem fez a instrução primária, D. Alzira Pacheco, e vários amigos que ainda hoje a ele se referem como “estudioso” e “com muito jeito para o desenho”. É o caso do Arquitecto Ovídio Carneiro, dos irmãos Manuel dos Santos de Matos (Zé-Néu) e João Guerra dos Santos de Matos, naturais de Bertiandos, e de Alberto do Vale Loureiro, da Seara, que foram seus contemporâneos naquela instituição limiana.

Como aconteceu com Alberto Loureiro e muitos outros artistas gráficos que trabalharam na tipografia da Oficina de S. José, dirigida por Augusto Castro e Sousa, João Alves dos Santos enveredou naturalmente pelo mundo do desenho e da composição gráfica, tendo colaborado durante muitos anos com a Tipografia Moderna, de Viana do Castelo. Na fase da sua vida em que viveu e estudou nesta idade, Nocas viveu com a família de Alberto Rodrigues Simas (1923-2003) e D. Adelaide dos Santos Araújo, proprietários dessa tipografia. Nos tempos livres colaborava activamente na composição de cartazes festivos, capas de livros e outros trabalhos gráficos.

Tendo concorrido para o ensino, foi colocado sucessivamente em várias escolas do País, nomeadamente no Alentejo e em Lisboa, acabando a sua carreira docente na Escola Secundária de Caminha, onde leccionou Trabalhos Manuais.

Da sua produção artística resultaram muitas aguarelas e desenhos espalhados por diversos seus amigos. Um deles, João Luís Pereira Vieira (Fabinhas), pela amizade que lhe dedicava, foi presenteado com várias obras e fotografias da sua vida.

No tempo da sua adolescência e da juventude, Nocas passava as férias grandes, as do Natal e as da Páscoa com a sua protectora D. Palmira Malheiro, em quarto próprio. Mais tarde, na juventude avançada, também teve alojamento na casa do Cónego Manuel Correia e de sua irmã D. Rosinha Correia. Estes dois factos denotam que se tratava de um jovem educado e cumpridor.

Os ambientes familiares onde foi acolhido durante a sua vida constituíram as suas verdadeiras famílias. De resto, Nocas foi sempre bastante reservado, introvertido e pouco comunicativo. A sua vida de solteiro foi uma verdadeira opção, talvez a sua vocação natural.

 

Texto editado a partir da crónica publicada no jornal “Cardeal Saraiva”, na rubrica “Gente Limiana”, com o título “NOCAS, artista e professor (1939-2010)”

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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