José Rosa de Araújo

 

José Rosa de Araújo


Historiógrafo e Investigador Regionalista, que instalou e dirigiu o Arquivo de Ponte de Lima

 



António Manuel Couto Viana



 José Rosa de Araújo nasceu em Viana do Castelo, em 1906.

Aquando do seu centenário, a cidade, que já lhe atribuíra um Largo, reeditou-lhe, por iniciativa da Câmara Municipal, um livro seu de evocação histórica, quanto a mim, o mais representativo da sua vasta obra: Rasto de Sombras, cuja primeira edição tem capa de meu Pai.

Manuel Couto Viana admirava-lhe, sobremaneira, o talento de cientista e investigador das coisas da sua terra, admiração que Zé Rosa (como lhe chamavam os íntimos) largamente lhe retribuía.

Depois do falecimento de meu Pai, o arqueólogo da Ribeira Lima passou a cartear-se comigo, numa copiosa correspondência, difícil, por enquanto, de ser divulgada na íntegra, pelo que tem de “má-língua” sobre gentes e episódios escabrosos da nossa “pátria-chica”.

De facto, ainda é cedo para trazer a lume tais documentos históricos, mas impiedosos e, até, chocantes.

Em 1980, o então Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, Dr. João Gomes de Abreu e Lima, membro de uma família ilustre da região, que eu conheci adolescente, saído das Caldinhas Jesuíticas, e com quem partilhei cavalgadas e acampamentos, pelos ermos dos montes limianos, sempre na companhia de António de Abreu Castelo Branco (Fornos), cunhado do Conde d’Aurora e administrador do concelho de Ponte, convida José Rosa de Araújo, amuado com Viana e com alguns vianenses, para exercer funções culturais na vila, justamente conhecida pela Atenas do Alto Minho.

Este facto desvaneceu-o, e é, nos seguintes termos, que mo comunica, de Ponte de Lima, a 13 de Abril de 1980, no trecho de uma carta pessoal e inédita:

(…)

“Aqui, em Ponte de Lima, consegui entusiasmar um grupinho e o Presidente da Câmara Municipal, o Dr. João Abreu Lima, que deves muito bem conhecer dos tempos em que toda a tua família veraneou por São Martinho. A Maria Manuela conheceu-o muito bem. Aparecia lá a cavalo com o António de Abreu… Era o Joãozinho… Tem seis filhos e já dois netos. É um homem activo, empreendedor e de vistas largas. Além do Inventário Artístico do concelho (já tem para cima de 800 fotografias) encarregou-me da redacção do ARQUIVO DE PONTE DE LIMA, cujo 1.º n.º sairá em princípios do mês que vem. Será um repositório de assuntos de arte, arqueologia, etnografia, etc. etc. É claro que estará à tua inteira disposição para o que julgares conveniente.

Eu tenho aqui o ambiente que sempre desejei e nunca encontrei em Viana.

Calcula que a redacção do ARQUIVO e ARQUIVO MUNICIPAL será na Torre da Cadeia Velha que está a ser soalhada. Terei dois pisos por minha conta. Será a Torre do Tombo de Ponte de Lima.

O meu trabalho é voluntário. A Câmara apenas me paga a aposentadoria e a despesa com rolos fotográficos e trabalho de atelier fotográfico que é feito em Viana por um profissional. A máquina fotográfica é minha. Mas trabalho com gosto e entusiasmo. (…)”

Foi sempre “com gosto e entusiasmo” que José Rosa de Araújo dedicou a sua inteligência e conhecimento ao serviço da cultura limiana, em obras suas ou por ele organizadas, promoção de exposições, congressos, pesquisas várias, desenhos da sua caneta sensível e hábil.

Ali, na Torre da Cadeia Velha o encontrei muita vez, rodeado de livros e papelada, sorridente, entre as paredes de pedra vetusta, uma nesga da janela sobre o rio vagaroso, a paisagem bucólica de além-ponte, pintada de verduras e branco casario, uma torre sineira, o granito de um solar, a montanha dominadora…

Feliz. O espírito cheio de projectos, iniciativas novas, que foi realizando através dos anos.

A doença, a velhice, levaram-no dali à força, para o Porto, onde faleceu em 1992.

Naturalmente, com Ponte de Lima no coração.

8 de Abril de 2008
In: Limiana - Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 8, de Junho de 2008

  

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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