José Manuel Dantas de Melo (1 de julho de 1948 – 13 de fevereiro de 1975), artista autodidata, natural de Ponte de Lima, começa desde jovem a dedicar-se à arte na área da Escultura. Expõe com regularidade a partir de 1970 em Ponte de Lima, Viana do Castelo, Porto e Lisboa os seus trabalhos plásticos esculpidos em madeira. Nos últimos anos da sua vida dedica-se à Fotografia, mais concretamente em casamentos e eventos sociais. Porém, explora esta arte de uma forma mais poética, através do retrato social, eternizando as figuras típicas da sociedade.
Testemunho de Amândio Sousa Vieira (agosto, 2015)
Apesar de um aparente esquecimento, nunca deixou de estar no coração das pessoas.
Muito se falou, pouco se fez e muito mais se dirá sobre o Zé. Não temos memória de outro tratamento para os seus amigos: era o Zé e desta maneira sempre nos entendemos.
A sua compleição física, aliada a um temperamento rebelde, faziam dele um líder que todos aceitavam.
Gostava dos pequenos, por mais desprotegidos, das crianças, dos mendigos e até dos
animais.
Não tinha medo de nada. Tratava o rio, as ruas e praças por tu, enfrentava a “Vaca das
Cordas” como se o touro fosse um bezerro.
Crescemos a admirar esse misto de generosidade e destemor. A liberdade que sempre sonhou tinha expressão na permanente inquietação. Lugares fechados e rigores de mestres não o faziam feliz.
O caminho que escolheu iluminou os melhores anos da sua curta existência. A arte e a liberdade chegaram quase ao mesmo tempo.
Na escultura pode expressar o que lhe ia na alma e por lá encontrou formas de comunicar até aí impossíveis. Depois veio a fotografia.
Retratou tudo o que gostava e mais o que necessitava para sobreviver. Deixou a marca do seu enorme talento nos retratos que fazia. As crianças, os desfavorecidos da sorte e os animais voltam a preencher a sua vida. O que guardava da infância e dos primeiros anos da adolescência vem povoar a sua expressão artística.
Não viveu muito tempo. A vida mede-se, mas o talento não tem limites e é aqui que reencontramos o nosso amigo e todos voltamos a partilhar as inquietudes e os anseios de uma geração que o Zé personificou à perfeição.
Opinião de Catarina Lima (setembro de 2015)
José Dantas, mais conhecido por José Micamé, foi uma das personagens de Ponte de Lima que mais marcou a sua geração. As pessoas do seu tempo não se esquecem dele, relembram-no com uma doçura, um respeito e uma saudade quase inexplicáveis. Os mais jovens, quando conhecem um pouco do seu percurso e da sua maneira de ser, ficam atentos, fascinados…
Parece que o Zé habita os lugares da vila, como um arcanjo que perdeu o seu rumo, mas que encontrou um refúgio nos corações dos seus amigos e conhecidos.
Nascido e criado na vila de Ponte de Lima, acarinhou os mais fracos, questionou os mais fortes, mostrando a sua grande generosidade nos gestos mais simples. Tinha um coração imenso, e por isso, amava a natureza e os animais. Um homem que não devia ter nascido na época em que nasceu, ou talvez devesse, o certo é que a sua inteligência, sensibilidade, coragem e criatividade foram os principais pilares da sua existência e marcaram a memória das gerações que o acompanharam.
A arte de José Dantas
Tinha um espírito de génio, um “cata-vento de humores” como o definiu José Sousa Vieira, num poema em sua homenagem, característica marcante de um visionário, que se refletiu na sua arte, plena de irreverência e originalidade. Podemos constatar essa marca pela forma e expressão das suas esculturas de madeira, matéria-prima, muitas vezes, recolhida do rio Lima que, com as suas correntes, lhe dava a forma que desejava para concretizar as suas ideias. Na escultura, materializou as suas angústias, medos e lutas, vincadamente sociais: a guerra, a condição humana, a mulher, o amor e a religião, realçando uma mensagem de carácter inconformista e idealista.
Mais tarde, descobre a magia da fotografia que lhe concede um meio de sobrevivência e de expressão artística e poética. As imagens que capta são reveladoras de umagrande sensibilidade e de uma originalidade fértil, como podemos constatar no seu interesse em retratar as pessoas do povo, inseridas no seu quotidiano, sobretudo as crianças e as pessoas mais humildes. A máquina fotográfica acaba por ser um acessório imprescindível no seu dia-a-dia e a principal ferramenta para expressar a sua preocupação com a realidade social, sobretudo, ao nível das desigualdades sociais.
Testemunho de Vítor Silva Barros sobre a Escultura de José Dantas
“Durante anos atravessou a vida com as esculturas às costa, num saco de vagabundo ou de poeta, mostrando-as em qualquer parte onde houvesse alguém para ver, nos sítios que eram seus, entre Ponte de Lima e Viana: as ruas de toda a gente, os cafés e as praças dos sem lar, as lojas vazias que ele transformava em “galeria” com as suas mãos – para si e para os outros.
Às costas, levava a Guerra, a Fome, o Sonho, a Mãe, a Injustiça, a Solidão, a Beleza, aquela grande interrogação diante da qual em se ensimesmava, à procura da reposta, que até talvez lá estivesse e não tenha tido tempo de encontrar.”
Micamé: Fotógrafo - Saber mais
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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