Maria Brandão

 
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Maria Brandão




Cláudio Lima



Maria Cândida Amorim Ferreira Brandão nasceu acidentalmente no Rio de Janeiro (Brasil) a 16 de agosto de 1928. Acidentalmente, porque, ela o diz, "Não nasci no Brasil / Nasci sim em Refóios / (...) Minha mãe me levou / No seu ventre escondida / Fui ali a semente / Que se anicha e aninha / Que ali se fez vida." E mais adiante: "Eu nasci junto do Lima / Em noite de luar / Nove meses depois / Fui nascer no Brasil / À beirinha do mar/ (...) Tenho o doce do rio / O salgado do mar." (Do livro Somente, pgs 32 / 33).

Com dois anos apenas regressa definitivamente a Portugal, passando a residir no lugar da Granja da freguesia limiana de Refóios, de onde seu pai era natural. Estudou no colégio D. Maria Pia até ao 2.º ano, passando a exercer o magistério primário, como regente até 1976, ano em que concluiu no Porto o curso oficial daquele nível de ensino. Lecionou em várias escolas de vários municípios do Alto Minho (Ponte de Lima, Arcos de Valdevez, Valença e Monção) e, no ensino particular, nas cidades do Porto e V. N. de Famalicão. Aposentou-se em 1994. Vive na Póvoa de Varzim.

Dedicada apaixonadamente à poesia, colaborou, com o nome próprio, pseudónimos ou anagramas (Maria Brandão, Maria Cândida Brandão, Maria Mateus, Bonita do Monte, Riama, etc.) nos jornais Cardeal Saraiva, Falcão do Minho, Vianense, Vanguarda e outros. Publicou, em edição de autor e impressos na Tipografia Guimarães, dois livros: o supracitado Somente (1980) e Rosário Lírico (1990). Sempre num registo fiel à nossa tradição lírica, privilegiando os conteúdos de sentimento e sensibilidade em detrimento dos requintes formais, a sua poesia evidencia um espírito ansioso de amor e partilha, essenciais à plena realização pessoal e coletiva. "Menina querida, que sejam teus passos / Presente de cravos, mãos cheias de rosas / A vida poema dum só verbo: amar" (Somente, pg 13); "Queria que existisse Deus / Para que ordenasse ao mundo / Amar no amor na verdade / E matasse a falsidade / De tanto amor sem amar" (Id. pg 34); "Sou a centelha do sol / que gosta do arvoredo // Sou poente e arrebol / Sou a coragem e o medo" (Rosário Lírico, pg 18); "meu sonho, meu sonho, fica-te comigo / sê realidade, torna-me feliz / eu quero ter asas, eu quero ir contigo / a terra distante, a ignoto país" (Id. pg 28).

No meio dessa poesia intimista, dessa como que ânsia de evasão de um mundo agreste e hostil, surpreende-nos, em contraponto, um que outro poema refletindo mais harmoniosamente a relação da autora com o meio ambiente, a pureza fascinante que a nossa paisagem rural lhe oferece à fruição e ao elã criativo. Dois quadros, um de cada livro, aqui se reproduzem a atestar o seu encantamento perante o fluir do rio Lima:

 

Areia do rio Lima

Coração, fogo a saltar

Rio Lima, areia fina

Meu barquinho a balouçar

 

Areia do rio Lima

A saudade vai voltar

Água clara, areia fina

Meu barquinho a navegar

 

Eu sou areia do Lima

Que o Lima não quer beijar

Água clara, areia fina

Meu barquinho a navegar

 

(poema Areia do rio Lima

do livro Somente, pg 22);

 

Amigo

Corre comigo

Por estes campos floridos

Vem colher a madressilva

Vem ver o romper da aurora

 

Vem ver crianças saltar

Vem ver o Lima correr

Vem escutar o murmúrio

De almas que sabem viver

De almas que sabem amar

 

Amigo, anda daí

Vem colher mágoas com flores

Vem colher flores silvestres

Vem ver o Lima correr

Vem escutar os cantores

Desta paisagem limiana

Vem! Vem sofrer e sonhar!

 

(poema Amigo! do livro

Rosário Lírico, pg 43).

 

 

O saudoso João Marcos, num breve intróito a Somente, adverte sensatamente: "É evidente que não nasceu uma nova estrela no céu da poesia portuguesa, mas este livrinho que ora se publica está fadado, palpita-me, a ser rapidamente absorvido no mercado poético da nossa terra, como tem acontecido com muitos outros, alguns dos quais não atingem o seu valor literário."

Tenho dúvidas que o palpite do grande escritor e poeta limiano se tenha concretizado. E tenho pena.

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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