Augusto de Castro e Sousa

 

Augusto de Castro e Sousa




Fernando Castro e Sousa



Quando Augusto de Castro e Sousa, após onze anos de ausência em Lisboa, voltou a Ponte de Lima, para dar continuidade à tipografia do pai, Eduardo Castro e Sousa, não se augurava que regressasse tão determinado a revolucionar localmente relevantes aspetos da arte de Gutenberg. Tinha 32 anos.

Nascera em Braga, a 30 de abril de 1915, na freguesia da Sé, mas cedo os pais se fixaram em terras de Feijó, às quais devotou um desmesurado amor. E que jamais se cansou de exaltar e promover.

Atingida a idade do serviço militar, foi colocado na capital, onde, findas as obrigações castrenses, se lhe ofereceram oportunidades favoráveis de desenvolvimento profissional e constituição de família, casando com Adelina Rodrigues Alves (assinalável intérprete da gastronomia limiana).

No regresso a Ponte de Lima, em 1947, os seus trabalhos gráficos começaram a surpreender pela versatilidade e especialmente pela introdução da cor, uma novidade nunca observada na vila e de difícil aplicação na época.

Com os cartazes das grandes festas das freguesias do concelho – Senhor da Saúde, Boa Morte, Senhor do Socorro, São Silvestre, São Cristóvão, N. Sra. da Cabeça e Senhora da Aparecida, de Balugães, concelho de Barcelos – impressionou clientelas essenciais.

É também nesse ano que lança “O Anunciador das Feiras Novas”, anos depois persistentemente prosseguido pelo seu dileto discípulo, Alberto do Vale Loureiro.

Em 1950, concebe, coordena e monitoriza o notável “Elucidário Regionalista de Ponte de Lima”, que se revelará um precioso testemunho da história contemporânea do concelho e um elucidativo guia dos autarcas de espírito sensível à cultura e ao conhecimento dos vultos mais destacados do cenário concelhio, sob edição da Livraria Soares Correia, mercê da colaboração do seu amigo, António Soares Correia.

Em Abril de 2005, um grupo de cidadãos tomou a iniciativa de reeditar o Elucidário, suprindo a ansiedade daqueles que o pretendiam adquirir, fazendo-o no nonagésimo aniversário do nascimento de Augusto Castro Sousa, numa homenagem à qual a Câmara Municipal de Ponte de Lima, presidida pelo Eng.º Daniel Campelo, se associou.

“Nas Horas Livres da Minha Profissão” consagra, em 1960, Augusto de Castro e Sousa, como autor. O livro compõe-se de textos que foi publicando ao longo do tempo e de outros escritos expressamente para o integrar.

Sensível à música, mostra-se um executante exímio de guitarra clássica, guitarra portuguesa, banjo e bandolim, sendo famosas as reuniões com amigos musicalmente envolvidos, que proporcionavam excelentes concertos.

Sempre sequioso de conhecimento, foi um estudioso contínuo, culturalmente insaciável, permanentemente atento ao fenómeno literário e político e ao degradado panorama social que aos portugueses se deparava.

Em breve a sua consciência cívica o conduziria ao jornalismo, colaborando com jornais tão conceituados como “República”, “Diário de Notícias”, “Notícias da Amadora” “Jornal de Felgueiras” e “Gazeta do Sul” e os regionais “Cardeal Saraiva”, “A Aurora do Lima” e “A Terra Minhota”.

Nas suas publicações denotou sempre o seu grande apego à defesa dos interesses de Ponte de Lima e da sua gente. Apelou a partir de 1960 à salvação do Teatro Diogo Bernardes, sugerindo à Câmara Municipal, ao Ministério da Educação e ao SNI que procedessem à sua aquisição.

Em 1964, enfrentou com coragem o combate ao aumento da eletricidade e exigiu que fosse concretizado o projeto de iluminação de 47 freguesias do concelho. Em 1965, propôs a abertura da Biblioteca Municipal e questionou o desaparecimento das Cartas de António Feijó. Em momentos de crise diretiva na A. D. Os Limianos e na Banda de Música de Ponte de Lima, promoveu movimentos que levassem à continuidade destas coletividades. Também os Bombeiros Voluntários eram a sua grande paixão, sendo um colaborador assíduo desta instituição humanitária.

Tem descrições memoráveis sobre as Marchas de S. João, a Vaca das Cordas e as Feiras Novas. Entre 1964 a 1966 defendeu a construção de habitação social e de lares de idosos em Ponte de Lima. Noticiou na ocasião a decisão de se construir uma nova ponte (Ponte de N.ª Sr:ª da Guia), dando uma perspetiva de desenvolvimento advindo dessa construção. Para se vencer a crise na agricultura, ainda em 1964, incitou ao desenvolvimento do cooperativismo.

Era um homem de infatigável entrega à intervenção social, colocando acima de tudo e de todos o interesse coletivo e o bem-estar da população. O seu sentido de humanidade transcendia todas as fronteiras, dada a sua constante preocupação com os valores da paz e da solidariedade. Admirava sobretudo os grandes escritores, a que chamava “luzeiros do universo”, mas também personagens como Gandhi, Luther King, Roosevelt e Winston Churchill. E enaltecia o papel do De Gaulle, na Segunda Grande Guerra.

Participou, com entusiasmo, na candidatura de Norton de Matos à presidência da república, em 1949, e do General Humberto Delgado, em 1958. Nas eleições de 1969 e 1973, associou-se ao Movimento Democrático Português / Comissão Democrática Eleitoral.

Pelas encruzilhadas da cultura, umas vezes, outras do amor à liberdade, criou sólidas e inestimáveis amizades, nem sempre de pensamento convergente, com o Visconde de Cortegaça e Eurípedes de Brito (Ponte de Lima), António Arnaut e Fernando Vale (Coimbra), António Amorim (Brasil), Oliveira e Silva, Aurélio Barbosa, Júlio de Lemos, Ribeiro da Silva e Rodrigo Abreu Lima (Viana), Nuno Simões (Famalicão), Almirante Ramos Pereira (Âncora), Miguel Oliveira (Lisboa) Januário Barbeitos (Monção), A. Garibáldi (Felgueiras) e Vasco da Gama Fernandes (Leiria).

Decorriam os primórdios dos anos sessenta, passou a dirigir a tipografia/escola da Oficina de S. José, onde teve o ensejo de formar jovens tipógrafos de excelente nível, mas, simultaneamente, homens de bem, alicerçados em elogiáveis princípios. Nunca se alheou das trajetórias de alunos a quem procurou incutir a ambição de se valorizarem pela instrução e pela cultura.

As suas influências terão sem dúvida contagiado os filhos Franclim Sousa e Fernando Sousa e os sobrinhos Luís e Amândio Sousa Dantas, José e Amândio Sousa Vieira, que Ponte de Lima conhece pelas atividades que lhes possibilitaram emergir da mediania.

Os que pelo distanciamento no tempo o desconheceram encontrar-lhe-ão referência no livro “Figuras Limianas” e na toponímia em que o Município inscreveu o seu nome, num justo reconhecimento da sua ação em prol do limianismo.

Augusto de Castro e Sousa deixou-nos a 17 de janeiro de 1985.

Mas um poema do filho Fernando Sousa diz-nos que “nas margens da vila dos poetas / o seu espírito cavalga indomável / ao encontro do sol que ansiou: / universal, humano e generoso”.

 

Publicações


1O Anunciador das Feiras Novas

Publicação lançada por Augusto de Castro e Sousa em 1947, tendo como principal objectivo promover e divulgar as festas concelhias e contribuir para o progresso de Ponte de Lima.

Com um total de 36 páginas, este opúsculo abria com um texto de Augusto de Castro e Sousa, no qual enaltecia a “fidalguia tão tradicional” com que o Povo Limiano recebe os seus visitantes na altura das “Feiras Novas”, “atraídos pelo fulgor surpreendente das pinceladas extraordinárias da nossa beleza paisagista, pelo encantador cenário de maravilhas que são as Festas de Ponte de Lima”

Esta publicação foi continuada a partir de 1984 por Alberto do Vale Loureiro, seu discípulo, com o subtítulo de “Publicação Anual de Informação, Cultura e Artes Limianas”.


2 – Elucidário Regionalista de Ponte de Lima

Obra lançada em 1950 por Augusto de Castro e Sousa, com a colaboração do seu amigo António Soares Correia, precioso testemunho da história contemporânea do concelho de Ponte de Lima e um elucidativo guia dos autarcas de espírito sensível à cultura e ao conhecimento dos vultos mais destacados do cenário concelhio.


3 – Nas Horas Livres da Minha Profissão

Obra publicada em 1960, que consagra Augusto de Castro e Sousa como autor. O livro compõe-se de textos que foi publicando ao longo do tempo e de outros escritos expressamente para o integrar.

“Augusto de Castro e Sousa alia à sua índole de sonhador e romântico a sua posição de doutrinador, e com brilho o faz.

Como doutrinador, pertence ao número daqueles que chegaram à vida erguendo o cântico da Esperança, e bem haja.”

A GARIBÁLDI, no Prólogo do livro Nas Horas Livres da Minha Profissão


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Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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