Teatro Popular Português de Terreiro
INTRODUÇÃO
Este trabalho que vos apresentamos, acreditem que com simplicidade e prazer, valerá muito ou pouco, ou até nada, pelo grau de interesse de cada pessoa no conhecimento destas “Venerandas Velharias”.
A leitura, ou releitura, desta peça seria muito importante nesta altura. Para muitos limianos e outras pessoas ávidas destas matérias será mais uma relembrança e cruzamento de opiniões, como tantas já foram escritas, sempre em valorização e aplauso destas relíquias nunca esbanjadas. Mas, para quem estas palavras valerão muito mais, sempre em júbilo redobrado, será para muitos crastenses, especialmente os que, já em várias gerações, representaram este drama popular, desempenhando os principais papéis de discursos enfáticos ou de exortação à paz e concórdia, ou em desempenho mais secundário, engrossando qualquer um dos exércitos, ou exibindo estandartes, ou rufando uma simples caixa. Nestes momentos, as emoções são máximas, a alegria e a gratidão aos antepassados são imensuráveis.
1. VISÃO GLOBAL
O relato histórico e analítico desta peça do teatro popular português exige uma reflexão histórica muito atenta. Além do mais, porque a sua denominação invoca uma ação que marcou a génese de quase todas as civilizações: a guerra entre povos.
Num esforço de síntese, realçamos aqui tão somente as duas civilizações que marcaram vários países europeus, por mais de doze séculos: a civilização romana e a civilização árabe.
Os romanos, numa denominação de mais de sete séculos, deixaram na europa marcas intocáveis e eternas em abundância, de que realçamos a religião e a língua. (séc. III a.C. até ao séc. V d.C.). Só por citação, antes dos árabes, houve o domínio germânico (séc. VI-VIII) que também influenciou bastante, deixando as suas marcas caraterísticas. Mas o domínio muçulmano foi mais duradouro e mais incisivo ao longo de cinco séculos. Os muçulmanos, já com forte domínio no Norte de África, programaram a incursão na Europa para o domínio de terras e imposição das suas caraterísticas civilizacionais.
Ao refletirmos, assim ao de leve, as invasões dos impérios romano e muçulmano, recuamos aos primeiros conhecimentos que nos transmitiram nos bancos da escola primária. Recordamos, de então, o conceito de várias civilizações do planeta, das quais a romana e a moura eram muito faladas. Ao longo do tempo fomos informados de muitas mais caraterísticas destes dois povos, marcados por tanto confronto, mas semelhantes nas ambições: posse de terras, imposição de leis, de usos, costumes e normas de vida, de arte e saberes, assim como da sua própria língua, do seu credo… Os conceitos de “Guerra Santa” e de “Povos Infiéis” eram redobradamente explicados. Os nomes de Cristo e Alá aprendemo-los muito cedo. Mas, muito mais tarde, compreendemos o que valiam como suporte ou alicerce da construção daquelas civilizações. E foi neste ritmo de aprendizagem, com muitas coisas comunicadas em oralidade, sem qualquer fonte ou suporte escrito, que fomos registando e compreendendo as caraterísticas multifacetadas do nosso país, do nosso Portugal, herdeiro de tantos saberes antigos, apreendidos e transmitidos pelos nossos antepassados, de origens e caraterísticas bem diferentes, de aceitação livre e quase democrática…, mas de que nos sentimos orgulhosos.
Hoje sabemos bem que, do muito que nos disseram nas primeiras lições da escola se baseava em lendas ou histórias hiperbólicas, com referências a guerras constantes dos povos…, “dos bons” e “dos maus”, da audácia e coragem dos cristãos portugueses, raramente vencidos, mas quase sempre orgulhosos pelas vitórias. À lupa da investigação histórica, muitos factos são ratificados, outros corrigidos, e muitos mais são rejeitados. Contudo, todos os povos, na transmissão oral dos seus saberes, usos e costumes garantem aos seus herdeiros que “tudo foi verdade…”, “que convém não esquecer que…”, “que nossos pais nos disseram…” quase sempre recusam os saberes científicos gerados pela história. Em síntese, cada povo é o resultado da assimilação de vários aspetos de múltiplas civilizações em que, várias marcas fazem a sua distinção e que geram as diferenças de cada país – nas pessoas e no ambiente circundante.
2. VISÃO MAIS DIRETA
À incursão das duas civilizações já referidas, os povos europeus, dos países atingidos reagiam e opunham-se tenazmente. A incursão e invasão muçulmana obrigou a maior prevenção.
Assim, a defesa e reação dos povos europeus foi sempre atenta e dinâmica desde a Gália e, em observação mais direta, da Península Ibérica dos vários reinos cristãos: desde as Astúrias, Leão, Navarra, Aragão e Castela, por meio de lutas e guerras constantes, para a expulsão definitiva dos árabes. Histórico, como convém realçar, foi o reino de Portugal, proclamado em Samora, em 1143 que, desde Afonso Henriques passando pelos vários reis até D. Afonso III, nas suas investidas bélicas- “Guerra Santa”, expulsaram definitivamente os muçulmanos da Península Ibérica. Convém realçar ainda, na reconquista cristã, a ação da igreja, das ordens militares, dos cruzados, a influência dos bispos, dos mosteiros, foi muito significativa, sempre em obediência às orientações dos reis cristãos que, por sua vez correspondiam continuamente às orientações e apelos do Papa. As guerras contra os mouros/sarracenos/otomanos… foram constantes e, como já referimos, ao longo de séculos.
Quanto a nós, neste cantinho da europa, saboreámos a expulsão definitiva dos muçulmanos ou árabes no reinado de D. Afonso III, sendo aclamado como “Rei de Portugal e dos Algarves”.
3 . ESTRUTURA DO DRAMA - Reflexão e relato analítico
Esta peça refere um episódio bélico entre cristãos e muçulmanos. Pelo título “Drama/Grandes Guerras/Turcos/Cristãos” adivinhamos que se trata de uma representação cénica dramática, ação séria, que nada invoca de caraterísticas de comédia nem de tragédia, mas antes a seriedade de uma manifestação popular dramática muito acarinhada pela igreja católica, pelo menos até ao século XVII. Na igreja católica, o ideal da religião era a prática cristã, pelo que a conversão do povo otomano ou turco era sempre de alegria para todos. Fazia-se guerra, pelo apelo da igreja, com toda a fé e com o máximo empenho e coragem, até ao martírio ou morte, imitando o próprio Cristo. Ainda no nosso tempo se evidenciam posições radicais de fundamentalismo que levam até à morte. Repare-se também que se enunciam grandes guerras de duas civilizações em conflito, confronto de dois credos e digamo-lo, sem medo, de dois fanatismos e fundamentalismos. E quase tudo nos é apresentado numa narrativa em alternância de quadros.
Na representação deste drama, os vários elementos estruturais são, certamente, refletidos por todos os assistentes, com abrangências ou focalizações diversas e diferenciadas. Serão ainda compreendidos, tais elementos, conforme as situações reais já vivenciadas por cada um: dos pais que dão os filhos para a guerra, das esposas que ficam sozinhas derramando lágrimas, porque alguém convocou os seus companheiros para o serviço das armas, de tantos ali presentes que lembram a amizade e convívio de muitos amigos com quem nunca mais poderão conviver.
Tornemos esta reflexão ainda mais próxima, na descrição dos elementos estruturais do drama.
EMBOSCADA
Tudo se inicia com um ato covarde entre os dois exércitos: uma armadilha, uma traição, uma emboscada.
Quando os dois exércitos se deslocam, por vários caminhos ou veredas, com idêntico objetivo de domínio do adversário e das suas terras, quantas estratégias terão sido alvitradas. Num número tão reduzido de soldados, (do nº 12, talvez simbólico…) a emboscada gerou confronto, o recurso às armas por parte do exercito cristão e a morte de dois soldados turcos. A fuga do exército agressor é rapidíssima, deixando pelo caminho alguns provimentos alimentares que os bagageiros transportavam. O exército muçulmano recolhe e honra os seus mortos. Após esta traição do exército cristão, o exército muçulmano dirige-se para o castelo que, tempos atrás, havia sido tomado aos cristãos. Se antes da emboscada o exército cristão já cantava, apelando a que todos, se necessário, dessem a própria vida contra os “Turcos Infiéis”, tudo fazendo para que se convertessem ao cristianismo, recebendo o batismo, agora, em marcha organizada, e orientando-se para o campo de batalha, elevam mais alto as vozes e os gritos. E, já ordenados no terreiro, o capitão informa o rei que todo “o estrondo ouvido” garante a chegada dos Mouros que vêm desafiar para a guerra.
EXORTAÇÕES OU PROCLAMAÇÕES
Naquele tempo, como nos nossos dias, perante a ameaça objetiva de guerra, os soldados são animados pelos seus chefes, encorajando-os para a luta. É tempo de discursos apelativos, para uso de todas as forças, de boa preparação do armamento a usar…. E, de cada lado, pensa-se logo no recurso à espionagem e outras tantas ações.
Os capitães aconselham os seus reis a que se mande um espião, para que junto do exército opositor, procure saber o que se passa por aqueles lados, os projetos em curso, os meios de que dispõe. Vigia, sentinela, espião… é figura compreendida pela maior parte dos assistentes, mesmo na sua primeira aparição, sem pronunciarem qualquer palavra, enquanto vão observando os espaços.
Esta personagem projeta-se para os nossos dias, para a existência dos infiltrados ou espiões que cada país distribui por outros tantos países que são, ou ameaçam ser, opositores. Além deste recurso, praticado ao longo dos séculos, outros tantos se exibem.
EMBAIXADAS
Cada exército, por ordem do seu rei, que já ordenou o trabalho dos espias, envia agora o seu embaixador ao exército opositor, visando o melhor entendimento possível, pelas condições que apresenta.
A primeira embaixada é do exército cristão. O rei refere-lhe as exigências a apresentar: que o rei turco se batize e faça batizar todo o seu povo, e que abjure a lei que segue. Se aceitar este pedido, ambos ficarão amigos. Caso não aceite, enviará um exército de muitos milhares de soldados para o derrotar.
Os resultados desta embaixada foram nulos. O rei turco diz que não se batizará nem aceitará qualquer outra condição. Expõe uma contrapartida: que o rei que o enviou aceite antes tomar o partido do seu povo muçulmano. Que até será seu tributário, e lhe dará outras ofertas. Que, se não aceitar, não o teme. Que organizará o seu exército com soldados valorosos que tem, para forte batalha campal. Após as informações e reação do rei turco, o embaixador cristão informa o seu rei, dando-lhe todos os pormenores e exigências recolhidos.
Certamente que se adivinham profundas reflexões dos dois exércitos, durante o tempo necessário. Seguidamente, em reação paralela e alternada, o rei turco decide enviar o seu embaixador junto do rei cristão. E as condições que manda apresentar são muito parecidas às do rei Cristão: que determinará a paz e união, se aceitar as suas condições, que “faga a nuestros dioses adoracion”; se não quiser aceitar…, haverá muito sangue. Esclarecido pelo embaixador, das condições expostas pelo sultão, o rei cristão, dirigindo-se ao seu exército, chega a um ultimato: vamos vencê-lo e tomar o castelo que antes nos roubou. O rei turco, perante a resposta enviada pelo seu opositor (o embaixador só refere que o rei cristão manifesta coragem e que não lhe tem qualquer medo; não lhe refere a decisão de invadir e tomar o castelo), ordena a preparação das armas e declara guerra, através de gritos fortes e nervosos que os seus soldados também gritam repetidamente: para a guerra… para a guerra…
ESPIONAGEM
Como já antes referimos, a espionagem é um elemento fundamental no contexto de guerra. Interessa saber, descobrir, por esta via, se há novos dados, de parte a parte. Os dois espiões que aparecem animam uma cena algo simbólica, quanto a tempo e espaço – tempo longo de recolha de dados…vários locais visitados, os caminhos percorridos, e demais aspetos específicos da espionagem. Aqui encontram-se em espaço neutro (na peça é o centro do terreiro). Este encontro terá sido bem preparado, cada um a seu modo, mas com estratégias superiormente concebidas, por parte do vigia ou espião cristão.
Abeirando-se do vigia turco, faz-se pedinte e peregrino… afirmando que está a fugir dos lusitanos…, e que nem pão tem para a viagem e fuga que está a realizar. Apesar de certa indiferença, e talvez desconfiança confirmando a sua tarefa, o espia turco questiona o peregrino: o que é que se passou que vens tão miserável? A estratégia ardilosa do vigia cristão vai avolumar-se: uns lusitanos atrevidos deram-me muita pancada e roubaram-me a mochila, uns certos que estavam a preparar uma emboscada. Satisfeito com esta informação, o vigia turco convida o parceiro a sentar-se, para saber mais coisas. O espião cristão insiste: “estavam numa emboscada, morrendo de fome…”
O espia turco interpela novamente, procurando saber o que os lusitanos pensavam e diziam do rei turco, do seu rei.
O espia cristão, fiel à sua estratégia, mente, afirmando que diziam que é um rei muito bom.
Desconfiado da resposta, e evidenciando a sua astúcia de espião, quer que o espião cristão lhe fale mais da emboscada, porque soube que os lusitanos e alguns colaboradores, estavam a realizar uma mina, como autênticas toupeiras.
O espia cristão fala de facto em soldados mineiros…para chegarem ao castelo. “A cena torna-se mais excitada, a ponto de, na garantia e valor desta informação, levar o seu parceiro ao rei que, em paga, lhe dará um bom cargo.
Mas, para se atingir o verdadeiro clímax da cena, o espião cristão, insistindo no seu disfarce volta a pedir-lhe um pouco de pão.
O seu parceiro diz-lhe que sim, que traz pão e carne…, mas que não traz vinho.
O desfecho vai dar-se através da resposta do espia cristão: “vinho en la bota, trago ió…”
O elemento fundamental desta refeição (almoço? lanche? jantar? …) não sabemos. A “bota” vinha carregada de vinho para o vigia cristão conseguir embriagar o seu companheiro de refeição – o vigia turco. Foi o suficiente para criar um período facilitador, para um soldado cristão, escondido, o liquidar com um tiro.
Este encontro dos espiões é o que provoca a maior alegria dos assistentes, pelo carater e ambiente de comédia que os dois figurantes exibem.
A maior parte dos espetadores (na assistência à primeira representação, ou nas seguintes) não atinge, à primeira vista, o verdadeiro sentido desta cena de espionagem, dos objetivos da sua integração no drama, muito menos a preparação ardilosa sobretudo por parte do exército cristão. Os assistentes só justificam esta cena, algo inédita e cómica, quando a narrativa avança para as batalhas.
BATALHAS
O último momento estrutural são as batalhas. É que, esgotados todos os meios,… resta o confronto dos exércitos, as duras batalhas até à vitória de uma das partes.
Desde o início da ação deste drama que foi referida a ocupação do castelo, por parte dos Turcos. Assim, neste início das batalhas, o objetivo principal, por parte dos cristãos, é a retoma daquela fortaleza.
O exército cristão, depois de prévia organização, decide avançar, o que fazem em dois ritmos diferentes: de marcha e de carga batidas, conseguindo recuperar o castelo, assim como toda a bagagem e animais que tinham perdido na primeira emboscada realizada na estrada. Só na terceira avançada se incorporam o Rei, o Embaixador e o Porta-Bandeira.
Já dispostos em área aberta no campo de batalha, e sem castelo, a reação dos turcos é semelhante: fazer avançadas, também três, mas sem a participação do Rei, do Embaixador e do Porta-Bandeira. Mas nada conseguem.
Resta, então, o recurso às batalhas campais, por grupos ou individuais.
As batalhas coletivas eram, tradicionalmente, da seguinte forma:
Primeiramente batalham seis soldados de cada exército, depois batalham quatro a quatro e, por fim, dois a dois.
A disposição e o ritmo, em todos estes encontros, são os seguintes: os soldados, ouvido um breve sinal da caixa, dispõem-se transversalmente, conforme o número antes referido. Logo que a caixa começa a rufar, avançam aceleradamente, desfechando três pancadas nos broquéis dos inimigos; recuando alguns metros, repetem por três vezes este combate. No final do 3º combate, e sem qualquer sucesso, regressam ao seu campo, mas em ritmo de marcha.
Os capitães de cada exército orientam estas lutas, à direita dos soldados, sempre de armas erguidas ao alto. (Nas últimas representações, visando a economia de algum tempo, e para evitar uma certa monotonia, reduzem-se algumas destas avançadas).
As avançadas individuais são mais espetaculares, uma vez que cada soldado imprime caraterísticas e emoções diferenciadas, com muitos improvisos, e consegue vencer e aprisionar o seu inimigo.
Os combates singulares são em passo acelerado. Os soldados dão uma pancada no broquel inimigo, mas batalham três vezes de perto; à terceira vez trocam o campo, e tornam a batalhar três vezes. À terceira vez o cristão faz prisioneiro o turco, que oferece certa resistência. Este, baixando a espada, dá a direita ao cristão. Marcham para o castelo. A caixa marca os vários ritmos da batalha.
A batalha dos capitães é com passo ordinário. Batalham três vezes de cada lado e, à terceira, já do lado oposto, o turco é feito prisioneiro do cristão.
Também o capitão turco baixa a espada, oferecendo a direita ao capitão cristão. Em seguida, ambos marcham para o castelo.
Finalmente batalham os Reis, em passo ordinário, acompanhados, respetivamente, dos Porta-Bandeiras e Embaixadores. O Rei turco, com espada, e o Rei cristão com lança, batem-se em esgrima. Durante a batalha aparece o Eremita, junto do altar, implorando proteção do Senhor da Cruz de Pedra, para que o exército cristão seja vencedor.
(estas novas personagens, Eremita e Anjo, valorizam o desfecho do drama, completando o conjunto de figurantes). Figurantes valorativos: Eremita e Anjo
O Eremita aparece durante a batalha dos Reis, implorando a proteção divina (Senhor da Cruz de Pedra),
No último encontro da batalha dos Reis, o turco despedaça a lança do Rei cristão, com uma cutilada. Este arma-se de espadim e diz:
Rende-te bárbaro turco
Sofre com paciência
Teus vassalos estão rendidos
Não uses de resistência.
Neste momento surge o Anjo, pronunciando versos que ratificam as palavras do Eremita. Reconhecendo a vitória dos cristãos, o Rei turco rende-se, com afirmações que refletem humilhação. O Anjo insiste no seu apelo, garantindo o batismo do Rei turco e, consequentemente, do seu exército.
Neste momento poderíamos afirmar que as ações do drama, dos objetivos previamente traçados pelo Rei cristão, foram atingidos na totalidade: a “Guerra Santa “está vencida, e os bárbaros turcos, aceitando o batismo, rendem-se à “fonte da graça”.
Estamos certos que a ação foi ainda aumentada, em certos períodos, com dois quadros suplementares: o Batismo e a Romaria de Ação de Graças, classificando-se como a IIª Parte do Drama. Este acrescento considera-se positivo, e supõe-se muito agrado para os assistentes e participantes de séculos recuados, tempos de fortíssima religiosidade, mas também para todos os assistentes das representações atuais, mais em tolerância do respeito dos costumes herdados, do que por ratificação do credo.
Regista-se, então, a IIª Parte
O batismo do exército turco
Os dois exércitos saem do castelo, em duas alas: os cristãos vêm à direita; os turcos, do lado esquerdo, exibem os instrumentos guerreiros, voltados para o chão.
À frente: os capitães; a seguir: os soldados; no final: os Porta-Bandeiras, os Embaixadores e os Reis.
O Eremita administra este sacramento aos turcos pela seguinte ordem: 1º o Rei; 2º o Embaixador; 3º o Porta-Bandeira; 4º os soldados; 5º o Capitão.
Enquanto caminham para o batismo, cantam:
Hinos cantemos
Cheios de alegria
Ficamos cristãos
Nesta romaria
Concluído todo este cerimonial, o Anjo, antes de se retirar para o céu, dando contas a Deus, manifesta-se contente por este final feliz.
A romaria de ação de graças
Os dois exércitos, em plena alegria, vão fazer romaria à volta da capela, cantando.
Terminada a romaria, e defronte da capela, o Rei turco ajoelha-se e reza. A seguir são repetidos os cânticos já antes entoados. Os aplausos dos espetadores encerram a representação.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS, COMO CONCLUSÃO
Toda a ação desta obra – Turquia – Drama dos Grandes Guerras entre Turcos e Cristãos, leva-nos a várias conclusões:
A eterna rivalidade, e sempre contínua entre os povos
Primeiro objetivo comum a todos: a posse das terras
As grandes marcas culturais das civilizações
A imposição da sua cultura…
As maiores civilizações… que nos marcaram (Romana, Germânica e Árabe)
A força dos vários credos… até ao fanatismo e fundamentalismo (“Guerra Santa” e outras…)
NÓS, assimiladores e herdeiros de passado
Temos a nossa terra… que muito amamos
Saberes de diferentes culturas
Vivências de séculos…
De continuadas gerações ricas em usos, costumes e tradições… e de valiosas obras do passado…
Por todo o exposto, e por muito mais, nós portugueses (… limianos, crastenses…)
Somos do passado…
Somos do presente…
… como seremos no futuro? Pelo menos, sempre turcos em gratidão.
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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