Santa Marinha

 

Santa Marinha

Escultura em madeira dourada e policromada - Século XVI-XVII
Igreja Paroquial de Santa Marinha de Arcozelo

 



José Velho Dantas



O nome de Santa Marinha, à semelhança do que sucede com outras Virgens Mártires que marcaram os primeiros séculos do Cristianismo, anda associado a diversas lendas hagiográficas. A difusão do seu culto perde-se já nas profundezas da história medieval. Em diferentes áreas geográficas do universo cristão foram emergindo versões distintas relativas a uma ou até várias Santas Marinhas, com elementos e episódios que se contaminam entre si e que são igualmente tributários dos relativos à vida e martírio de Santa Margarida de Antioquia.

O Padre Diogo do Rosário, por exemplo, no seu Flos Sanctorum, faz eco de duas histórias diferentes: a primeira, por assim dizer a mais ecuménica, é a lenda de Santa Marinha de Antioquia, que acaba degolada às mãos do romano Olibrio; a segunda, menos disseminada, fala-nos de uma moça chamada Marinha que, por vontade do pai, um monge, entrou no mosteiro onde este vivia, disfarçada de rapaz, aí levando, com a verdadeira identidade oculta, vida de santidade.

A versão com maiores raízes no noroeste peninsular, quer no território galego quer nos domínios da Arquidiocese de Braga, fala-nos da mártir degolada em Águas Santas, um local próximo de Ourense, onde mais tarde foi levantada uma notável igreja de arquitectura românica, sob cujo altar se guardavam as suas preciosas relíquias. Mas mesmo nas duas margens do rio Minho a tradição é diferente. A Santa Mariña da tradição galega revela mais pontos de contacto com a vida de Santa Margarida de Antioquia, enquanto que na área portuguesa assumiu laivos de proporção épica a história das nove infantas (Marinha, Quitéria, Liberata, Eufémia ou Eumélia, Victoria, Basilisa, Genivera, Germana e Marciana), fruto de um parto prodigioso, filhas do régulo romano Atílio Severo e de sua mulher Calcia.

Esta notável imagem, venerada na antiquíssima igreja paroquial de Arcozelo, é deveras intrigante. É conhecida como uma representação da padroeira Santa Marinha, de traços escultóricos muito aproximados a figurações típicas dos finais da Idade Média, mas com um historial desconhecido, face à ausência de documentação. Parece que estamos na presença de uma imagem de Nossa Senhora, que mais tarde, em momento não definido, foi transformada numa santa mártir, neste caso Santa Marinha. A indumentária, composta por manto e túnica, é talvez a chave para este enigma. É que estas duas vestes costumam andar associadas à figura da Virgem, e não à das mártires, a que habitualmente se acrescenta uma sobretúnica, como podemos observar em tantas outras representações da mártir Santa Marinha. Comparando os traços finos e delicados da mão direita, que segura um livro de grande beleza plástica, elemento de origem na peça, com a mão esquerda, de tratamento tosco, é possível concluir que esta última constitui já um enxerto na imagem primitiva de modo a possibilitar a presença da palma, atributo genérico que passou a ser obrigatório para os olhares devotos, que assim passaram a observar uma santa mártir e não a Virgem Mãe de Deus.

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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