Anjo

Anjo

Escultura em madeira dourada e policromada - Século XVIII
Igreja Paroquial de São Tomé, Correlhã

 



José Velho Dantas



O anjo, entendido genericamente, é talvez a personagem mais reproduzida na arte cristã. Cumpriu funções diversas: guerreiro, guardião, músico, adorador, mensageiro, intercessor. Foi protagonista, personagem secundária ou mero figurante, apareceu isolado ou em corte celestial, consoante os temas e os motivos para que era convocado.

Na época barroca, para além de tudo isto, o anjo foi por vezes essencialmente ornamental, pomposo. Os anjinhos ou putti encheram as talhas dos retábulos e as peças de ourivesaria finamente lavradas. Os pares de anjos invadiram, como em nenhum outro tempo, o espaço sagrado. Entre as várias tipologias, os anjos tocheiros, também denominados ceroferários ou candelários, peças escultóricas de acentuada valia estética, cobertas por admiráveis trabalhos de dourado e policromia, assumiram dimensões por vezes descomunais, firmando castiçais, e povoaram de forma avassaladora as nossas igrejas. Era costume colocá-los à entrada da capela-mor, depois da grade de comunhão, numa área já claramente demarcada para uso dos presbíteros que oficiavam as cerimónias.

Sem atingir a beleza e perfeição de alguns exemplares verdadeiramente sublimes que existem no nosso país, seja ainda no interior dos templos para que foram originalmente concebidos, ou nas coleções de alguns museus, a verdade é que Ponte de Lima conserva em algumas das suas igrejas, sobretudo paroquiais, pares de anjos bem dignos de atenção. Podemos ainda hoje apreciar essas peças nas igrejas de São Tomé da Correlhã (documentada fotograficamente nesta página), de São Julião de Moreira do Lima, de São Mamede da Seara, bem como no templo da Venerável Ordem Terceira de São Francisco, em Ponte de Lima. Isto apesar de, em alguns casos, repintes posteriores terem obliterado o tom original das vestes que combinavam sabiamente o ouro refulgente e a variada gama cromática, sugerindo tecidos ricamente lavrados.

Estamos aqui na presença de um anjo tocheiro ou de um anjo turiferário? A posição das mãos parece indiciar um anjo a brandir o turíbulo, mas não pode ser adiantada nenhuma teoria definitiva. Se não ocupasse o seu lugar habitual num espaço sagrado, até diríamos tratar-se de uma personagem profana, quase à moda das figuras de convite tão típicas da época, notadas sobretudo em painéis azulejares colocados em casas senhoriais. Destacam-se nesta peça a bela cabeleira do anjo, que forma uma moldura ao rosto, tão ao gosto barroco, e o trabalho ornamental da sobretúnica, finamente cintada.

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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