Escultura em madeira dourada e policromada - Século XVIII
Igreja Paroquial de São João da Queijada
A vida e paixão desta santa oriental natural de Nicomedia foi popularizada no Ocidente pelo dominicano Jacobus de Voragine na sua obra Legenda Aurea, no século XIII, ainda que o culto se tenha intensificado sobretudo a partir de Quatrocentos. Encerrada numa torre com duas janelas a mando de seu pai, Dioscuro, um sátrapa que não apoiava os seus ideais cristãos, é instruída na fé e baptizada por um sacerdote que se faz passar por médico. Para honrar o dogma da Santíssima Trindade, abre uma terceira janela na prisão. Sofre diversas sortes de martírios e finalmente morre às mãos do próprio pai, que logo prova da justiça divina, condenado ao pó pela força fulminante de um raio.
Provém certamente deste último episódio a adopção universal da sua figura como protectora contra as trovoadas e fenómenos atmosféricos similares, bem como contra a morte súbita. O grande padre António Vieira, no único sermão que dedicou a esta santa, dirigido com toda a propriedade aos soldados de artilharia (que deveriam colocar-se sob o patrocínio da santa), encarece a sua figura sustentando que Deus lhe concedera o domínio do único elemento natural que tinha vedado a Adão: o fogo. Adiantava o grande orador: “E como o martírio de Bárbara foi o mais violento e furioso de todos os martírios (posto que às mãos de seu próprio pai), por isso mereceu com ele o domínio do mais violento e furioso de todos os elementos”, precisamente o fogo e as suas manifestações, como o trovão, o relâmpago e, sobretudo, o raio. Com a introdução da pólvora no Ocidente, durante a Idade Média, Santa Bárbara estendeu o domínio do fogo natural ao fogo artificial. Prosseguia o padre Vieira: “Na cavalaria as pistolas e as carabinas, nos infantes os mosquetes e os arcabuzes, nos exércitos e nos muros das cidades os canhões e as culebrinas. E todos estes instrumentos, e os que os manejam, ficaram desde então sujeitos ao império e debaixo da protecção de Santa Bárbara.”
Ainda que a sua posição fosse secundarizada face a outras virgens mártires como Santa Marinha, Santa Quitéria ou Santa Luzia, este poder intercessor da santa e a sua afirmação enquanto padroeira de várias corporações e mesteres contribuíram naturalmente para a proliferação do seu culto, como tão bem testemunham certos adágios populares de todos conhecidos, que lembram a crença na sua função pára-raios e anti-incêndios.
Esta bela imagem setecentista em madeira policromada, actualmente venerada num dos altares colaterais da Igreja Paroquial de São João da Queijada, constitui uma das muitas representações padronizadas da santa. A torre (que surge nesta escultura ao lado da santa, mas noutras pode figurar em escala mais reduzida ou em miniatura numa das mãos) é o seu atributo inconfundível, que a distingue de qualquer outra virgem mártir. As três aberturas no corpo superior, desenhando um triângulo, mostram que quem encomendou a peça tinha conhecimento dos pormenores da vida da santa, e da sua associação ao mistério da Trindade, o que está longe de constituir uma regra. Veja-se, por exemplo, a interessantíssima escultura em pedra policromada existente na Capela de São Cristóvão, situada no pequeno monte do mesmo nome na freguesia de Fontão, em que a torre que identifica a mártir apresenta somente uma janela.
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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