Os Carecas de Ponte de Lima

A presente publicação é a prova de como uma brincadeira saída da imaginação e da pena de António Feijó, uma espécie de passatempo para preencher as colunas do Comércio do Lima, em setembro de 1880, pode acabar por transformar-se, no decurso do tempo, num exemplo de património cultural imaterial, qual mito ou lenda.

Na realidade, o mistério da estrada de Ponte de Lima ou a história dos Carecas de Faldejães, como também foi batizada, deixou por aqueles dias a população de Ponte de Lima em sobressalto. A invenção de uma misteriosa quadrilha de carecas a perpetrar um crime numa estrada dos arredores de Ponte de Lima depressa adquiriu contornos de realidade, pondo em alvoroço os nossos conterrâneos de então, criando um caso que teve os seus ecos na imprensa nortenha. O próprio Feijó confessava que a certa altura, ele próprio, que forjara a história, chegara a ter hesitações sobre a veracidade do caso…

Seja como for, quase um século e meio volvido, a narrativa permanece bem presente na memória dos limianos. O livro que agora se dá à estampa põe em destaque a carta que o mentor António Feijó dirigiu muito mais tarde, já em 1912, quando era Ministro Plenipotenciário em Estocolmo, ao seu amigo de juventude João Gomes de Abreu de Lima, recordando as peripécias de há mais de trinta anos, era o poeta ainda um estudante de Direito em Coimbra, na altura a gozar férias na sua Terra Natal.

Esta publicação, que prima pela qualidade da apresentação, é acompanhada por uma introdução de João Abreu Lima, por coincidência feliz, bisneto do destinatário da carta de António Feijó. A ele deixamos o nosso agradecimento pelo seu precioso contributo, também como coordenador, que tanto ajuda a enriquecer esta edição

Victor Mendes
Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima