Escritos de Fernando Aldeia sobre Ponte de Lima

 

Escritos de Fernando Aldeia sobre Ponte de Lima

No prefácio da obra “O Nosso Olhar Sobre as Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos”, de José Ernesto Costa:

 

Nos lagos e lagoas reina uma contínua interacção entre a matéria inorgânica, os vegetais e as algas produtoras de substâncias nutritivas, os animais herbívoros e carnívoros e os microorganismos que decompõem as substâncias inorgânicas.

Seres vivos e ambiente que os rodeia formam um conjunto natural que é o ecossistema. As lagoas de Bertiandos e de S. Pedro de Arcos não fogem à regra, constituindo uma razoável área de paisagem protegida, importante para a conservação da biodiversidade.

(…) Ali se ouve o coaxo das rãs, o fretenido dos grilos e cigarras, o arrulho das rolas quebrando o silêncio no tempo de cada estação, se sente uma brisa odorosa soprando os ramos mais tenros, provocando um cântico que entra pelos sentidos, o rumorejo das águas, os melodiosos gorjeios da passarada, as flores e seus odores, os cheiros bravios, dádivas de uma natureza harmoniosa e justa, um autêntico paraíso, cenário de muitos cambiantes onde se desfruta uma deliciosa serenidade. Ponte de Lima “ pequena Atenas, muito rica no seu vasto património, possuidora de sortilégio raro”, tem a seus pés as lagoas de Bertiandos e de S. Pedro de Arcos, prenhes de uma beleza que atrai o olhar e enche o coração de quem as visita.

(…) Uma riqueza cuja qualidade ambiental se deve estimular e ajudar na promoção daquele património natural, dado o grande potencial que congrega para o desenvolvimento da actividade turística. Um património natural que nos enche a todos de um enorme orgulho.

Agosto de 2012

 

Excertos da crónica “A poesia e o embalo da concertina à beira-Lima”, publicada no jornal “Correio do Minho”, em 23 de Setembro de 2003, e que faz parte da obra “Há Gente neste Chão”:

 

 (…) No pretérito dia dezassete, ao cair da tarde, com o sol a espreitar pelo postigo do poente anunciando o próximo Outono, na companhia da Luísa Fontoura e da escritora Maria Adelaide Valente, deslocámo-nos à vila de Ponte de Lima, a “ mais linda terra portuguesa” no dizer do poeta Teófilo Craneiro, para acompanhar e aplaudir outro poeta limiano, Cláudio Lima, amigo e companheiro de aventuras literárias, no lançamento de mais uma obra poética com o título “Vate do Reino”. Na presença do Presidente da Câmara, Vereador da Cultura, do representante da editora Ausência, do apresentador da obra José Cândido Martins, professor da U. Católica de Braga, eu e a Luísa tivemos a honra de corresponder com a leitura de alguns poemas, ao pedido do poeta, perante um atento e caloroso público que inundou o auditório da Biblioteca Municipal. Finda a linda cerimónia que abriu com brilho as Feiras Novas 2003, deambulámos pelas ruas estreitas e ancestrais da vila. Na passagem pelo largo de S. José e pela praça Camões fomos brindados com animados despiques entre grupos tocadores de concertina. Pela memória, e enquanto nos saciámos com umas bebidas refrescantes na pastelaria Havanesa, desfilaram os cheiros de uma gastronomia inigualável, que durante as Feiras e até ontem, “ Noite do Baile” e fim dos festejos, foi exibida e servida em diversos restaurantes e tascas da urbe. O arroz de sarrabulho, o vinho da região, o cozido à portuguesa, o cabrito assado, os filetes de pescada dourada, o bacalhau recheado, o arroz doce, o leite-creme e a fruta da época foram pratos apreciados e gulosamente deglutidos por milhares de visitantes. Outras “Noites” preencheram momentos de agradável e são convívio, como a Noite da Música, a Noite das Rusgas e a Noite do Fogo. A magia, a beleza e a alegria coloriram os céus de Ponte de Lima com o testemunho das mensagens “ nos pilares das dezenas de casas solarengas através dos seus heráldicos símbolos; das escrituras de alma exaradas em livros de prosa e versos; das cantigas que o povo canta; da ânsia de progresso e de valorização sócio-regional; da sua beleza panorâmica; da imponência dos plátanos gigantes da Avenida grande que acompanha a aguarela ribeirinha até ao pé da Igreja da Senhora da Guia; do chafariz da Vila; da Torre da Cadeia; da praça Camões e da ponte sobre o rio Lima, antiga via romana; do perto e do longe” e de tanto outro património que fazem Ponte de Lima vila–terra–povo um local aprazível e desejado.

No retorno a Braga, sem pressas e com a alma deleitada com os rumores poéticos de Cláudio Lima e a sonoridade enleante das concertinas, senti-me como o peregrino que “não esquece nunca a fonte que o dessedentou, a palmeira que lhe deu a frescura, o oásis que lhe rasgou um horizonte à esperança”.

Antes que a vertigem do sono me levasse para a alcova dos deuses, fui à janela piscar o olho à lua e sorver o resto do odor limiano que me acompanhou, na última noite do solstício. O Verão escaldante acelerou a maturação das uvas. O vinho novo não tardará na rua e o equinócio, pressuroso, já lha abriu a porta.

23 de Setembro de 2003

  

Excertos da crónica "Da Bracara Augusta ao «Rio de muitas luzes»", publicada no jornal “Correio do Minho”, em 13 de Dezembro de 2005, e que faz parte da obra “Há Gente neste Chão":

 

(…) Porque solidários, no pretérito dia seis fomos até Ponte de Lima para assistir ao lançamento do livro “ Um rio de muitas luzes “ da autoria do escritor e amigo Cláudio Lima. A obra apresentada por José Cândido Martins, um dos grandes divulgadores da nossa literatura e ilustre Professor da Faculdade de Filosofia de Braga, teve como palco uma das salas da Biblioteca Municipal, repleta de um público interessado e atento, não faltando a Directora da Instituição, o Presidente da Autarquia e Vereador do Pelouro da Cultura. “ Um rio de muitas luzes “ fala-nos da cultura da memória, da preservação da identidade limiana feita com gestos práticos, dando a conhecer o seu passado e a urgência de o preservar, livro escrito com clareza, com “um pontinho de paixão”. Com um título metafórico, assume-se como uma colectânea de 18 textos sobre figuras que se destacaram pela excelência do seu estatuto e nortearam o percurso, a vida, e o futuro colectivo, contribuindo para o fortalecimento da cultura limiana, por quem o autor se deixou enredar.

No final e após atravessarmos a antiga e belíssima ponte, fomos até ao Bar do amigo José Ernesto Costa, também escritor. Com grande espírito observador e memória retentiva, José Ernesto colhe imagens indeléveis e castiços perfis nas numerosas deambulações por aquelas belas paragens. Ao grupo juntou-se mais tarde o amigo Jaime Ferreri que, com suas histórias pitorescas, ajudou a enriquecer a animada tertúlia, com a complacência de um rio que àquela hora dormitava sob os reflexos dos candeeiros que lhe vincam as margens.

Gosto muito desta vila que não pretende ser cidade, que carrega um encanto que me chega a comover e coabita em perfeita harmonia com o rio que lhe emprestou o nome, evidenciando uma compreensível vaidade fidalga. Ponte de Lima apresenta-se muito rica no seu vasto património, possuidora de sortilégio raro, democrática, hospitaleira, com brilhantes períodos da sua história e cujo foral aparece antes de Portugal independente, centro turístico de excelência graças à beleza dos seus monumentos e riqueza do seu folclore, feiras, romarias e sua afamada gastronomia.

Na despedida ainda deu para perguntar ao grupo de amigos o que acontece às folhas que durante o Outono continuam a soltar-se das árvores, deambulando para um lado e para o outro, quando caírem no chão. A voz rouca que pensámos ser a resposta, desapareceu como por encanto por debaixo dos arcos da bela ponte, imergindo nas águas mansas do Lima.

Acordei nesta manhã de sexta-feira com um sol retemperador que só o Outono nos pode proporcionar. As árvores mais desnudas não contam com a passarada que as agasalha noutras ocasiões. Partiram para outros meridianos em sinal de despedida. O toque a rebate pelas ilusões que os natais trazem a muita gente, esbate-se na vidraça virada a nascente. O meu silêncio libertador é como a planta de lótus que tem capacidade de florescer em águas lodosas sem se deixar contaminar. O Natal será aquilo que queiramos que seja. Está no coração dos homens de boa vontade. Gostaria neste momento que a minha avó materna reaparecesse e voltasse a rodear-me dos afectos que sempre me dispensou, mesmo sentado que estivesse numa das margens do “ rio de muitas luzes”. Saberiam melhor do que uma terrina repleta de filhós e rabanadas.

13 de Dezembro de 2005

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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