O texto que, seguramente, mais prazer terá dado a Luís de Sousa Dantas a elaborar foi o que escreveu na Introdução ao livro Os meus Primeiros Desenhos, publicado pela Ceres em 2006, uma recolha dos desenhos efectuados por sua filha Catarina, desde a mais tenra idade. Nele, Luís Dantas escreveu uma lindíssima introdução, um texto de seis páginas de saber e sentir, o qual, para além de deixar transparecer o carinho especial que nutria por sua filha, muito nos elucida quanto à sua sensibilidade, elevação de espírito e conhecimentos.
Julião Bernardes
Alguns excertos:
“Os primeiros desenhos são como os das outras crianças: mostram como começa a aventura do acto criador. Existe nestes traços uma realidade oculta ou um sincretismo visual, uma expressão inconsciente, relâmpagos da vida espiritual, um estilo e uma poética que se aproximam dos quadros abstractos de Kandinsky. Mas a linguagem de conteúdo simbólico não deixa de estar presente. As emoções, não todas, são perceptíveis no momento lúdico. A pressão da mão sobre o suporte (dura ou macia), a expressão do rosto (alegre ou triste) e a escolha das cores deixam transparecer instantes de sossego ou de desassossego e representam cenas vividas e fechadas em signos mágicos e primitivos.”
Mais à frente:
“Nos seus primeiros desenhos em busca de objectos a recriar, a Catarina não abandona ainda as garatujas do seu mundo onírico porque a transição não se faz com rupturas bruscas, mas vai introduzindo outras formas que parecem reinventar alguns aspectos da arte parietal ou do interior das cavernas que nos foi transmitida há mais de catorze mil anos.”
Ainda mais à frente:
“E com o decorrer do tempo, lá para os 6 ou 7 anos de idade, vão emergindo as vivências da criança, as suas relações com o meio, as pequenas e as grandes descobertas, o seu modo de pensar, de sentir, de olhar os outros e ela própria, o desespero dos pequenos dramas ou o espanto nos momentos de sonho e de volúpia. Em Dia de chuva (Álbum III, 27), vê-se as nuvens a flutuar e o arco de círculo com as cores do espectro solar. A água cai com abundância e a criança está deslumbrada mas mal se vê com o guarda-chuva aberto. Em Inverno (Álbum III, 47), o mau tempo espalha-se no papel: o céu é de um azul carregado e o relâmpago deixa lá a ressonância de um trovão. Na Hora de recreio (Álbum III, 48), as crianças deixaram num ápice as carteiras vazias, estão ainda na sala de aulas mas em movimento para a saída no alarido do costume.”
E para finalizar:
“Todas estas representações revelam palpitações de ternura, uma alegria esplendorosa. São poucos os desenhos que escapam a esta festa, a este mundo feérico e reinventado. Mas tem aí um que não esconde o mal-estar, uma situação de angústia ou de constrangimento. Quando o descobri (Álbum II, 19) lembrei-me de Edvar Munch. O grito de um ser humano desesperado. Aquela angústia quase absoluta. Fiquei apreensivo. Momentos depois, num daqueles jogos lúdicos de perguntas e respostas, encontrei a chave do enigma. A Catarina disse-me que o dia mais triste da sua vida foi quando lhe morreu um periquito. E é essa a data e a circunstância daquela expressão estética.”
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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