Teófilo Carneiro - humanista da Ribeira-Lima, por Alfredo Campos Matos

 

Teófilo Carneiro - humanista da Ribeira-Lima, por Alfredo Campos Matos



Alfredo Campos Matos



Faz quatro anos que me coube participar, no auditório do Município de Ponte de Lima, da apresentação de Poesias e Prosas Dispersas, de Teófilo Carneiro (T.C.), edição organizada pelo prof. pontelimense, da Universidade Católica de Braga, dr. José Cândido Martins. E não é demais recordar essa edição, tão bem organizada, e meticulosa, e com tão excelente introdução, que apresenta igualmente uma recolha de textos dispersos e inéditos de enorme importância memorialista e histórica. Alguns dos documentos publicados nessa obra chegaram a surpreender, pela sua novidade, aqueles que tinham do publicista, do parlamentar, do poeta e do político, um razoável conhecimento.

De facto, pela sua qualidade, não será nunca demais recordar esta edição. Desses textos dispersos e desconhecidos devo salientar o discurso que T.C. proferiu na Gandra, durante a campanha eleitoral do General Norton de Matos à Presidência da República, em 1949. Nesse discurso T.C. retratou as grandes figuras da Ribeira Lima, mas a matéria predominante, no folheto que depois correu impresso, é ocupada pela questão religiosa, ou seja, pelo esclarecimento que o orador procurou fazer de que Norton de Matos havia respeitado sempre a consciência católica do país, e de que sempre a respeitaria, porque as hostes do Estado Novo serviam-se do tema religioso para atemorizar, preferentemente, as populações rurais. O tema da religião em tal discurso parece-me um testemunho histórico precioso, porque prova o atraso cultural do nosso país em 1949, que tornou possível e até eficaz uma manipulação política tão primária que hoje, seis dezenas de anos depois, nos parece felizmente obsoleta.

E começo aqui, naturalmente, o elogio do homem político e indefectível combatente democrático que foi T.C. que entendia bem o obscurantismo a que nos conduzia, entre outros factos, a política de perseguição feita ao nosso escol de democratas: escritores, cientistas, investigadores, e a muitos professores universitários de excepcional craveira (devo recordar a expulsão do ensino superior a que foi submetida nesta época a fina flor da Medicina, da Matemática, da Física e da Ciência em geral, evocando, por exemplo, os nomes dos prof.s Abel Salazar, Pulido Valente, Fernando da Fonseca, Bento de Jesus Caraça, Manuel Valadares, Aniceto Monteiro, Ruy Luís Gomes).

Nas palavras que proferi por ocasião da apresentação das Poesias e Outros Dispersos, salientei que esta obra trazia uma mais-valia apreciável no sentido de completar e fixar a imagem de T.C., tendo sucedido que dos seus 14 bisnetos então estudantes ainda, um deles agora médico, o outro licenciado em Direito, entraram a comentar e analisar essa obra nos respectivos blogues. Ela, a médica, porque de uma bisneta se trata, através de uma poesia, o advogado, comentando a posição política do bisavô.

Posto isto, devo considerar que o que me cumpre fazer nestas circunstâncias, como mais apropriado, é o de tentar evidenciar os traços mais peculiares da personalidade excepcional deste homem de leis, poeta, orador, parlamentar e jornalista, mas muito eminentemente, também, poeta da sua própria vida. E para tanto terei de começar por elucidar o significado da palavra humanista que desde logo lhe atribuí. É um termo, como devem saber, que surgiu em plena Renascença italiana, em finais do século XV, para designar uma classe erudita de secretários latinistas dos reis, que dominavam a língua do Latio e eram também, muitas vezes, poetas e oradores. Mas humanista, na acepção mais corrente e mais moderna que aqui uso, é também o homem que definimos pela riqueza das suas características humanas, pelo exemplo activo que nos pode dar de rectidão moral, de elevação espiritual, de indiscutível superioridade de intelecto, dentro de padrões de universal concepção. E estas qualidades vicejavam, bem patentes em T. C., para aqueles que com ele tiveram a ventura de conviver, e estavam à altura de as apreciar.

Radicalmente republicano desde a juventude, o seu baptismo político, segundo o testemunho de Rodrigo de Abreu, fizera-o como aluno do 7.º ano ao saudar no liceu de Braga Afonso Costa, à época ministro da Justiça, que surpreendido com o seu improviso o abraçou e beijou. O período de estudante de Direito, em Coimbra, viveu-o entre 1911 e 1916, que são os primeiros anos conturbados da República, anos que abrangeram a 1.ª Grande Guerra. Analisando cronologicamente os textos deste convicto republicano e democrata facilmente observamos uma certa evolução no sentido de uma cada vez maior tolerância e compreensão, de que nos deram pleno e unânime testemunho aqueles que o conheceram na intimidade. Porque em boa verdade a sua natureza era inteiramente incompatível com dogmatismos de teor jacobino, ou com fórmulas autoritárias e com a violência que tais fórmulas acarretam. E não era apenas a sua sensibilidade de poeta que determinava essa atitude de humana postura, mas também o fino sentimento com que, sendo agnóstico, vivia uma certa ideia de transcendência, de matriz cristã, evangélica, tão claramente patente na sua poesia.

Em alguns dos poemas (assim o anotei quando da apresentação do livro que os reeditava em 2007), torna-se claro o alto sentido moral e poético da mensagem de Francisco de Assis, e também por esta via podemos falar dele como «humanista». Repare-se que num artigo extremamente laudatório para as belezas e virtudes da sua terra natal, lá surge a menção do santo de Assis, deste modo: «Embora eu cometa a fraqueza de me repetir, sempre direi agora, como já disse algures S. Francisco de Assis, quando por aqui passou, em princípios do século XIII, a caminho de S. Tiago de Compostela, tão elevado se devia ter sentido com o esplendor e as graças naturais da região, que a sua primeira impressão foi, com certeza, a de que tinha entrado no paraíso».

Será pois pela presença em T.C. desta matriz franciscana, tão nítida, que podemos porventura explicar a natureza da sua renúncia pessoal a qualquer espécie de bens terrenos, e a modéstia e contenção do seu viver, tão em consonância com aquele modo de ser contemplativo e simples que, fora do desempenho da sua profissão de advogado, com pouquíssimo se contentava à parte a boa conversação, que era um dos seus prazeres preferidos, ao fim da tarde, quando fazia uma pausa do trabalho de advogado, na Praça Camões, em intermináveis passeios, para cá e para lá, com amigos fiéis, embevecidos pela sua fala e que invariavelmente o acompanhavam a casa para prolongarem o prazer da sua preciosa companhia.

E já este modesto viver, e já esta renúncia a bens terrenos nos parecem a nós, hoje em dia, bem extraordinários, numa época como a que vivemos de ambição e materialidade, onde o dinheiro se arvora em preocupação suprema.

E também anotei em 2007 a sua admiração pelas qualidades estéticas da Natureza que a terra de Ponte de Lima, que tão profundamente amava, lhe proporcionou. Não é de modo algum gratuita a presença na sua poesia de espécies arbóreas de alto simbolismo espiritual, como os choupos e os ciprestes, que nela prevalecem metaforicamente. Os ciprestes: «Tristes agulhas de coser os sonhos, os sonhos nebulosos de amargura», como podemos ler num poema intitulado «Paisagem».

Acompanhei o seu funeral num 4 de Agosto tórrido, há 62 anos. O comércio da vila fechou e recordo-me que a multidão caminhava em silêncio com a impressão bem palpável de uma perda irreparável e sentida. Não retive, a esta distância, as palavras que ouvi então ao general Norton de Matos. Rememoro-as através do resumo publicado depois no Cardeal Saraiva, que salientou do discurso do general a colaboração «leal e afectuosa que aquele seu amigo sempre lhe dera - desde a primeira à última hora das suas iniciativas, trabalhos e amarguras, como Alto-comissário, como Ministro, como homem». E também como candidato à presidência de República, em 1948, direi eu, pois que numa carta do general para T.C., datada de 27 de Setembro de 1948, Norton de Matos pede ao seu amigo que, como jurista, o informe se a legislação em vigor lhe permite fazer uma eleição para a presidência da República absolutamente livre e inteiramente limpa. Com toda a probabilidade a resposta terá sido dada ao general pessoalmente. Alguns meses depois, ou seja, 6 dias antes das eleições, a 12 de Fevereiro de 1949, Norton de Matos desistia da comparência às urnas, por não haver condições sérias para concorrer.

T. C. tinha por Norton de Matos enorme respeito e a ele se referia em casa como figura de alta consideração. Visitava-o frequentemente, quando o general se encontrava em Ponte de Lima, e este tinha pelo seu correligionário estima recíproca. Mas muitos outros amigos deram de T.C. testemunhos muito expressivos. Gaspar de Abreu, representante da ordem dos advogados, nas Memórias Politicas fala-nos da «sua insinuante maneira de ser», de «uma impecável correcção de porte, uma delicada gentileza de trato, uma ingénita afabilidade aliciante e uma lealdade nunca desmentida», salientando a «sobriedade vernácula dos seus trabalhos forenses» e as suas «eloquentes orações, numa leveza de forma, numa justeza de conceito, numa segurança de raciocínio, que poderão ser por outros igualados, mas dificilmente serão excedidos».

Era sabido na família, pelo que costumavam contar as suas irmãs, que os mais aplicados divertimentos de Teófilo criança, era quando sobre um banco, que lhe dava alturas de orador, improvisava discursos tribunícios… E só esta recordação pode explicar o acontecimento memorável e inesquecível, para todos os que a ele assistiram, que foi a homenagem que se fez em Viana do Castelo, a 1 de Fevereiro de 1944, a João da Rocha, escritor, poeta e historiador, que havia sido companheiro de Alberto de Oliveira e de António Nobre em Coimbra.

T. C. tinha com João da Rocha muitas afinidades, até na bondade, e conhecia bem este erudito. Por isso Severino Costa o convidou como orador principal, para fazer o seu elogio no Teatro Sá de Miranda. Falando sem recurso à palavra escrita, durante hora e meia, e em todas a plenitude dos seus recursos de orador e comunicador, Teófilo teve o teatro, completamente cheio, suspenso das suas palavras! Lembram-se hoje, ainda, muitos dos que assistiram a essa palestra (a filha mais velha, tinha então 20 anos), de o verem andar no palco, de um lado para o outro, pausada e descontraidamente, a fazer a evocação humana e a análise literária das obras daquela conhecida figura de Viana do Castelo, e nunca mais esqueceram essa imagem. «Foi um assombro» essa comunicação, assim podemos ler numa coluna de efemérides do Cardeal Saraiva a 16 de Fevereiro de 1950. Augusto Castro e Sousa, num capítulo da obra Nas Horas Livres da Minha Profissão, observa: «Foi a mais prolongada ovação que temos ouvido».

António Ferreira, seu grande amigo e como ele poeta e jurista, que tão cedo o conheceu, recorda os passeios que davam pela Ponte e pela Avenida à beira rio, observando que T.C. «a avaliar pelos prometedores exercícios verbais, que lhe demonstrava, tinha de triunfar em qualquer profissão que exigisse a ginástica da palavra falada». E dá-nos um retrato de um aprumado e «elegante» estudante em Coimbra, cujo «asseio de espírito correspondia ao asseio da sua toilette de homem da sociedade» a espairecer na Baixa da cidade, decerto, os tormentos dos senhores lentes de Direito. António Ferreira observou que «em todos os sectores da sua exibição mental, isto é, no foro, na sessão académica e no parlamento o causídico, o conferencista, e o parlamentar, souberam sempre ilustrar o mesmo nome. Quantas vezes os espectadores saíam do tribunal entusiasmados pelo fluído electrizante das suas alocuções ou réplicas!» E acrescenta ainda que haviam sido tais as qualidades demonstradas quando deputado em duas legislaturas, «que o partido dominante então, a que ele pertencia, o escolhera para relator de um projecto de lei de grande responsabilidade como era o que tinha por fim a liquidação do famoso caso do banco Angola e Metrópole». Este caso complexo, em 1925, dizia respeito a uma das maiores burlas praticadas em Portugal. O discurso de T.C. na Câmara dos deputados ficou célebre, tendo sido considerado um «improviso longo, metódico e expressivo».

 

Acrescentaremos a estas informações sobre T. C. advogado, algo que nunca vimos referido e que muito revela acerca da sua natureza íntima. É que, como por vezes dizia, entre os processos que aceitava, preferia ser advogado de defesa de injustiçados muito mais do que advogado de acusação.

Voltemos todavia ao poeta: na impossibilidade de resumir sequer a extensa análise que Alcides Pereira lhe dedica no número de homenagem do Cardeal Saraiva de 3 de Agosto de 1952, intitulada «O seu lugar na poesia limiana», transcrevo apenas o fecho com que a conclui: «assim se justifica a sua discreta pose de palaciano, em última análise, revelando-se a nós próprios no que ele próprio intimamente era: um aristocrático temperamento de artista».

Posto isto, interrogo-me sobre o que vos poderei dizer acerca dos meus contactos com este ser de eleição… Na qualidade de namorado da filha, e com 21 anos por ocasião da sua morte, com pena minha confessarei que foram de circunstância e fugazes as palavras que com ele troquei. No verão de 1948 fotografei-o junto da família, na Póvoa, onde passava férias. Observando hoje essas imagens parece-me descortinar nele um sentimento de curiosidade tranquila com que porventura me observava, procurando talvez uma avaliação ou confirmação discreta do que já deveria saber a meu respeito. Uma tarde, sentado à sombra da barraca onde descansava e lia, fizera o esclarecimento exacto de um termo erudito que perto dele nos ouvira discutir. Nesse mesmo verão de 1948, a 9 de Julho, como atrás referi, Norton de Matos apresentara a sua candidatura às eleições para a presidência da República que pensava disputar com Carmona.

No ano seguinte, viria a doença insidiosa que acometeu T.C. e tão brutalmente o vitimou aos 58 anos. A 17 de Janeiro de 1949, como consta da carta que escreveu a Santos Graça, conhecido etnógrafo e democrata poveiro, que conservo entre muitos outros autógrafos, ao declinar o convite que este lhe fizera para falar numa sessão de propaganda política na Póvoa, escrevia: «É que falei ontem em Chaves, tenho de falar sexta-feira em Estarreja e no sábado em Viana – e já começo a sentir-me fatigado, porque, infelizmente, é pouca a minha resistência física. A isto acresce que no dia 25 tenho um julgamento de responsabilidade em Paredes de Coura e é precisamente na segunda-feira, 24, que tenho de pensar a sério no caso. Como vê, é-me totalmente impossível responder à chamada desta vez». Nesta carta para Santos Graça, T. C. não menciona o discurso memorável que fizera oito dias antes, e de que não deixou rasto, ou seja a 9 de Janeiro, no comício do campo do Salgueiros, no Porto, estimado em 30.000 pessoas. As sessões de propaganda política da candidatura à presidência da República do general Norton de Matos devem ter representado para ele um abalo psicológico e físico muito perturbadores. Viveria cerca de seis meses mais, falecendo a 3 de Agosto desse ano de 1949.

Seguiu-se o meu convívio póstumo com as recordações que deixara aos seus familiares: os seus ditos, as suas observações, as suas leituras, e, quantas vezes, a fina ironia e graça com que comentava alguma figura conhecida e mesmo algum dos seus seis filhos, em particular, que tendo por ele enorme respeito exerciam todavia predominante domínio da conversa, à mesa das refeições. E é este um pequeno pormenor significativo da prática democrática familiar, muito principalmente porque Teófilo quando criança tivera uma educação rígida e vitoriana. Devo aqui acrescentar que a discreta ironia e graça que ele usava entre os seus transparecem com nitidez em algumas das suas poesias jocosas como «Amor ao dote» e «Soneto». (E já agora vos direi que é para as suas poesias de amor, muito belas e sensuais, que vai a minha preferência…)

Era deveras singular, de facto, a sua postura que não precisava de se impor ou salientar para infundir respeito e simpatia nos filhos. O jornalista Severino Costa, que mais tarde viria a obter em Viana do Castelo um depoimento de grande esclarecimento e importância junto de um familiar de Carolina Pereira d’Eça, a mãe de Eça de Queiroz, deu-nos no Cardeal Saraiva estas observações preciosas: «Perguntasse alguém, a razão por que todos nós tínhamos por Teófilo aquela espécie de fraternal carinho que era a principal característica da amizade que lhe dedicávamos, e talvez ninguém soubesse dizer porquê. É que a força afectiva de Teófilo residia em si, num poder irradiante de simpatia, e não provinha de motivos. Para ser querido, para ganhar amizades e admiradores, nada precisava de fazer. Era».

Ora, parece-me a mim que as razões desse carinho que todos sentiam por ele talvez não tivessem muito difícil explicação, dado que havia na sua personalidade, estou em crer, algo de conciliante, algo que muito seguramente apaziguava, que era também encantatório e educativo - para lá do que nele desde logo se impunha: ou seja, a intrínseca rectidão e integridade de um justo e de um bom, - e talvez residisse aí o segredo do que podia constituir uma das suas qualidades humanas predominantes.

Sessenta e dois anos são passados sobre a sua morte e a forte memória que nos deixou continua ainda a conciliar e a congregar. Convoca neste momento os seus mais jovens directos descendentes (decerto orgulhosos deste antepassado) e dá-lhes até um maior sentimento de família, e a todos nós convoca.

Retomo as recordações do que chamei o meu convívio póstumo com ele e evoco o encontro tão determinante para mim, com a sua biblioteca, onde estavam quase todos os livros publicados pela revista Seara Nova, além da própria revista, que ele assinava; as edições pedagógicas de Agostinho da Silva, as revista literárias, Águia, Portucale, O Diabo, Sol-Nascente, Vértice, e, sobressaindo entre tudo mais, os seis volumes dos Ensaios de António Sérgio que fui lendo deslumbrado, muito particularmente, para começar,  os ensaios literários  sobre Junqueiro,  sobre a lírica de Camões, sobre o padre Vieira e  sobre Eça de Queiroz, que viria mais tarde a ser objecto do meu trabalho fundamental. No I volume dos Ensaios, de 1946, ele deve ter lido estas palavras de António Sérgio sobre o poverello: «Francisco de Assis, para nós, é um dos píncaros mais elevados a que subiu o génio moral dos homens, um dos maiores poetas que jamais existiram, e ainda a encantadora personalidade humaníssima que originou um dos movimentos espirituais mais profundos, - e, demais disso, essencialmente democrático, igualitário, e de certo modo socialista. Até no democratismo, no fraternalismo, o adorável poverello é um dos nossos». Neste «um dos nossos», que António Sérgio refere, podemos igualmente colocar T.C.

É tempo de concluir. Alguns dos seus amigos recordam-no na avenida à beira-rio, à sombra dos plátanos, a recitar Bernardes e Feijó. A memória de Teófilo paira aí, mais viva e mais presente, por ocasião dos poentes outonais que faziam o seu enlevo e nas noites de luar em que cantava amores passados e presentes. Não será pois descabido lembrar-vos cinco versos da poesia que ele proferiu à chegada dos restos mortais de António Feijó a Ponte de Lima, em 1927:

 

«Moço e poeta foi-se… E o Lima, entristecido,
Contou nos salgueirais um rouxinol a menos,

Depois… o rouxinol gelou em terras frias
E a Morte trá-lo agora ao colo, com clemência,
Para o rosal em flor dos seus primeiros dias!...».

 

Palestra proferida na Biblioteca Municipal de Ponte do Lima, em 26 de Março de 2011
Publicada na LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 23, de Junho de 2011

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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