Artigo publicado no semanário “A Aurora do Lima”, Ano 167, n.º 29, de 19 de Agosto de 2021, transcrito, com a devida vénia, pelo Portal “Ponte de Lima Cultural”.
Ricardo de Saavedra, distinto jornalista vianense, acaba de Publicar em 2ª edição, revista e aumentada, nas edições Paulinas, a sua obra intitulada “D. António Ribeiro ‐ Patriarca de Lisboa”.
A 1ª edição desta obra surgiu na Editorial Notícias, por ocasião dos 25 anos de “D. António Ribeiro ‐ Patriarca de Lisboa”. A 2ª edição vem a propósito dos 50 anos que celebraria na mesma condição, se ainda vivesse. Para os meios eclesiásticos e afins, a personalidade eminente de D. António Ribeiro é de incontestável pertinência, particularmente pelo contexto de profundas transformações sociais, culturais e eclesiásticas em que decorreu a sua vida de sacerdote, de bispo e de cardeal, nascido em 1928 e falecido em 1998.
Ricardo de Saavedra e José António Santos não pretenderam biografar a personalidade de D. António Ribeiro. Num excelente trabalho jornalístico, de primorosa redacção, pretenderam, apenas, registar os factos e as características mais marcantes da vida de D. António Ribeiro na função de Patriarca, o seu pensamento, os seus programas de ação, as suas dificuldades, e os resultados da sua ação, no contexto perturbador das décadas de 60/80, do século passado, no interior do mundo eclesiástico, bem como no mundo político e social do País.
Obedecendo aos intentos jornalísticos, a obra, dividida em cinco partes, tem como núcleo fundamental uma longa e pormenorizada entrevista que os dois jornalistas fizeram ao Patriarca. Antecedendo a entrevista introduziram uma resenha dos mais destacáveis acontecimentos biográficos de D. António e um conjunto de testemunhos que sobre ele pronunciaram algumas personalidades, como Adriano Moreira, António Sousa Franco, António Guterres, Mário Soares, Xavier Pintado, um seu antigo secretário, António Costa Pires, e o bispo D. Maurílio de Gouveia, aos quais se juntarão depois os testemunhos de Jorge Sampaio e de D. José Policarpo, imediato sucessor de D. António Ribeiro.
Ganham particular interesse alguns factos em que D. António se viu envolvido, como o imbróglio da sua nomeação para bispo da Beira (Moçambique), que Salazar vetou, complicando as relações já difíceis de Salazar com o Papa Paulo VI, as reuniões secretas do Governo com o Arcebispo de Braga, o papel de mediador que exerceu junto do célebre teólogo Hans Küng, a pedido de Paulo VI, aquando de um sínodo em 1971, os encontros discretos com Mário Soares, antes e depois de 1974, o confronto aberto com a PIDE aquando de célebre vigília da Capela do Rato, as relações institucionais com Marcelo Caetano e o duro confronto com este governante, que “quase perdeu a compostura” ante as provas de que mentira publicamente sobre o massacre do povo de Wiriyamu por tropas portuguesas.
A entrevista ao Patriarca é, porém, a parte mais relevante do livro, pela pertinência das questões que os jornalistas se permitiam levantar, com uma propriedade e um rigor de linguagem muito raros em questões eclesiásticas, por parte de jornalistas laicos.
Esta excelente obra jornalística, na sua natureza de objetiva factualidade, retrata-nos um eminente hierarca católico dos nossos conturbados tempos, nas suas funções hierárquicas, em séria fidelidade modelar às estruturas da Igreja Católica, no seu enquadramento institucional e canónico. Por contraste, facilitará a compreensão de outros modelos de institucionalização cristã, mais consentâneos com os critérios evangélicos e as aspirações humanas.
NR
O texto em presença, da responsabilidade de José Veiga Torres, comporta uma análise que subscrevemos na íntegra, dado o conhecimento que temos da obra em causa. Esta, da responsabilidade de dois ilustres jornalistas, um deles colaborador deste jornal, no qual teve comprovada regularidade com as suas crónicas, apresenta-se como um trabalho audacioso, que situa D. António Ribeiro no patamar elevado no contexto da igreja, de que é bem merecedor.
(*) José Veiga Torres
JOSÉ VEIGA TORRES, natural de Viana do Castelo (1930), é Professor Catedrático Jubilado (2000) da Universidade de Coimbra. Tem formação filosófica e teológica de instituições eclesiásticas, que serviu até 1970, é diplomado pela VI Secção da "École des Hautes Études en Sciences Sociales" (1975), obteve "Maîtrise en Sciences de l'Éducation" na Universidade de Paris VIII (Vincennes - 1975), e obteve (1979) doutoramento "ès Lettres et Sciences Humaines" (Doctorat d'État) pela Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle). Lecionou cadeiras de História Económica e Social e História das Civilizações (1975-2000) na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, de que foi Presidente do seu Conselho Diretivo (1976-1983), Presidente do Conselho Pedagógico (1976-1984) e Presidente do Conselho Científico (1986-1988). Para além de publicação de vários livros e artigos resultantes das suas investigações científicas, após a sua jubilação, publicou um ensaio interrogativo sobre a identidade genuína do "ser cristão", intitulado Ser Cristão? Porquê? Para quê? Que discurso? Que Projecto? (ed. Lápis de Memórias, Coimbra, 2013).
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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