Araújo Soares era um Homem discreto, prestável, solidário, bondoso e mais uns quantos adjetivos, sempre contra os exibicionismos, talentoso e que através das suas obras pretendeu mostrar ao mundo a “riqueza” e identidade cultural de Viana do Castelo. “Riqueza” e identidade cultural essas, que nem sempre foram louvadas, porque Araújo Soares era como ainda hoje se pode constatar “pária” na sua própria terra.
Está e é esquecido.
Tinha admiradores em todo o mundo, tendo criado laços de sólida amizade com quem privava.
Na sua passagem por Moçambique (16 anos), corria o ano de 1965, fez ele a melhor obra-prima da sua vida: Eu!
Nunca esqueceu as suas origens, nunca ninguém mostrou tanto Viana do Castelo e as suas gentes como ele. Estava sempre desejoso de regressar à sua querida terra. Em 1975 regressou definitivamente. Trabalhou na Câmara Municipal de Ponte de Lima, como desenhador e decorador tendo conquistado muitos amigos e muita simpatia; diga-se que ainda hoje, passados quinze anos após a sua “partida”, recebo provas que atestam a lembrança bem viva que dele ainda têm.
O seu fiel companheiro era o bloco de apontamentos, no qual rapidamente efetuava esquissos. Esquissos esses que oferecia com prazer. Fazia-os traço a traço, milhares de traços; era dono de uma técnica “sui generis” que prendia qualquer olhar!
Teve uma vida simples e boa, nunca nos negou nada (mulher e filha), pois éramos os seus pilares, nunca caminhava sozinho, fazia-o sempre acompanhado pela pequena família que ele tanto amava.
Tudo corria tão bem, até que a malfadada doença apareceu na sua vida. Estávamos em meados de 2006, foram seis meses de angústia e aflição. Dada a distância que nos separava tentava vê-lo amiúde. Sempre que tal acontecia, os seus olhos ganhavam um doce brilho, ele era um homem doce apesar do seu aparente ar austero.
A 12/01/2007, às 13.30, o ouro, o mar, os trajes, os pescadores juntaram-se aos pincéis de Araújo Soares, como um dia escreveu Ricardo de Saavedra. As lágrimas que me cobriam o rosto desenharam um arco-íris; o pior arco-íris da minha existência!
A Um Ausente
Tenho razão de sentir saudade
Tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
(Carlos Drummond de Andrade)
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
Sugestões