O pastel do saudoso artista Araújo Soares aqui apresentado é um retrato de uma rapariga da Ilha de Moçambique com a típica máscara de beleza desse local. Tal máscara sempre deslumbrou os visitantes daquela paragem do Índico, e a sensibilidade artística de Araújo Soares, não escapando a esse fascínio, manifesta-se nessa peça que adquiri numa sua exposição realizada em Viana do Castelo. Do diálogo então travado com o artista fiquei conhecedor da sua estada naquela ilha quando participou no restauro do Palácio de S. Paulo, assim como tive ocasião de o informar das minhas visitas-escapadelas àquela pérola do Índico, quando cumpria o Serviço Militar no Hospital Militar de Nampula. Assim se iniciou a nossa amizade.
Os anos passaram e, um dia, quando presidia à Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Ponte de Lima (CMPL), recebi um ofício do IARN com uma lista de retornados das antigas colónias a solicitar emprego. Ao contemplar o nome de Araújo Soares na lista desses infelizes cidadãos, não hesitei em logo o contratar para colaborar no Serviço de Obras da CMPL. Aí, como desenhador e decorador, deixou uma obra útil e artística para a comunidade, a qual ainda hoje perdura. Deste seu legado devo salientar as inúmeras gravuras versando paisagens, costumes, monumentos e gentes da nossa terra, muitas das quais ilustram a última edição dos Anais Municipais de Ponte de Lima revista pelo Dr. António Matos Reis. Na sua tarefa de decorador devo salientar a instalação realizada no bar do restaurante do Monte da Madalena com a reprodução de um painel de uma gravura do Justininho, ornamento que, lamentavelmente, sofreu há pouco destruição completa.
Recordo a alegria do artista quando lhe sugeri a criação de um projecto para a instalação do painel de azulejos na Fonte da Vila com o poema “O Amor e o Tempo” de António Feijó, trabalho no qual se esmerou no desenho da respectiva moldura.
Algum tempo depois de ter terminado o seu emprego na CMPL, convidei-o para elaborar outro painel de azulejos, este destinado a decorar a Farmácia de S. João, da qual era proprietária e directora técnica a minha saudosa irmã Lídia. O tema a ilustrar seria o constante numas páginas do Almanaque de Ponte de Lima de 1933, da autoria do Dr. Joaquim de Azevedo Medeiros Lima, uma hilariante recordação da mocidade de António Feijó passada nessa farmácia centenária. Quando depois contemplei o cartão, deslumbrou-me não só a mestria do desenho, mas ainda o talento evidenciado pelo artista ao transpor para a composição todos os pormenores do texto, não faltando mesmo o célebre banco utilizado por António Feijó nas tertúlias da botica, uma relíquia que ainda hoje lá se encontra.
Espero que a pequena ajuda deste apontamento possa contribuir para a merecida homenagem que o Portal Ponte de Lima Cultural planeia prestar ao saudoso pintor Araújo Soares. E uma das melhores vias é, sem dúvida, este “site” que em boa hora foi criado para dignificar Ponte de Lima.
Para saber mais sobre o Azulejo da Farmácia de S. João, em Ponte de Lima, clique AQUI
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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