Conheci o Dantas Lima como encenador, em finais dos anos 90, quando o meu pai, José António Gomes, integrava o Grupo de Teatro Amador da Casa do Povo de Freixo.
Nessa altura, sendo eu uma criança, era ainda muito prematuro fazer qualquer previsão do que se viria a revelar a minha profissão uns anos depois. Mas lembro-me dos ensaios tardios dirigidos por ele que me faziam ansiar pela chegada do fim de semana, quando acompanhava o meu pai. Ao longo de vários anos, deram-me a oportunidade, sem se aperceberem, de conhecer um mundo que me deslumbrava e que me instigava a percepcionar a realidade de forma completamente diferente. O prazer de ver actores amadores, e entre eles o meu pai, a explorarem situações inimagináveis no contexto do quotidiano e a possibilidade de serem o que quisessem em cena, permitiu-me aceder a lugares da imaginação que até à data nunca tinha alcançado.
Essa vontade de criar e de “fugir” à dita normalidade esteve presente ao longo de toda a minha infância e juventude. Aos 14 anos, corria o ano de 2006, decidi integrar o mesmo grupo de teatro que o meu pai tinha deixado há uns anos, onde voltei a encontrar o Dantas Lima, que viria a ser o meu primeiro encenador.
Nesses quatro anos de aprendizagem recordo-o como alguém capaz de promover a liberdade criativa e o prazer de fazer teatro a um grupo de jovens adolescentes. Apesar da imaturidade, aprendemos com ele que, mesmo num contexto amador, o trabalho desenvolvido ao longo dos ensaios deveria ser feito com dedicação e exigência. Foram algumas as chamadas de atenção que me fez a mim e aos meus colegas, que pela inexperiência e agitação, fruto da idade, já se faziam prever. Mas em maior escala as palavras de motivação e gargalhadas partilhadas connosco ao longo dos anos.
Lembro-me que num ensaio para o espectáculo “O Auto do Curandeiro” de António Aleixo, em 2008, o Dantas dirigiu-me e pediu para reformular todas as propostas ao longo de uma hora, o que naquele momento me pareceu interminável. Apesar da frustração que sentia por não conseguir “cumprir” as direções do que me era exigido no momento, ele nunca desistiu e impeliu-me a tentar mais uma e outra vez, até que, por fim, algo começou a fazer sentido. Foi a primeira vez que me senti completamente “livre” e nesse momento tive a consciência de que o trabalho árduo era, sem dúvida, a força motriz para a evolução.
A partir deste momento, e com a direção exigente e precisa do Dantas, comecei a perceber que “representar” era para mim a forma mais natural de libertação e capacidade criativa.
Não demorou muito até ter a certeza que esse seria o meu caminho e lembro-me de lhe pedir alguns conselhos, com a vergonha de quem não sabe se será capaz de enfrentar um novo desafio, antes de concorrer ao Conservatório de Teatro.
Entrei. E hoje como actor profissional, apesar das dificuldades inerentes ao trabalho artístico em Portugal, sinto-me um felizardo por ter tido a oportunidade de seguir este caminho que se deve também, e com toda a certeza, ao Dantas Lima. Ele mostrou-me que é possível sonhar e concretizar alguns dos nossos desejos mais profundos. Com ele aprendi a amar o Teatro, que é hoje parte fundamental da minha vida.
Obrigado.
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