Apresentação do livro “Memórias de uma Guerra” na Casa do Concelho de Ponte de Lima, em Lisboa, por António Salavessa da Costa

 

Apresentação do livro “Memórias de uma Guerra” na Casa do Concelho de Ponte de Lima, em Lisboa, por António Salavessa da Costa



António Salavessa da Costa
Licenciado em Ciências Militares
Membro do Governo de Macau de 1991 a 1999, onde exerceu as funções de Secretário Adjunto para a Comunicação, Turismo e Cultura



Eu, Beirão da Beira Baixa, das Terras de Castelo Branco, sinto honra e prazer em estar aqui entre Limianos. Agradeço o vosso convite para apresentar o livro, a obra literária do vosso conterrâneo João Hilário Gonçalves Lima sobre a sua vida militar e, principalmente, sobre a sua presença pelas longínquas terras de Moçambique nos anos da Guerra, entre 1970 e 1972.

À Obra foi dado o título de Memórias de uma Guerra - Moçambique 1970/72 e vamos tentar apresentá-la pelo que dela nos ficou após a sua leitura.

Estamos aqui porque gostamos de Ponte de Lima e por respeito e gratidão ao autor da Obra – João Hilário Lima –, ao Militar que serviu a sua Pátria, a sua Nação, o seu Povo, que serviu Portugal por dever e obrigação e que teve a coragem e a ousadia de ir ao baú das suas memórias lembrar o passado sem melancolia ou saudade, mas com a sabedoria da maturidade, e escrever e impor ao papel em branco um sinal permanente, passando às letras, às frases, à escrita, as lembranças e os sentimentos de parte da sua viagem por este mundo, de parte importante dessa viagem – os tempos em que foi Soldado de Portugal por terras de África.

Podemos considerar a obra literária “Memórias de uma Guerra - Moçambique 1970/72”, como uma quase raridade no conjunto das obras por muitos escritas sobre a Guerra do Ultramar, em que a Poesia aparece associada à fotografia. É, simultaneamente, uma obra poética e um álbum fotográfico, escrita em poesia de rigor métrico de 300 quadras relatando em versos a vida e a epopeia militar do autor. É uma colectânea poética basicamente narrativa, de descrições dinâmicas, mas também lírica e sentimental em que, e muitas vezes, há o transbordar espontâneo de sentimentos intensos e profundos como o Amor de Mãe, o Amor à Pátria, a Amizade, a Tristeza, a Alegria, a Incerteza, e até a Revolta e a Incompreensão.

Estamos na realidade na presença de um livro notável de poesias que tem a sua origem na emoção recordada num clima de tranquilidade, e que foi feito por alguém que, gostando da vida, gosta do passado, porque, por certo, o considera presente tal como sobreviveu na sua memória.

Ao ler este livro, e face à narrativa elaborada de forma dinâmica e cronológica, sentimo-nos como que estando a assistir a um filme, onde, mesmo sem as fotografias publicadas, conseguimos construir na nossa imaginação as imagens e os momentos aí narrados, situação esta que adquire maior realidade para nós e para todos quantos também por lá andaram nas matas e picadas africanas.

Que belo filme é este livro, tão belo que nos fez lembrar a forma de escrever e narrar de Luís Vaz de Camões, isto, está claro, sem entrar no campo das comparações, até porque isso seria um “sacrilégio”. É incomparável o nosso Poeta, o nosso Épico, que escreveu os seus Lusíadas segundo determinados planos temáticos – o da Viagem, o da História de Portugal, o Poético, o da Mitologia. São planos que, está claro, de forma empírica, podemos descortinar no Livro do João Hilário quando de forma simples escreve a “Sua Viagem”, quando se refere a si mesmo enquanto poeta e pessoa de sentimentos, e se manifesta admirador do Povo Português e dos Heróis de Portugal.

Este livro, esta obra poética, é sem dúvida a narrativa de uma viagem, mas na mesma podemos considerar a existência de duas viagens: a viagem por situações, momentos e lugares, e a viagem pelos sentimentos. Pelo que se pode considerar um filme de dois episódios, que não decorrem isoladamente mas em simultâneo. É um filme a ser visto em dois écrans separados mas ao mesmo tempo.

A minha sincera homenagem a Ponte de Lima e às suas gentes que erigiu em 1996 um dos primeiros monumentos em honra dos seus combatentes nas terras do Ultramar, homenagem essa repetida em Agosto de 2013. Também a minha sincera gratidão à Revista Limiana que em Abril deste ano abriu as suas páginas em memória de todos os Limianos que ofereceram à sua Pátria a própria vida por terras africanas. Os seus nomes, as suas fotos, as suas histórias pessoais, lá constam e perdurarão escritas para todo o sempre.

Parabéns ao limiano João Hilário Lima pela sua Obra. E vos digo que ele é digno de figurar ao lado de tantos outros limianos e minhotos que têm honrado a sua terra com a sua escrita e a sua poesia.

A vós, aqui presentes nesta sala, vos aconselho a ler o livro “Memórias de uma Guerra” de uma assentada, o que vai ser fácil, pela forma como está escrito. Vivam a viagem por lugares e situações e a viagem pelos sentimentos. É nestes, nos sentimentos, que o Homem deve procurar a sua liberdade, pois, como disse um dia Mário Quintana, “Somos donos dos nossos actos, mas não somos donos dos nossos sentimentos. Somos culpados pelo que fazemos, mas não somos culpados pelo que sentimos. Actos são pássaros engaiolados, Sentimentos são pássaros a voar.”

Depois de lerem a obra uma vez, voltem à leitura e apreciem o lirismo e o lado épico do texto e do autor.

 

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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