Diogo Bernardes – nome cimeiro da literatura portuguesa, por José Cândido de Oliveira Martins

 

Diogo Bernardes – nome cimeiro da literatura portuguesa, por José Cândido de Oliveira Martins




Diogo Bernardes (c. 1530 – c. 1596) é, consabidamente, natural de Ponte da Barca e contemporâneo quinhentista de Luís de Camões, sendo um nome cimeiro da literatura portuguesa. Durante algum tempo, ainda se sustentou a ideia de o poeta ser natural de Ponte de Lima. Porém, estudos vários demonstraram, de modo inequívoco, ter nascido em Ponte da Barca.

Bernardes foi muito jovem para a corte, voltando ao Minho em várias ocasiões, como após a nomeação como tabelião das terras da Nóbrega. Chegou a desempenhar a função de moço de câmara de D. Sebastião. Acompanhou o monarca como poeta oficial na infeliz batalha de Alcácer-Quibir (1578), sofrendo as penas do cativeiro.

Regressado à pátria foi recompensado pelos seus serviços, por exemplo com a atribuição de uma tença régia anual; e a sua poesia não deixará de expressar o drama dessa vivência africana, bem como as dificuldades por que passou. É irmão de outro apreciável poeta, o arrábido Frei Agostinho da Cruz.

Diogo Bernardes é sobretudo um poeta maior da nossa poesia renascentista e maneirista, sobretudo nas tendências de um lirismo bucólico, elegíaco e religioso da segunda metade do séc. XVI. Reconhecer o valor de Diogo Bernardes como autor clássico, é um dos desafios culturais que se impõe aos leitores de hoje, mesmo para os não especialistas

Nos vários géneros cultivados (sonetos, éclogas, cartas, cantigas, vilancetes, etc.), Diogo Bernardes seguiu de perto os modelos clássicos de Horácio, Virgílio ou Ovídio; bem como a doutrina e o exemplo dos modernos, quer estrangeiros (Petrarca, Sannazzaro, Boscán, Garcilaso), quer portugueses (Sá de Miranda, António Ferreira ou Camões). Um escritor e crítico do barroco seiscentista, D. Francisco Manuel de Melo, escreverá elogiosamente que “não se viu Musa mais mimosa” nas letras portuguesas.

De tal modo se afirmou a singular qualidade estética da sua obra que várias das suas composições poéticas – pela sua apreciável beleza melodiosa e doce do lirismo do poeta do Lima – chegaram a ser atribuídas a outros contemporâneos, em vários cancioneiros e edições, como a de Luís de Camões e de outros poetas.

Daí ter surgido a conclusão precipitada de que Diogo Bernardes se apropriara indevidamente de textos de outros autores, quando o que aconteceu foi exactamente o contrário. Hoje, essa infundada acusação está explicada, sobretudo no intrincado processo de constituição do cânone camoniano.

A nós, leitores contemporâneos, resta-nos o enorme prazer de apreciar a poesia bucólica, amorosa e religiosa do aclamado cantor do Lima.

In: LIMIANA – Revista de Informação, Cultura e Turismo n.º 15, de Dezembro de 2009

Ponte de Lima no Mapa

Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.

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