Tive a honra de conhecer o Diplomata João de Sá Coutinho Rebelo Sotto Maior em princípios de 1962, por intermédio do jornalista Mauro Santayana, que juntamente com sua esposa Wânia, também jornalista, tinham uma relação de amizade com o Cônsul e sua esposa.
Em meados do ano de 1962 foi realizado no Centro da Colônia Portuguesa, clube que reúne a comunidade portuguesa em Belo Horizonte, uma palestra sobre Literatura Portuguesa, à qual compareci. Nessa oportunidade, fui apresentado a um jovem senhor, alguns anos mais velho do que eu, extremamente gentil e que fiquei sabendo ser o Cônsul de Portugal no Estado de Minas Gerais. Impressionou-me a forma gentil e cavalheiresca de seu modo de tratar as pessoas, dando a cada um tratamento que pareceria especial a cada pessoa. Na verdade, era sua maneira normal de agir. Chamava a atenção a figura elegante, que logo mostrava não estar ali uma pessoa comum, mas um homem refinado, nobre, na completa acepção do termo.
O Consulado de Portugal situava-se na Avenida Amazonas, muito perto da Praça Sete de Setembro, bem no centro da cidade de Belo Horizonte, Capital do Estado de Minas Gerais, à época uma cidade muito pequena onde as pessoas se encontravam com facilidade. Nessa praça havia uma livraria, Atenas chamada, de propriedade de um livreiro português, muito frequentada por intelectuais, professores, jornalistas, universitários e eu, algumas vezes às tardes, ao sair da Faculdade, encontrava ali o Cônsul, a folhear livros ou conversar com alguns frequentadores, alguns portugueses. Às vezes eu falava e ele parecia se divertir quando me perguntava sobre alguma expressão idiomática, uma expressão regional ou mesmo uma "gíria".
Certa vez, um funcionário do Consulado, Sr. Otacílio, me chamou à parte e me disse que aquele homem elegante e simples, Cônsul de Portugal em Minas Gerais e que eu chamava tão naturalmente de João, pertencia a uma antiga e nobre família portuguesa e que possuía um título nobiliárquico. Mas o estrago já estava feito, eu continuei a chamá-lo simplesmente de João. Ele parecia não se importar com isso e parecia até que se divertia com essa informalidade brasileira. Curioso sobre as coisas do Brasil, perguntava muito e eu respondia na medida de meus conhecimentos. Mas nossas conversas na Livraria Atenas terminavam sempre nos Lusíadas.
Uma única vez, não sei mais por qual motivo, fui ao Consulado de Portugal em Minas Gerais.
Em 1964, devido ao vendaval político que assolou o Brasil, julgamos melhor não causar constrangimentos ao Cônsul e nos afastamos. Eu fui para outra cidade, o jornalista Mauro Santayana e sua esposa Wânia se auto exilaram na França. Nunca mais revi meu amigo e só fui ter notícias dele muitos anos depois, infelizmente, triste noticia.
Breve nota autobiográfica de Danilo Aguilar Ferreira Aguilar
Nasci a 9 de janeiro do ano de 1942 na cidade de Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, Estado que fica no centro do Brasil e que possui cidades históricas, como Ouro Preto, considerada Patrimônio Cultural da Humanidade, com forte presença portuguesa.
Fiz meus estudos, primário e secundário, no Colégio Estadual de Minas Gerais e graduei-me na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, graduado em Ciências Contábeis e Administrativas, com especialização em Auditoria de Instituições Financeiras.
Jovem, ingressei no Partido Político MDB-Movimento Democrático Brasileiro, partido que fazia oposição parlamentar moderada ao regime de força que se instalou no Brasil, a partir de 1964
Tive participação modestíssima na luta de meu povo na reconstrução da Democracia, objetivo que alcançamos após 21 anos de sacrifícios.
Apesar disso, fui admitido, através de concurso público, em um Banco Oficial do governo brasileiro, o BNH-Banco Nacional da Habitação e mais tarde transferido para outro banco oficial, a Caixa Econômica Federal.
Em minhas funções de Auditor, viajei por todo o Brasil, trabalhando também em Brasília e no Rio de Janeiro.
Fui também professor de Contabilidade Pública no IMACO – Instituto Municipal de Adminstração e Contabilidade, mas devido às constantes viagens de trabalho, não pude me dedicar ao magistério, coisa que muito me contrariou, pois gostava muito de ensinar.
Aposentei-me há exatos 12 anos, por motivo de saúde.
Sou casado há 43 com Ana Maria Aguilar Ferreira, tenho três filhos e dois netos.
Atualmente passo a maior parte de meu tempo em minha biblioteca, com destaque especial para obras da literatura portuguesa e também brincando com meus netos, que adoçam o outono de minha vida.
Agradeço a gentil acolhida e envio um fraternal abraço aos meus irmãos portugueses.
Ponte de Lima no Mapa
Ponte de Lima é uma vila histórica do Norte de Portugal, mais antiga que a própria nacionalidade portuguesa. Foi fundada por Carta de Foral de 4 de Março de 1125, outorgada pela Rainha D. Teresa, que fez Vila o então Lugar de Ponte, localizado na margem esquerda do Rio Lima, junto à ponte construída pelos Romanos no século I, no tempo do Imperador Augusto. Segundo o Historiador António Matos Reis, o nascimento de Ponte de Lima está intimamente ligado ao nascimento de Portugal, inserindo-se nos planos de autonomia do Condado Portucalense prosseguidos por D. Teresa, através da criação de novos municípios. Herdeira e continuadora de um rico passado histórico, Ponte de Lima orgulha-se de possuir um valioso património histórico-cultural, que este portal se propõe promover e divulgar.
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